segunda-feira, 31 de agosto de 2009

PAULO TARSO E OS POEMAS DE AÇO

Renivaldo Costa, Prof. Mnhoz, Fernando Canto e Paulo Tarso no Encontro dos Artistas Plásticos de 08/05/2009.

Republico este texto em homenagem ao meu amigo Paulo Tarso que aniversariou no dia 29/08. Desejo muitas felicidades e sucesso a esta grande expressão literária do Amapá.


Há exatamente 22 anos tive o privilégio de apresentar o livro "Poemas de Aço" do então jovem e talentoso poeta Paulo Tarso. Eu dizia que "apresentar um poeta, um livro de poesia ao público, é um trabalho de responsabilidade, sobretudo em Macapá, onde os movimentos literários não são tão intensos, mas a crítica é feroz e ávida por novos escritos. A isto se justifica a constante luta dos autores que batalham para ver os seus trabalhos publicados, em que pesem as distorções e a pressa de alguns mais afoitos, que trazem no que escrevem uma carga muito grande de falta de qualidade, de experiência de vida e de vivência literária.


Como autor, garanto que não é tão fácil propor um trabalho que venha a ter imediata aceitação ou que os caminhos percorridos desde a concepção dos versos ou da prosa foram perfumados, e que não tiveram obstáculos de alguma origem.


Não obstante o passado recente, quando a censura cerceava criações artísticas de alto nível, os artistas não se intimidaram e foram á luta, desatrelando-se daquilo que podia tê-los como um compromisso histórico, com homens e regime espúrio. Daí é que com a mudança do sistema político, muita coisa também mudou. Horizontes se descortinaram e, apesar das dificuldades do estado gerir não mais por si só a questão cultural, entramos numa nova época onde já se percebe um maior entrosamento dos setores governamentais com a classe artística e com os movimentos populares. Á luz da idéia de que a arte vem do povo clareou e assim o leme do barco tomou um rumo diferente, mesmo que saibamos que ainda navegamos em meandros.


Vinda do povo, da sua atávica sabedoria e das suas entranhas, a poesia não só nasce da linguagem como vive do aprimoramento desta e que por si só representa, também, o pensamento de muitos mesmo que hermética para alguns.


Mas apresentar Paulo tarso Barros para mim não só é responsabilidade, é motivo de orgulho, pois a sua humildade e talento coalescem, fundem-se como o aço derretido que endureceu seus poemas há tempos, desde a adolescência na terra de Gonçalves Dias e Ferreira Gullar, de onde veio para enriquecer mais, como outros, a literatura aqui produzida.


Natural de Vitória do Mearim, onde nasceu a 29 de agosto de 1961, lá estudou e participou da sua vida política e cultural, escrevendo peças teatrais, letras de músicas, literatura de cordel e contos. Publicou seus primeiros trabalhos em jornais de São Luís e de sua cidade. Em 1981 mudou-se para Macapá e aqui trabalhou no comércio, tendo estudado no Colégio Amapaense. Colaborou com poesias, contos e crônicas em jornais locais e em março de 1986, publicou sua primeira coletânea de poemas intitulada No Dentro de Mim, que recebeu ótima aceitação dos leitores e da crítica de seu estado e de Macapá.


Sobre "Poemas de Aço" talvez não seja necessário dizer que é um livro forte, poema que "vem da oficina metálica", no dizer do autor. É um trabalho filosófico e maduro. Nele, Paulo Tarso não sintetiza, expande o mais virtual gesto operário para uma situação universal, tangendo a sofreguidão e a angústia de quem faz algo útil, de quem trabalha num afinado canto proletário, cavando a profundeza dos dias. Por ser social, logo abrangente, a poesia deste nordestino que às vezes reclama de solidão se descreve atônita ao sentir um novo mundo ou "apenas um rosto". Dono de uma sensibilidade admirável o poeta diz que "Em todos os amanheceres menores somos". E, por ter a certeza que de que "não entregará sua vida para um abismo qualquer, poderá deslanchar futuramente como um escritor de grande valor, pois não procura desesperadamente caminhos, mas ensina por veredas diversas que há um destino a ser encontrado".

TORCEDOR DO SÃO JOSÉ

A festa dos 63 anos do São José na quarta-feira passada foi mais um congraçamento entre cartolas, atletas e torcedores, categoria esta em que me situo com muito orgulho.

Laguinense que sou muitas vezes acompanhei o Sanjusa assistindo seus jogos no Glicerão e os treinos no campo da sede dos Escoteiros do Laguinho, sob o comando do Chefe Humberto Dias. Eu me dividia entre o violão e a bola, pois cheguei a jogar no Flamenguinho, time de adolescentes incentivado pelo saudoso "Seu Lima", um empresário maranhense apaixonado por futebol e morador do nosso bairro. Desse time saíram muitos craques que seguiram seus sonhos em outras agremiações.


O aniversário do clube contou com a presença maciça da imprensa e de torcedores que hoje integram a ala de quem não perde um jogo sequer; uma galera jovem que tem o compromisso de levar aonde o time for a garra e a vontade de vencer e mostrar aos adversários a cultura do Laguinho. O clube inovou ao levar o Marabaixo para os estádios e mostrar a pujança cultural do bairro. A garotada comparece e prestigia o Mais Querido. Uns "se mandam" do Jardim Felicidade e do Novo Horizonte de bicicleta, atravessando a cidade.


Mas no meu tempo a maioria dos torcedores era constituída de adultos. E ninguém ia ao estádio por não ter o que fazer aos domingos, apesar da televisão estar chegando a Macapá. O "campo" ficava cheio, principalmente quando vinha jogar um clube de fora. Muito time metido a bom pegava "peia" quando encontrava pela frente craques como Orlando Cardoso (Currú), Alceu, Moacyr Banhos, Odilon, Zé Roberto (no gol), Macaco Pennafort, Timbó entre outros, que se agigantavam nas partidas e recebiam os aplausos carinhosos dos torcedores.


Em um desses jogos, por não ter dinheiro para o ingresso, acabei fazendo o que não devia: tentei "furar" por cima do muro com o auxílio de outros penetras sem dinheiro, que faziam uma espécie de escada humana pelo lado de fora do muro. Na minha vez olhei para um lado e para outro e vi que a "barra" estava "limpa", como se dizia na época. Fiz mais um rápido esforço e pulei. De repente eu vi surgirem do nada dois guardas territoriais (Acho eu!) que me pegaram e me levaram para a antiga "Permanência de Polícia", no Trem, onde fiquei "detido". Essa palavra em nada suavizava a minha apreensão de estar lá dentro e sem saber o resultado do jogo contra o Remo. Só lá pela meia-noite, quando trocou o plantão do delegado, foi que me mandaram para casa. Fui embora à pé, pela ladeira da Eliezer Levy, muito invocado e jogando fósforo aceso nos cães do Trem, que rosnavam ferozes, tentando me atacar.


Próximo ao cemitério encontrei o velho poeta Galego, seu primo Julinho e o pintor Olivar Cunha. Vinham com um violão secando uma "meiota" de Cantagalo. Tinham mais umas duas garrafas na sacola e uma porção de cajus. Pedi um holywood e segui com eles até ao trapiche municipal, onde não fomos incomodados por cantar nossos protestos contra a ditadura e nem pelo Julinho soltar a voz interpretando os Beatles para os peixes e as ondas do rio. Até hoje eu nunca soube o resultado do jogo. Mas continuei torcendo pelo Sanjusa.


O aniversário do São José proporcionou um tipo de encontro meio nostálgico, desses em que surgem saborosas histórias, fatos inesquecíveis e lembranças que contam a história de sucesso do clube.


Antigos jogadores são personagens vivas que desfilam com suas glórias e encantam a todos com um gosto telúrico e um orgulho inebriante. São os verdadeiros heróis do passado que sem dúvida sabem que são reconhecidos e valorizados pelos que agora surgem.


Embora haja essa valorização, é necessário levar em conta que precisamos estar mais perto do Clube, torcer mais, vestir a camisa e não trocá-la por times de outros estados em detrimento do nosso futebol. Vicente Cruz, presidente e ex-jogador do Clube tem razão: parece que somos colonizados pela mídia. Então precisamos mostrar nossa cara e nosso amor pelo clube para fazer ressurgir o nosso verdadeiro futebol. Vamos lá, torcedor! Vista a camisa do Sanjusa!

Publicado no jornal "A Gazeta", de domingo, 30/08/2009

sábado, 29 de agosto de 2009

COLUNA CANTO DA AMAZÔNIA

Publicada no Jornal "A Gazeta", 28/08/2009

Patrícia Bastos, no "Encontro" de Osmar Jr. e Aimoré Batista. (Foto: Sônia Canto)

CABOCLOS E CABOCAS

A gente se acostumou a usar as palavras indígenas metendo sempre um "r" no meio para corrompê-la na sua origem. E assim chamamos tracuá (para taraquá, espécie de formiga), traíra (taraíra, peixe de água doce). Os portugueses colocaram um "l" no meio da palavra caboclo, que ficou meio feinha, mesmo assim ela não perdeu o significado original.
O termo veio à tona por causa da gravação do CD "Eu sou Caboca", música de Celso Viáfora interpretada pela cantora Patrícia Bastos, a ser lançado no próximo dia 03 de setembro.


CABOCLOS E CABOCAS 2
Há muitas interpretações sobre a palavra: uns dizem que vem de caá, que significa mato em tupi, em aglutinação com boc, que quer dizer tirado do (buraco, cova, boque), outros que vem do tupi "kari'boka, significando "procedente do branco", mestiço de branco com índio. Antonio Geraldo Cunha informa que é bastante controvertida a etimologia dessa palavra. Ela sofreu variações desde a colonização do Brasil. Vem de curiboca (kari'uoka), por sua vez kari'yua, "homem branco" + oka "casa".
Segundo o autor citado, ao se admitir que proceda do étimo tupi ("kari'uoka), a cadeia evolutiva da palavra ocorre assim: cariboca, coriboca, coriboco, cobocoro, cabocoro, cabocolo e finalmente caboclo.

O autor informa ainda que "nos elos dessa cadeia evolutiva, as formas estão todas documentadas em textos portugueses, embora não obedeçam, rigorosamente, à cronologia". A forma atual, "caboclo", ocorre pela primeira vez em 1781 no poema épico "Caramuru" de Santa Rita Durão (I. lXXVII, 34) "Tal do Caboclo foi a fúria infanda/ E o fanatismo, que a mente o cega,/ Faz que tendo essa acção por veneranda, / Invoque o grão Tupã, que o raio emprega".

CABOCLOS E CABOCAS 3

Mas caboclo mesmo é mestiço de branco com índia; homem do sertão, de hábitos rudes e pele queimada pelo sol. É aquele que vem do mato e que tem a floresta como seu habitat. É aquele que a gente chama mesmo de "caboco".

E a caboca Patrícia conhece como poucos a selva dos cantares. Sucesso!

PRÊMIO FINEP

Até dia 10 de setembro estarão abertas as inscrições para a 12ª edição do Prêmio FINEP de Inovação, destinado a empresas e instituições de pesquisa, ONGs e inventores.

São 29 milhões de reais em financiamentos pré-aprovados pelo FINEP, divididos entre os vencedores das etapas regionais e nacional. E seis são as categorias que podem se inscrever: Micro/pequenas Empresas, Média Empresa, Grande Empresa, Instituição de Ciência e Tecnologia, Tecnologia Social e Inventor Inovador.



MANECA NA SEAFRO

Ao ser convidado pela terceira vez para assumir a Secretaria Especial dos Afrodescendentes, na terça-feira passada o professor Manoel Azevedo, Mestrando em Desenvolvimento Regional pela UNIFAP, resolveu aceitar o pedido de Waldez Góes.
Profissional considerado, Maneca vai encampar a luta dos negros amapaenses construindo projetos de envergadura, após transformar a jitinha secretaria em um órgão capaz de implantar as determinações do Governo Federal. Nesse meio estão os problemas de ordem fundiária dos Quilombolas e a aplicação da Lei que torna obrigatório o ensino da História afro-brasileira nas escolas. No mais o segmento precisa de ações afirmativas, mais operantes e fortes. Boa sorte, Maneca.



ZUNIDOR

De 03 a 05 de setembro ocorre o famoso Festival de Música de Itacoatiara, no Amazonas. É a edição de nº 25, revelando talentos musicais da Amazônia./ Será transmitido pela Amazon Sat./ A colombiana Medellin, que usa o slogan "una ciudad en la que el mundo cree", vai realizar em outubro de 2010 a VII BIAU – Bienal Iberoamericana de Arquitectura y Urbanismo. O evento vem sendo preparado e divulgado com mais de um ano de antecedência. Quem quiser se habilitar deve acessar o site www.culturayturismomedellin.com./ Beto Oscar, Helder Brandão, Lula Jerônimo e Sergio Sales preparam show musical "Canto Caboclo" para meados de outubro no Bacabeiras./ O Instituto de Música Oscar Santos, que abrigou os músicos do Pará que aqui estiveram para participar do II Festival de Música Instrumental do Amapá, deverá recomeçar suas atividades ainda este ano./ Falta apenas alguns acertos legais para decolar. O trabalho será organizado pela diretoria do Instituto composta pelos netos do MO./ Como havíamos adiantado há três semanas o cantor/compositor Nivito se apresenta dia 03 no Projeto ¼ de Música do Margarida Schiwazzappa, em Belém. Sucesso, parceiro./ Finéas, da banda Amazon Music, simplesmente feliz com os resultados do Fesminap, após um monte de sufoco de última hora que quase inviabiliza o sonho./ Músicos do Pará como Nego Nelson e Daniel de La Touche esbanjaram talento e ainda deram uma palinha no Norte das Águas, juntos com músicos daqui./ Falaram que no Pará não tem esse tipo de festival. / Na onda estavam lá o Olympio Guarani, Fernando Bedran, João Henrique, Bruno e André Mont'Alverne e Júlia Canto, que já voltou para os States, onde estuda Design de Interiores em Denver, Colorado. / É hoje, a segunda eliminatória do Festival SESI Música 2009, no Malocão daquele órgão, que terá a participação do cantor Zé Miguel (Meu Endereço)./ Bela festa de aniversário do meu time São Jusa. Parabéns ao Heraldo Almeida pelos seus quaraquaquá no próximo dia 03./ Hoje também acontece o Seminário "O SESC na dinâmica cultural do País", às 18h00 no auditório do SEBRAE./ Vem aí o livro "Adoradores do Sol". / Inderê! Volto zunindo na Sexta.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

ITINERÂNCIAS & ENCONTROADAS


A TELA ESCONDIDA
Há um quadro do pintor Estêvão da Silva “guardado” na cozinha do Bar do Abreu. Foi pintada por encomenda há uns seis anos e fica atrás de uma geladeira. Não sei por que o Ronaldo não a coloca no salão do bar. Acho que é pra ele e o Marquinhos não se “gastarem” com o tempo. Os dois são torcedores do São José, mas como bons paraenses torcem pelo Pyssandu.


GRIFFE "SUÍNA"
Tica Lemos faz a propaganda de sua grife até com pilotos da FAB. Um cara foi criticá-la, mas vestia uma camisa velha e suja. Disseram a ele: - Lai vem tu falar mal da grife da Tica, ainda mais com essa camisa. Vai ver que tu só veste roupa da “griffe suína”.


MAIS QUERIDO
Mosaico de São José na sede do Mais Querido do Estado do Amapá.

CENAS DO ANIVERSÁRIO DO SANJUSA

26/08/2009
Presidente Vicente Cruz tem por meta a construção do Centro de treinamento, incentivar o amor pelo clube mais querido e aumentar a torcida.

Francisco Lino e Sérgio

Os compositores Fernando Canto, Ademir do Cavaco e Francisco Lino


Humberto Moreira, Vagner Pantoja (vice-presidente) e Alceu Filho


Fernando Canto, Alceu Filho, Humberto Moreira e Vicente Cruz


J. Ney ao cumprimentar a Diretoria aclamada


O ídolo tricolor Alceu Filho falando em nome dos veteranos

FLORES APRISIONADAS

Foto: Fernando Canto

Se você nunca viu flores cativas num jardim, eu já vi. É um jardim triste onde as plantas vivem dentro de uma grade de ferro pintada de branco. O branco, segundo o Feng Shui, usado em demasia, deixa a sensação de infinito, frieza, vazio e hostilidade. E assim eu vi aquelas grades oprimindo flores vermelhas, hostis para com elas, frias para mim, que caminhava assobiando sob o sol de Macapá num dia qualquer da semana. Um paradoxo, pensei, aquela história absurda em pleno bairro do Laguinho, onde experimentei tantas angústias e poetizei o voo dos periquitos que enfeitavam as tardes de minha infância, esverdeando o caminho traçado nos céus. Um paradoxo duro de roer, pois como alguém poderia prender flores, torturá-las em um jardim e mesmo assim regá-las para que vivessem. Isso mesmo. Passei outro dia lá e as flores medravam e viçavam dentro da prisão, mas não podiam passar da grade de ferro branca.


Não sei qual crime cometeram nem por quem foram condenadas a essa cruel pena. Talvez fosse por um motivo muito particular, desses que a gente procura entender, mas não entende. Coisas da natureza humana que só compreendemos quando vivemos um fato semelhante e o avaliamos no nosso limite de compreensão.


Julguei que aquele ato poderia ser uma forma de chamar a atenção de quem passasse, assim como eu, porque homem que sou, julgo. Tenho ideias sobre as coisas e faço juízo de valor criticando o que avisto para me posicionar ideologicamente no tempo. E no espaço a que pertenço sou julgado também, como as coisas, cotidianamente. Depois achei que prenderam as flores para protegê-las da fúria ensandecida de pessoas que destroem o que veem, dos iconoclastas e vândalos que não podem ver nada bonito sem destruir ou mutilar. Ora, tantas vezes vi madames descendo de seus carros para arrancar e levar das praças pés de plantas ornamentais e flores carinhosamente plantadas pelos jardineiros municipais.


As flores são admiradas vivas e mortas. Sua efemeridade exorta a condição da duração da vida e dos prazeres; representa a instabilidade essencial da criatura em perpétua evolução, por ser também, símbolo do caráter fugidio da beleza. O simbolismo floral é vasto. São João da Cruz faz da flor a imagem das virtudes da alma, e do ramalhete que as reúne a imagem da perfeição espiritual. A flor também é o símbolo do amor e da harmonia que caracterizam a natureza primordial e identifica-se ao simbolismo da infância. Na arte japonesa, a ikebana (arranjo de flores) comporta um simbolismo muito específico. A flor é considerada como um modelo de desenvolvimento da manifestação, da arte espontânea, sem artifícios e, no entanto, perfeita; como também o emblema do ciclo vegetal – resumo de seu caráter efêmero. O arranjo das flores efetua-se conforme um esquema ternário: o galho superior é o do Céu, o galho médio, o do Homem, e o galho inferior, o da Terra. São infinitos os usos alegóricos das flores. Eles estão nos atributos da primavera, da virtude, da aurora, da retórica e da juventude. Seus perfumes e suas cores mais diversos contam, em toda parte, histórias e mitos relacionados à figura-arquétipo da alma.


Não obstante todos esses significados, as flores continuam na grade daquele jardim. Serão elas cativas como na primeira impressão? Ou estarão protegidas para que suas vidas efêmeras sejam prolongadas? Elas estão presas, sim. E eu creio que nada representam se não podem ser vistas na plenitude de sua beleza. Ao opressor das flores cabe apenas a função de ser um eterno carcereiro que se condenou a si mesmo por esconder aos olhos do mundo a poesia.


domingo, 23 de agosto de 2009

O CÍRCULO



Publicado no Jornal "A Gazeta", de 23.08.2009


Um jovem amigo apresentou-me à sua namorada como se eu fosse o expoente de alguma coisa. Antes, porém, que a conversa continuasse fiz um trocadilho que soou a mim mesmo como uma reflexão para a vida. Disse-lhe então que agora eu era um "ex-poente", que buscava a alvorada, o nascente, a direção do sol que muitas vezes ignorei, não lhe dando o verdadeiro valor.


Todos nós, quando paramos para pensar melhor, cremos ser verdade que determinado evento pessoal tem o significado do encerramento de um ciclo. E um ciclo não é apenas um período onde ocorrem fatos importantes ou uma série de fenômenos que se sucedem em ordem, como as estações. Um ciclo também é um círculo, ressalvadas as diferentes origens das palavras. Como tal ele tem um simbolismo amplo, algo maior do que aquilo que pensamos ao começarmos a tomar novas atitudes.


O círculo, segundo Champeaux e Sterckx, é um ponto estendido; participa da perfeição do ponto. Os dois possuem propriedades simbólicas comuns: perfeição, homogeneidade, ausência de distinção ou de divisão. O círculo é considerado em sua totalidade indivisa. O movimento circular é perfeito, imutável, sem começo nem fim, e nem variações, o que o habilita a simbolizar o tempo.


Mas há muitas formas de interpretar o círculo: o próprio céu torna-se símbolo, o símbolo do mundo espiritual, invisível e transcendente. Simboliza o céu cósmico nas suas relações com a terra. Para os autores acima citados "o círculo pode simbolizar a divindade considerada não apenas em sua imutabilidade, mas também em sua bondade difundida como origem, substância e consumação de todas as coisas; a tradição cristã dirá: como alfa e ômega".


Desde a Antiguidade ele tem servido para mostrar a totalidade, a perfeição, englobando o tempo para melhor poder medi-lo. Na Babilônia ele foi dividido em 360º e decomposto em seis segmentos de 60º. Seu nome – shar – designava o universo, o cosmo. Mais tarde dele foi retirada a noção do tempo infinito, cíclico, universal, que foi transmitida através da serpente que morde a própria cauda.


A essa conotação, a serpente Uróboro simboliza um ciclo de evolução encerrada nela mesma. Traz concomitantemente idéias de movimento, de continuidade, de autofecundação e, de eterno retorno.


Mas a serpente não é o círculo, aquele que transcende. Ela, ao morder a própria cauda está condenada a girar sobre si mesma, como a roda. Jamais poderá escapar do seu ciclo para se elevar a um nível superior.


Agora, na ânsia de mudar, de começar um novo ciclo, de ir em busca do sol que nasce, me deparo com paradoxos porque as coisas estão escondidas nos raios celestes e no círculo do céu. E coisas não permanecem as mesmas. Como nós elas não são duradouras e estão sempre se tornando outras coisas, outras entidades. Bem disse Heráclito: não podemos entrar duas vezes no mesmo rio.


E como é grande a correnteza dessas águas! Ela guia e move meu caminho ao mar. Mas apesar de tudo esta viagem reflexiva me obriga a perambular pelo albedo da terra em direção ao oriente. Recuso-me ao crepúsculo: sinto-me mudança, conflito e renovação. A cada sete anos revigoro-me na oblação pelo fogo e regenero-me em chips astrais. Sou carbono, gases, água e sonho que não evanesce.


Sim, recuso-me ao crepúsculo, recuso-me ao poente. Rebelo-me contra meus genes e insurjo-me à natureza, pois busco o círculo onde está centrada a árvore da vida.


E cá estou: no mais profundo mar. Sem culpas, sem vícios. Mudando como o sol na manhã de um equinócio da primavera.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

COLUNA CANTO DA AMAZÔNIA

Publicada no Jornal "A Gazeta" de 21/08/2009

O FUNDO, ENFIM
O Fundo Municipal de Cultura de autoria do vereador Marcelo Dias, foi sancionado agora em agosto pelo prefeito Roberto Góes. É uma lei há muito tempo esperada pelos produtores e dirigentes culturais do município, por se tratar de um instrumento político e técnico de incentivo à produção nessa área.
O valor aprovado para o Fundo é de 1% do Orçamento da PMM, o que significa aproximadamente três milhões de reais, além do orçamento da Coordenadoria.
Para a sua regulamentação será realizada uma conferência no início de setembro, onde os produtores culturais e o governo municipal apontarão os caminhos para a utilização dos recursos.


REPRESENTAÇÃO NO MINC
O Amapá está representando a região Norte no Edital de Curtas do Ministério da Cultura. O nosso representante é o diretor, roteirista e produtor Tomé Azevedo, que está julgando 274 projetos dos cerca de 800 selecionados para 2009.
É a primeira vez que Norte foi chamado para essa tarefa, resultado, aliás, de uma reivindicação da Associação Brasileira de Documentaristas – ABD, que por sua vez foi pressionada pela Associação Brasileira de Documentaristas e Curtametragistas do Amapá.
O resultado do edital sai em outubro, mas antes terá uma reunião presencial em Brasília que fará a seleção final de 40 projetos de todo o Brasil.


CD INSTRUMENTAL
Já foi gravada a matriz de todas as músicas que integrarão o CD de música instrumental de membros associados da AMCAP.
15 músicas dos mais diversos estilos estarão presentes nesse trabalho inédito e representativo do talento dos instrumentistas. Entre eles estão o trompetistas Siney, o bandolinista Lolito, o saxofonista Spíndola, o violonista Zé Maria Cruz e os guitarristas Fabinho, Israel e Clevérson Baía.
Agora é esperar para ver, pois não há muitos apreciadores da boa música instrumental por aqui. Mas o talento desses músicos precisa ser revelado e reconhecido pelo público.


MACUNAÍMA
O cantor Macunaíma, da Universidade de Samba Boêmios do Laguinho vai gravar o belíssimo samba enredo "Índio Que Te Quero Lindo" de autoria de Vicente Cruz, Ademir do Cavaco e Quinho do Salgueiro. A entrada do Quinho no samba foi um pedido especial do nosso principal puxador que é fã incondicional do seu colega do Salgueiro.
Quinho deverá vir à Macapá para acompanhar os Boêmios no desfile da Ivaldo Veras e logo em seguida voltar para o Rio para defender a sua escola.


AMAZÔNICAS
Será no próximo dia 03 de setembro o esperado show musical do projeto Pixinguinha que culminará com o lançamento dos CDs "Eu sou Caboca" de Patrícia Bastos e "Amazônica Elegância" de Enrico di Miceli e Joãozinho Gomes.
A expectativa não está apenas no teor das músicas inéditas dos discos, mas também no espetáculo em si que trará convidados especiais para enriquecê-lo. Virão o cantor e compositor paulista Celso Viáfora, já bastante conhecido por estas paragens, a cantora Leci Brandão, o cantor e diretor musical Nilson Chaves, Dante Ozzetti e o Grupo Voz.
Depois eles se apresentam na pousada Maramalde, no município de Ferreira Gomes, no dia 05.

LIVRE ACESSO AOS LIVROS
Desde abril a Biblioteca Central da UNIFAP está dando acesso à comunidade externa, disponibilizando seu acervo que antes eram dados apenas aos discentes, docentes e servidores.
Como era de se esperar aumentou consideravelmente o fluxo de usuários, embora aos de fora só sejam permitidas as consultas. Empréstimos domiciliares são apenas para a comunidade acadêmica.
Segundo a diretora Naucirene Coutinho a BC tem um acervo de aproximadamente 65 mil volumes, dos quais 45 mil são livros. O livre acesso aos livros é um dos critérios do Ministério da Educação para a avaliação dos cursos da Universidade.

ZUNIDOR
Dia 17 de setembro acontece o show "Sou Ana" da excelente cantora Ana Martel, no Teatro das Bacabeiras. Começa às 21h00./ Está em Santana para dar uma oficina de projetos sobre cultura popular a técnica do MinC Adriana Cabral. Será no dia 25 e estará aberto a todos que quiserem se candidatar a realizar projetos na área. O valor ofertado pelo MinC para todo o Brasil é de 1.900 mil reais./ Piratas Estilizados já começam os preparativos para o festival de samba enredo da escola que traz como tema: "No cantar afro-tucuju os Ramos de Alceu e Joaquina ecoam pela amazônica Pedreira e embalam os Estilizados no meio do mundo"./ Professora Eliana Paixão, assessora especial da reitoria da UNIFAP, apresentou trabalho em Foz do Iguaçu em Conferência Internacional de Desenvolvimento Urbano e Cidades de Fronteira. O trabalho foi sobre a cidade de Oiapoque e as interações urbanas que lá ocorrem, principalmente os impactos sociais, políticos e econômicos e a política repressiva aos clandestinos./ Vem aí o livro "Adoradores do Sol"./ Será no dia 28 a 2ª eliminatória do Festival da canção do SESI, com Zé Miguel se apresentando./ O Seminário "O SESC na dinâmica Cultural do País será realizado dia 28 no auditório do SEBRAE./ Acesse o blog Canto da Amazônia: http://www.fernando-canto.blogspot.com./ Inderê! Volto zunindo na sexta.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

OUTRAS HISTÓRIAS DO HÉLIO E O NOVO LIVRO DA ALCINÉA



Texto publicado em 1998, 99 ou 2000 no "Liberal Amapá". Depois de todo esse tempo espero mais uns poemas da Alcinéa Cavalcante, que tem hoje mais brilho na sua "Estrela Azul"


Tive duas agradáveis surpresas literárias na semana que passou. As duas proporcionadas pelo pessoal do SESC – Araxá, que vem continuadamente avançando nos seus projetos culturais, fazendo e promovendo as nossas coisas e dando a elas o valor que merecem.


Ao dar o nome de Hélio Pennafort a sua biblioteca a instituição realizou um ato de carinho às nossas letras e uma justa homenagem ao escritor e jornalista que muito contribuiu para que o Amapá tivesse as suas mais legítimas manifestações culturais conhecidas. Foi através do Hélio que a maioria dos que fazem a formação da opinião local hoje, se baseou para sistematizar a questão da identidade do homem amapaense.


Fora ou dentro das academias seu trabalho ganhou a dimensão esperada e a valorização merecida, posto que só ele conseguia expressar com elegância nos seus textos as formas rudes (para nós) do falar cotidiano da vida do interior.


Muitas vezes publiquei sobre a obra do Hélio por considerá-lo um narrador excepcional das coisas da nossa gente. "Triste como um tamaquaré no choco", "foi cocô de visagem" eram expressões do homem interiorano que ele usava no dia-a-dia. Para qualquer objeto ou situação complicada chamava "catrapiçal". Vivia contando anedotas de caboclo se divertindo a valer com elas. Era extremamente sincero com seus amigos e não guardava o que tinha de dizer. Apesar de ter exercido inúmeros cargos importantes no Governo, tinha lá suas fraquezas e de vez em quando fugia do expediente para ir ao Abreu ingerir uma gelada, mas era também grave e sério nas suas responsabilidades.


Ainda adolescente andei em sua companhia, juntamente com o Odilardo Lima, repórter e poeta que virou delegado de polícia, e o Manoel João, um telegrafista e caçador de primeira linha, bom contador de histórias. Minha função no grupo era tocador de violão e guardião da memória deles, afinal iriam precisar de detalhes que fatalmente esqueceriam, quando da redação das reportagens que faziam para a rádio Educadora e o jornal A Voz Católica.


Hélio proporcionava muitas histórias engraçadas, como certa vez em Mazagão, no início dos anos 70. Fomos de barco até a sede do município, e de carro até Mazagão Velho registrar a festa da Piedade. Ele ia dirigindo (Pasmem!) um jipe, e nós vínhamos tensos, no maior medo, porque até então ninguém jamais o vira dirigir, a não ser uma bicicleta. Com alguns atropelos e barbeiragens chegamos ao destino. Anoitecia e ele foi à casa do seu Osmundo, que liderava o conjunto "Mucajá". Era um grupo rústico, de pau e corda e clarinete que tocava samba, baião, polca e outros ritmos, E que em seguida começou a tocar para nós. Lá pelas tantas, devido sua generosidade etílica, acabou o suprimento de uísque e cachaça. Em toda a vila também não tinha nada de álcool. Ele chamou uma rapaziada e disse: - Vão ver se encontram cachaça que eu dou uma grana pra vocês. Eles voltaram com uma "meiota" de "canta-galo". O Hélio deu uma golada e cuspiu: - Querendo me enganar, é seus porras? Cachaça com água eu não bebo, inda mais se é de mulher que acabou de parir. Fiquei sabendo depois que as mulheres do lugar usavam aguardente na assepsia do pós-parto e que os moleques haviam roubado a garrafa de uma senhora que parira uns dias antes. Esse episódio só fez solidificar a minha admiração pela figura simples e humana do jornalista.


Fecundo no seu trabalho, Hélio sempre procurou dar a ele novas formas em linguagens diferentes. Em 1984/85 associou-se ao talento do piloto e vídeo-maker Roberval Lavor e produziu inúmeros vídeos sobre aspectos turísticos do então Território do Amapá. Embora não se adaptasse ao computador, o apregoava como instrumento do futuro, pois era atualizado nas informações tecnológicas.


A segunda surpresa foi o relançamento do livro "Lamento Ximango em forma de cantiga" de Osvaldo Simões Filho, do qual fui prefaciador, e o lançamento de "Estrela Azul" de Alcinéa Cavalcante, muito aguardado e cobrado por todos aqueles que com ela labutam na arte de escrever poesia.


Neste seu novo trabalho Alcinéa expressa a sua maioridade indisfarçada, porém demonstrado uma espécie de descrença em tudo, amarga e niilista. Seus poemas, a maioria feitos em versos curtos, querem talvez denotar o resultado de uma experiência pessoal frustrante. Como o fez Rimbaud, a poeta escolheu temas malditos, amargos, destilados com imensa autocomiseração que é própria dos mais sensíveis artistas, mas que não se adaptaram a este mundo avassalador e cruel. "Solidão", "Desamor", "Faxina", "Mágoa", "Tédio", "Entardecer", "Ausência", "Saudade", "Cansaço" expressam pelos títulos uma condição de quase desespero, de necessidade de ter a dor como a fonte desse rio de mágoa.


Longe de querer o ideal poético, considero o livro de Alcinéa um exemplo de maturidade. O gérmen de ontem que frutificará amanhã, mesmo que o encanto seja a condição da felicidade – ou da tolerância - ("Recompensa", página 35). Sua sensibilidade dá ao leitor a possibilidade de refletir sobre as dores do mundo e as frustrações pessoais, porque as palavras-chaves de sua poesia são muito recorrentes, como anjo/ ternura/ inauguração, e por serem assim, cada início e o meio traduzem o inopinado golpe do "Fim", quando "A estrela Azul, Anjo/ se apagou."


Seria a estrela azul um símbolo de desesperança? Provavelmente não, porque a poesia de Alcinéa Cavalcante traz um conjunto de emoções e uma doce promessa "que no próximo entardecer/ vou pintar um arco-íris/ para deixar tua tardezinha/ menos triste" ("Entardecer", página 29).

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A CASA DO EZEQUIAS


Este foi o primeiro texto que escrevi para "A Gazeta", em dezembro de 2008.
Republico para homenagear Jorge Herberth, companheiro de muitas jornadas.

A metade dos anos 80 trazia a grande expectativa de mudanças no caminho político do Brasil. Após a anistia de 1979 restava ainda o término do Governo Figueiredo e a transição democrática que se estabeleceria com a eleição de Tancredo e a posse de Sarney.
No Amapá tudo isso era motivo de conversa e os jornais emitiam opiniões bem diversificadas sobre o destino de nossa terra, causando certo frisson entre os leitores. E com a possibilidade de transformação em estado o antigo Território Federal cedeu espaço a centenas de aproveitadores políticos que para cá vieram em busca de uma vaga no parlamento. Foi nesse contexto que ressurgiu o Amapá Estado, fundado por Haroldo Franco, Silas e Ezequias Assis. Esse jornal havia sido editado pela primeira vez durante o governo de Henning, que segundo eles, quando leu o primeiro número o amassou e jogou fora dizendo que a pretensão dos jornalistas não passava de um engano,de uma utopia. Foi, também, nesse contexto que posteriormente foi lançado o jornal Fronteira, onde trabalhei com uma coluna informativa, ao lado de grandes expressões do jornalismo local como Alcy Araújo, Luís Melo, Jorge Herberth e Wilson Sena, por sinal o primeiro presidente da Associação dos Jornalistas do Amapá. Antes disso o Silas fechou o Amapá Estado e foi se estabelecer em Belém com um jornal maior.
Mas os grandes assuntos da pauta semanal do Fronteira eram discutidos na casa do Ezequias. Todos os sábados ele nos recebia com aquele jeito brincalhão, mostrando um exemplar que o Ricardo, seu filho, pegava no aeroporto (naquela época era impresso em Belém.) e não economizava o orgulho de ver editado mais um número. E o que era para ser apenas informação virava celebração, pois nunca faltava uma boa dose do melhor uísque, uma carne de caça que o Baleia fornecia para o dono da casa desde que ele fora chefe de Gabinete da Secretaria de Obras e a viola do Nonato Leal, às vezes em duo com a do Sebastião Mont'Alverne. Ao lado disso, apreciadores da boa música, como o Alcy, se deleitavam ouvindo o Humberto Moreira interpretar Taiguara. Artistas e intelectuais chegavam como se estivessem ligados a uma rede invisível e automática, num tempo em que não havia celulares. Aimorezinho era um espetáculo tocando bossa nova com a sua escaleta e o inesquecível bandolim do Amilar parecia pousar em uma partitura mágica vinda das Brenhas de Mazagão. Ritmos se fundiam numa democracia musical crescente que só acabaria quase no início da noite com o sorriso sempre aberto da ilustre e querida amiga Nazaré Trindade. Antes, porém, Ezequias, Nonato e Sebastião faziam um coral com a música "Saci Pererê" de autoria dos três. Depois cantavam "Tauaparanaçu", de Nonato, e arrematavam com "Rio Amazonas", de autor desconhecido. A audiência não poupava elogios ao trio e se despedia de mais uma seresta tropical que a todos encantava.
Tanto Ezequias como Nazaré já se despediram deste mundo. Mas o dom da generosidade que neles havia fica na memória e na eterna gratidão pelo que ensinaram e pelo que foram.
Certa vez, num tempo de vacas magras do jornal, Ezequias me chamou e disse que não podia me pagar naquele mês, mas que iria dar um jeito. Falou que estava querendo "ajeitar" seu carro e que decidira deixar para o outro mês. Foi lá dentro e voltou com quatro pneus novos e 120 dólares e me disse: – Toma. Troca os pneus carecas do teu carro e fica com esse dinheiro pra quebrar o galho. No mês que vem a gente se acerta.
Depois ele me abraçou e pediu ao Ricardo para preparar uns uísques. Ficamos bebendo em silêncio.

Foto: Sônia Canto. Jorge Herberth veste Coisa da Tica (www.tica-lemos.zip.net).

terça-feira, 18 de agosto de 2009

DORMENTES & DESCARRILADOS




Sem saber que o trem da Anglous Ferrous Brazil havia descarrilado no Km 85 da estrada de ferro do Amapá, uma galera que vinha de um terreno no rio Flechal, próximo ao Km 44 da rodovia 156, posou para essas fotos aí.


Eram 18h00 do domingo, dia 16, e o trem descarrilou com 18 vagões cheios de minério de ferro um pouco antes das cinco da manhã.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O LADRÃO DO PRIMEIRO AVIÃO


Não tenho dúvida que a criação popular, expressada pela música é tão representativa para a literatura como o são os mitos. O folclore pode muito bem historiar fatos onde nunca houve documento histórico que sirva de prova para a escritura da História pelo pesquisador.

Na cultura popular a música pode muito bem narrar a vida de uma comunidade e colaborar para o esclarecimento de fatos pela poesia (e pela descrição do fato) nela contida.
Os "ladrões", músicas de marabaixo, são assim chamados porque trazem a público a história individual de pessoas ou grupos. Os versos roubam a individualidade de membro ou membros da comunidade que realizou ou realizaram alguma proeza boa ou má. Trazem principalmente testemunhos, histórias não necessariamente verdadeiras, mas que divertem os participantes e que de alguma forma são elementos de função social, reguladores e regradores da sociedade.
Eles contam, através do olho arguto do poeta-cantador, uma história, um fato, como por exemplo, este abaixo, que mais parece um depoimento lítero-musical sobre a chegada do primeiro avião em Macapá. A narração é do saudoso Martinho Ramos, filho de Julião Ramos:


"Quando passou por aqui o primeiro avião, eu estava com dois anos de idade, mas pelos meus antepassados eu soube de muitas coisas que se passaram na época (1923), inclusive o Sr. Eufrásio foi quem conseguiu nos dar uma grande música do Marabaixo, que tem o título de 'A irmã Catita viu o salão / Assim, atracada assim eu não subo não".


"O avião era uma Catalina, anfíbio, descia n'água e em terra. Mas como nós não tínhamos pista de pouso, eles resolveram descer na água. Então, o povo todo correu; aí o Sr. Eufrásio começou a enversar toda a história do avião:

Corram, corram minha gente
Vamos na praça espiar
O barulho vem de cima
E é n'água que vai
pousar.

Em seguida, todo mundo correu lá pro "Torrão", que era o nome de onde está localizado hoje o Macapá Hotel. Na ocasião, o velho Eufrásio, observando que os ocupantes do aparelho eram todos alemães, fez:
A cabeça do alemão
Muito sol ele apanhou
Na taberna do Ventura
Um guarda-chuva ele encontrou.

Seguindo, vieram à cidade onde nós tínhamos um padre alemão; o padre Júlio (Maria Lombaerd), que, ao conversar com um dos tripulantes, soube que a gasolina deles havia acabado.

"Eles estavam perdidos e sem gasolina. Foram recolhidos pelo padre Júlio e aqui ficaram. Logo depois que a maré encheu, eles abriram o avião para visitação pública. As pessoas foram até ao avião, mas não sabiam como entrar. Então um cidadão prontificou-se em auxiliá-las. Quando o cidadão quis atracar na cintura de uma freira (a quem chamavam de Catita, por ser pequena) para pô-la no avião, ela disse: "Atracada assim eu não subo não ". O velho Eufrásio viu aquela situação e tirou o verso que é o estribilho da música:

"Viu a irmã Catita pelo salão / Assim, atracada assim eu não subo não".
"A irmã Catita não ficou aborrecida porque felizmente ela disse aquela expressão
sem saber e sem se preocupar se havia um poeta observando tudo para dar a música
do marabaixo que deu".

O interessante é que o avião pousara no dia 18 de março, véspera da festa de São José, padroeiro de Macapá. O velho Eufrásio fez mais uma estrofe:

No dia 18 de março

Quando o avião chegou

Na terra de Macapá

Todo mundo se alegrou"

Segundo o seu Martinho nessa data a cidade estava repleta de gente da redondeza que veio passar a festa. "Nesse dia foi um deus-nos-acuda. Também pudera, pois ninguém tinha nem ouvido falar em semelhante coisa. Só podia assustar". (Ver Canto, Fernando, in Telas & Quintais, CTC, Macapá, 1987).

Publicado no Jornal "A Gazeta" de 16/08/2009

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

COLUNA CANTO DA AMAZÔNIA

Publicada no Jornal "A Gazeta", de 14/08/09

DEZ ANOS SEM SACACA


No dia 09 de setembro de vai fazer dez anos que o povo do Amapá perdeu Raimundo dos Santos Souza, o Sacaca, cujo apelido significa pajé, bruxedo, mau olhado, xamã, etc.

No dia 21 de agosto, entretanto, sua família vai homenageá-lo com uma grande movimentação de Marabaixo e a edição de um livro sobre a sua vida e obra. Sacaca nasceu em Macapá, em 1926. Hoje seu filho Dô (Raimundo) lidera o grupo folclórico "Marabaixo do Arthur", que faz um belo trabalho social com mais de cem crianças carentes do Poço do Mato, no coração do Laguinho.

DEZ ANOS SEM SACACA 2


Todo o povo do Laguinho chorou no dia do seu enterro. Ele era o homem que conhecia ervas medicinais e fazia preparos de chás e garrafadas. Foi massagista oficial do Esporte Clube Macapá, time do qual era fanático e até me deu uma letra sobre o clube da FAB para musicar.

Quando eu sofria alguma torção era ele quem me curava. Passou sua técnica para o filho Nilson (Bode) que também já subiu na árvore misteriosa da morte. Foi homenageado pelos Piratas da Batucadas como tema no carnaval de 1993.

MAGNITUDE DO CONTRA-CHEQUE

Um sucesso o lançamento do livro "A Magnitude do Estado na Socioeconomia Amapaense" do economista e professor Charles Achcar Chelala, publicado pela editora Publit Soluções Editoriais com o incentivo do projeto CAPES Pró-Defesa. Segundo Reinaldo Tavares, professor da UFRJ, o livro se constitui leitura obrigatória para os que estudam o desenvolvimento econômico e social do Amapá. Resultou da dissertação de mestrado em Desenvolvimento Regional da UNIFAP.

VENTO NORTE


Dia 26 de agosto o São José, o time mais querido do Amapá, estará de aniversário. Junto com ele completa três anos o Movimento Vento Norte, capitaneado pelo advogado Vicente Cruz. Esse projeto cresceu tanto que já integra inúmeras instituições da zona norte da cidade, como a Universidade de Samba Boêmios do Laguinho e 55 grupos de arte, cultura e esportes, abrangendo a região que vai do Perpétuo Socorro e Laguinho até o Açaí e o Curiaú.
O São José é o primeiro clube local a fazer massificação realizando trabalho com crianças em escolinhas "peneiras", descobrindo talentos até sub-18.

MOVIMENTO NO RÁDIO


"Programa Movimento em Ação", apresentado por Heraldo Almeida na Equatorial FM, que tem na equipe o Rogério e a Mariléia, segundo comentam pela cidade vem crescendo em audiência no rádio, no horário de 08h30 às 10h00. Inovador ao apresentar aspectos da cultura e da arte amapaense que pouca gente conhece, o programa vem sendo incessantemente procurado por artistas que querem divulgar seus produtos na mídia.

Também pudera! Heraldo é radialista, compositor, carnavalesco e "expert" em comissões de frente, item que jamais perdeu nas escolas pelas quais trabalhou. Além disso, coordena grupos juninos com muita competência e é fundador do MVN.

NOVOS DOUTORADOS

O Departamento de Pós-Graduação da UNIFAP está otimista na expectativa do resultado da aprovação pela CAPES, do Mestrado em Ciências da Saúde. O curso será institucional e deverá ser iniciado no ano que vem, assim que aprovado agora em setembro.
Em 2010 a UNIFAP iniciará o curso interinstitucional de Doutorado em Educação, em parceria com a Universidade Federal de Uberlândia. Já o de Doutorado em Ciências Sociais, após duas tentativas frustradas de parceria com a UFCE e a UNB, é objeto de negociação com a UNICAMP



ZUNIDOR

Hoje teremos a volta dos "Concertos de Verão", promoção da Confraria Tucuju de absoluto sucesso na cidade. O concertista é o multiinstrumentista Aimoré Batista. A partir das 20h00 no Largo dos Inocentes./ Quem já está junto de nós e bem de saúde é o violonista Sebastião Mont'Alverne./ Parabéns ao Jara Dias pelo seu aniversário./ O projeto "Canto de Casa", da AMCAP inicia hoje às 21h00 no Sesc Centro com Adriana Raquel e banda ao preço de cincão. Estudantes pagam meia. /Amanhã tem repeteco do show com Osmar Jr. e Aimorezinho, na Casa de Chorinho do Ceará da Cuíca. Promoção da Sônia Canto Produções./ Estão abertas até dia 17 de agosto, segunda-feira, as inscrições para o XV Prêmio Brasil de Economia. As categorias a serem analisadas são: livro de economia, tese de doutorado, dissertação de mestrado, artigo técnico e artigo científico, monografia ou TCC em economia e Gestão Pública. Informações: http://www.cofecon.org.br/ / Rui Lima, do Laguinho, andava muito macambúzio no balcão do Calçadão do Waldir. Preocupado com as sete bases americanas instaladas na Colômbia. Para ele é uma estratégia para a tomada da região, nada de FARC ou narcotráfico. É mesmo para marcar território. Quem vai mexer com o lobo? Ele pergunta./ Recomeçam na segunda as aulas do MINTEG./ Vem aí o livro "Adoradores do Sol"./ Continuam as festividades de São Joaquim do Curiaú a partir de hoje até na terça-feira, 18. Ladainhas, folias e muito batuque acompanham a festa do pessoal do Quilombo. Vá até lá./ Em Mazagão acontece no dia 24 de agosto a festa do Divino Espírito Santo, uma das mais bonitas festas populares de cunho religioso do Estado. Feita por crianças e adolescentes escolhidas por sorteio no ano anterior.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

MINHA FILHA JULIA CANTO


Hoje meu coração está em festa. Minha filha Júlia, que mora em Denver (EUA) e que eu não via há quatro anos, chegou nesta madrugada.

Divido com meus amigos este sorriso lindo.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

CHARLES CHELALA - LANÇAMENTO



Muita gente compareceu no lançamento do livro do economista Charles Chelala. Foi sexta-feira passada na UNIFAP. Entre os presentes estavam José Ramalho,Tostes, Cláudia, Yurgel, Coronel Dias, Lucas Barreto, Cláudio Pinho Randolfe Rodrigues, Marcos Chagas, Cristóvão Lins, Juliana Tavares e sua filha Maria Clara, a jornalista Alcilene Cavalcante e muitos estudantes e interessados na economia do Amapá.
O livro é o resultado da dissertação do Mestrado Integrado em Desenvolvimento Regional da UNIFAP.

ENXERIMENTO


A lua cheia de Macapá parecia ter caído do buraco do monumento ao equinócio do Marco Zero do Equador. Eram 19h30 do dia 07, sexta-feira. Há quem diga que foi enxerimento dela, que queria mesmo era passar por dentro dele.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O AUSENTE


Esse aí é o Alfredo Façanha, o cara (cantor) que faltou na foto do conjunto “FAMBER”, do Grêmio Jesus de Nazaré (1970). Mora hoje em João Pessoa – PB, mas não canta mais nada.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Osmar Júnior e Aimoré Batista


Dando sequencia ao "Projeto De Bar em Bar", Osmar Júnior e Aimorá Batista se apresentarão no dia 15/08/2009 (sábado) na Casa de Chorinho Ceará da Cuíca.
Venda de mesas: Sonia Canto Produções e Ceará da Cuica
Telefones:
Sonia: 8111-0695
Ceará da Cuíca: 9903-5239

domingo, 9 de agosto de 2009

A CASCA E A CULTURA POLÍTICA


É verdade que demora um pouco, mas devagar a gente vai tirando a casca que fica com a prática da profissão. Uma camada fina e imperceptível se enrosca em muitas facetas construídas e solidificadas no dia-a-dia, em função das conclusões que chegamos num esforço profundo: o de tentar ser justo sobre nossas observações.
E a máxima socrática intervém somando-se à presença quase real dos dizeres encontrados no templo de Delfos da Grécia antiga: “eu sei que nada sei”. Mas paralelamente a isso cada qual vai se fartando de conhecimento, se faltando de erros na busca de novas reflexões que a profissão exige até mesmo para a compreensão da realidade de cada um, do que possui ao seu redor.
Ao professor cabe o pragmatismo da educação e uma trajetória profissional na produção acadêmica, na qual eles têm por missão desempenhar papel sócio-político e cultural como contribuição necessária à ordem do ensino, que é formar, ou quem sabe reformar cabeças de novos cidadãos.
A maioria dos profissionais crê que despojar-se do medo da atualização ou de velhos conceitos ideológicos são necessários, e se constituem uma forma de encarar a profissão sem a arrogância do sabe-tudo e, melhor, sem o estigma do radical militante. Reciclar-se também é importante, porque faz parte do negócio. E o negócio é mesmo a negação do ócio. Aliás, é bom que se pense que uma profissão bem exercida e bem conduzida é um caminho para o sucesso material ou financeiro.
Ninguém dá tudo de graça. É preciso merecer e estar bem preparado, porque em cada ramo de atuação todos mergulham, querendo ou não, nas amarras da cultura política, essa rede impressionante que prende e libera nossas ações sociais. Mateucci e Pasquino a definiram como “o conjunto de atitudes, normas e crenças mais ou menos partilhadas pelos membros de uma determinada unidade social”. Ela é composta, portanto, de um conjunto de subculturas presentes nas nossas atitudes, normas e valores, ou seja, no comportamento de indivíduos nas ações coletivas. Diria ainda, neste caso, nas ações dos profissionais que detém os conhecimentos a respeito de si próprios e de seus contextos, de seus símbolos e linguagens utilizadas. Essas culturas formarão novas culturas políticas.
O mestre Paulo Freire afirmou que quando falamos em uma nova cultura política estamos supondo que haja uma velha, o que nos obriga a refletir como se constitui o novo. Para ele toda novidade nasce do corpo de uma ex-novidade que começou a envelhecer. Como elas não surgem por decreto, há uma ligação entre as coisas que vão ficando velhas com as coisas que vão nascendo. Ele destaca que “uma das preocupações daqueles que pretendem transformar a sociedade é exatamente lutar pela novidade, e uma das formas de se engajar nessa luta é buscar diferentes formas de ajuizar a prática política”. (Freire, Paulo. A Constituição de Uma Nova Cultura Política; S. Paulo, Pólis, 1995). E dentre essas exigências cita a coerência entre o discurso e prática, a tolerância e a humildade na vida de todos.
Sem isso, acredito como Freire, que não há formação, ética profissional, educação, e consequentemente construção da cidadania.

Publicado no Jornal “A Gazeta” de domingo, 09.08.2009

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

COLUNA CANTO DA AMAZÔNIA

Publicada sexta-feira (07/08/09) no Jornal "A GAZETA"

A partir desta sexta-feira estaremos oferecendo aos leitores de "A Gazeta" informações semanais sobre atividades culturais e artísticas da cidade e do Estado. É o resultado de um convite feito pelo nosso Superintendente Sillas Assis Júnior e pelo Editor de Política Carlos Lobato.

Há muitos eventos acontecendo em Macapá, que merecem ser prestigiados pelos nossos leitores. Do outro lado quem faz os eventos também merece ser valorizado. Ou criticado. Já é tempo de olhar mais de perto a produção dessa galera esforçada e pouco reconhecida.

CARTAZ

Quem está exultante com a Festa de Nossa Senhora de Nazaré é o padre Aldenor, da Paróquia Jesus de Nazaré. O cartaz de divulgação do evento traz a inscrição "Maria, Mãe da Justiça e da Paz", com o lema "É bonita demais a mão que conduz a bandeira da paz". O cartaz é ilustrado com pessoas dançando o Marabaixo, significando a paz presente em todas as culturas, "transbordante a todo o gênero humano", segundo o padre.

Depois daqueles tristes episódios envolvendo a Igreja e o Marabaixo, já não era sem tempo uma penitência dessas.

Aldenor, doutor em Comunicação Social pela Universidade de Roma, é também um diplomata de muito prestígio na sociedade. Foi ele que realizou o primeiro CD sobre a Virgem de Nazaré, gravado por artistas locais como o Grupo Pilão, Zé Miguel, Osmar Jr., Ronery, Naldo Maranhão e outros, sob a batuta do maestro Manoel Cordeiro, em 2002.

AIMOREZINHO & OSMAR JR.

É hoje o show de Aimorezinho e Osmar Jr. no Café Aimoré, na avenida Iracema Carvão Nunes, promoção da Solange Sussuarana.

Imperdível, porque não é sempre que se pode assistir o multiinstrumentista Aimoré tocar, ainda mais na companhia de Osmar, que agora realiza o sonho de estar no palco junto com ele e de mostrar ao privilegiado público um eclético repertório.

No roteiro também estarão presentes o violonista Nonato Leal, que por anos acompanhou Aimoré nas suas viagens melodiosas nos solos de piano, escaleta e acordeom, e o cantor Humberto Moreira.

HM diz sempre que em Macapá ninguém faz esse tipo de MPB da gema, mas que há um público fiel quando isso ocorre. Daí a avidez do público em prestigiar. Cita o exemplo da apresentação de "Os Cometas" que enchem a festa quando tocam, porque não há eventos para o público na faixa etária dos 45 anos em diante. Tem razão o HM.

BLOGOSFERA

Tanto blog bacana surgindo. Novas linguagens. Novas mídias, links... E o mundo em comunicação, numa convergência cultural que reflete a "mudança de lógica pela qual a cultura opera com ênfase no fluxo de conteúdos pelos canais midiáticos". Isso quem diz é Henry Jenkins, no seu livro Cultura da Convergência, Aleph, S. Paulo, 2008.

Ele diz ainda que o bloguismo vem de "blogging", em inglês, abreviação de "web logging" (registro de informações na web). O termo se referia inicialmente a uma plataforma tecnológica que permitia a atualização fácil e rápida de conteúdo na web. Cada vez mais passou a se referir a uma forma de publicação de origem alternativa, em resposta a informações que circulam em outros blogs ou nas mídias comerciais.

HISTÓRIA DIGITALIZADA

Técnicos da Confraria Tucuju estão fazendo o levantamento dos locais de guarda da documentação histórica de interesse do Amapá de antes de 1943. Estiveram em Belém em diversas instituições como o Arquivo Histórico do Pará, Comissão Demarcadora de Limites, Biblioteca do Centur/Centro de Memória da Amazônia, Biblioteca e Arquivo do Museu Emílio Goeldi e na Universidade Federal do Pará, onde foram bem recebidos. A ideia é trazer para o Estado toda essa documentação em forma digital.




ZUNIDOR
O Nobel José Saramago disse em entrevista ao "Globo" sobre o Twitter, postado por Ray Cunha no site CPLP – Conexão Brasília: "De degrau em degrau vamos descer até o grunido"./ Vem aí o livro "Adoradores do Sol"./ Nivito Guedes se apresenta no dia 02 de setembro no projeto "1/4 de Música", em Belém, no teatro Margarida Schiwazappa./ Enfim o prédio da Rádio Universitária FM, da UNIFAP, foi entregue. Agora só falta instalar os equipamentos e botar para frente uma programação legal./ Será lançado no dia 03 de setembro o novo livro do arquiteto e professor José Alberto Tostes. O título é: "Planos Diretores do Estado do Amapá: a experiência de Laranjal do Jari"./ Ocorreu no dia 04, no Museu Sacaca, o seminário Turismo e Patrimônio – Os Sítios Arqueológicos do Amapá, com pouca gente interessada participando. Segundo Hermano Araújo o IPHAN, através do NAEA/UFPA, quer viabilizar o turismo no sítio megalítico de Calçoene e na gruta Careta de do rio Maracá, uma atitude positiva, pois o uso leva à preservação e ao beneficiamento do entorno dessas áreas. Com essa visibilidade as comunidades só têm a ganhar./Acontece de 02 a 05 de 09 o "IV Simpósio Integrado de Engenharia Ambiental do Espírito Santo". O tema é: As cidades brasileiras e seus problemas ambientais: oportunidades e desafios. Informações em sea2009@aev.edu.br – Faculdades integradas São Pedro./ Inaugura dia 21.08. a sala "Folclore e Cultura Popular" da Biblioteca Pública Eucy Lacerda. Levará o nome da conhecida animadora das festas de Mazagão e Igarapé do Lago Josefa Pereira Lau./ Volto zunindo na sexta.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Aimoré Batista e Osmar Júnior






Preparação para o "Encontro", no Café Aymoré.
Imperdível!!!.

DECLARAÇÃO DE AMOR CABOCLA OU CARTA À NOCA


Hélio Pennafort, é um dos maiores ícones do jornalismo amapaense. Ainda jovem eu saía com ele pelo interior na companhia de Odilardo Lima e Manoel João, o "Papa-arroz", fazendo matéria para "A voz Católica" e para a Rádio Educadora no início dos anos 70.

Numa dessas viagens Hélio colheu (segundo ele!!?) essa bonita declaração de amor a uma cabocla. Trata-se da "Carta à Noca", uma poesia pura apesar de toda a ingenuidade que faz os corações apaixonados dizerem o que dizem. O texto foi extraído do livro "Micro Reportagem", DIO/GTFA, Macapá, 1980.

"AMOR, POESIA E PRECONCEITO"

"Querida Noca

Escrevo-te somente esta porque não aguento mais a cuíra de saber de nossas difíceis notícias, Noca.

Domingo, no ucuubal, como eu te mandei dizer, não deixa de falar comigo, porque eu quero falar contigo, Noca.

Eu gosto do teu amor, da tua paixão, dos teus carinhos, tão bem como o buritizeiro que adora a mãe lua, quando ela tange com o seu clarão as nuvens que não querem deixar o seu luar tocar os brotos das palmeiras, mexer com o siriubal ou alegrar o furo do Jenipapo.

Ainda me lembro, Noca, da primeira vez que te vi na reza da casa do tio Macário. Enxerguei teus cabelos, Noca, clareados pela lamparina, mais bonito do que as espigas de milho da roça do Zé Manduca. Teus olhinhos, Noca, eram uma graça... Brilhavam mais do que duas porongas de pesqueira, na noite escura, chuventa e panema de peixe...

Tudo em ti é belo, linda Noca, por isto eu gosto de ti. E tu também gosta de mim? Quando já... Eu não sou suficiente nem tenho competência para possuir o amor da garota mais faceira que existe em toda a extensão do Cassiporé. Mas espero um dia ao menos poder te tocar, te acariciar, te cheirar, te beijar... Noca".

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Agende-se




05 DE AGOSTO DE 1923: NASCE ÁLVARO DA CUNHA



O magistral prefácio de Alcy Araújo no livro "Amapacanto" de Álvaro da Cunha mostra toda a singularidade desse poeta. O "intérprete do verde incomum da Latitude Zero" faria hoje 86 anos. Certamente estaria tomando o seu Blood Mary no Hotel Macapá cercado de jovens admiradores.
Álvaro, militante das letras, intelectual que, com Alcy e Ivo Torres, fundaram revistas e jornais como "Rumo", "Mensagem", e "Latitude Zero". Eles se imortalizaram na bela antologia "Modernos Poetas do Amapá", de 1960, juntamente com poetas da lavra de Aluísio da Cunha e Arthur Nery Marinho. Seu primeiro livro de poesia "Pássaro de Chumbo" de 1951 foi editado pela Hipocampo, RJ.
Mas o poeta era apenas uma faceta de Álvaro. Ele escreveu inúmeros artigos e crônicas, uma monografia sobre "Relações Públicas Governamentais no Amapá" como resultado do curso que fez na Fundação Getúlio Vargas, em 1954; um livro polêmico chamado "Quem Explorou Quem no Contrato do Manganês do Amapá", foi presidente da CEA (será que se lembram disso?) e exerceu cargos de relevo na administração Territorial.
O Amapá e sua literatura devem a esse poeta e visionário, que desde os 23 anos, "viveu em Macapá os anos mais férteis e felizes de sua mocidade". Antes de partir para o Oriente Eterno, em 22 de fevereiro de 1995, Álvaro mandou-me 14 poemas inéditos, que um dia haverei de publicar. É dele o famoso poema "Mãe Luzia" e "Lua Minguante", que a seguir reproduzo.

"LUA MINGUANTE"


A lua minguante do Amapá
brilha mais que a lua cheia
de qualquer outro lugar








"MÃE LUZIA"


Velha, enrugada, cabelos de algodão,
fim de existência atribulada, cuja
apoteose é um rol de roupa suja
e a aspereza das barras de sabão.

Mãe Luzia! Mãe preta! Um coração
que através dos milagres de ternura
da mais rudimentar puericultura
foi o primeiro doutor da região.

Quantas vezes, à luz da lamparina,
na pobreza do catre ou da esteira,
os braços rebentando de canseira,
Mãe Luzia era toda a medicina.

Na quietude humílima do rosto
sulcado de veredas tortuosas,
há um clamor profundo de desgosto
e o silêncio das vidas dolorosas.

Oh, brônzea estátua da maternidade:
ao te encontrar curvada e seminua,
vejo o folclore antigo da cidade
na paisagem ancestral da minha rua.





Minha opinião: Este poema deveria ser gravado em uma placa com letras douradas e afixado no Hospital da Mulher "Mãe Luzia".

Desenhos de Herivelto digitalizados do livro "Amapacanto"/1986

terça-feira, 4 de agosto de 2009

FIM DO MACAPÁ VERÃO


Essa foto aí é do último domingo do Macapá Verão de 1981 quando era realizado apenas em Fazendinha (que por incrível que pareça era uma praia). Nela aparece a bela miss verão Elisena Barbosa (hoje competente socióloga em Brasília) recebendo o seu prêmio das mãos do saudoso jornalista Haroldo Franco.

Nessa época, o "Jornal do Povo" de HF era um dos patrocinadores do evento que era promovido pelo Governo do Território através da Seplan/Departamento de Turismo, onde comecei a trabalhar.

No jornal só tinha "cobra criada" como Edevaldo Leal, Alcy Araújo, Elson Martins e Walmir Botelho, que atualmente é editor-chefe de "O Liberal", em Belém.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

VEM AÍ O SÃO JOAQUIM DO CURIAÚ


Fotos: Fernando Canto

O Amapá é pródigo em festas de santos. Só em Mazagão o ciclo santoral abrange 17. Mas é a partir de julho que as mais tradicionais ocorrem, à exceção do Marabaixo que é vinculado à festa católica de Pentecostes, 50 dias depois da Páscoa. Entre elas está a bela e pouco difundida festa de São Joaquim do Curiaú.

Localizado na zona norte de Macapá, o Curiaú se destaca pela beleza cênica de seus campos e lagos e pela tradição mantida por seus habitantes. Seus valores culturais até hoje permanecem e são diariamente praticados pelos mais velhos através da medicina caseira e do recontar dos mitos e lendas que nasceram e se amalgamaram com a religiosidade de origem católica. Justamente aí é que os rituais se estabelecem bem originais, talvez como no passado, porque os agentes sacramentais dos ritos são pessoas da própria comunidade, respeitadíssimas devido à idade e a sabedoria que possuem.

Nesse contexto, a festividade de São Joaquim emerge como a mais importante de todas as outras do lugar, pois ele é o santo padroeiro da comunidade. Sua realização se dá nos meados de agosto, quando os moradores se mobilizam para externar sua devoção por meio de uma programação que traz em si um sistema comum das festas populares da Amazônia, com procissões, missas, festeiros previamente escolhidos e bailes dançantes.

O diferencial de possuir as ladainhas cantadas em latim, que lembram o antigo Cantochão, um tipo de música "essencialmente monocórdica e com
ritmo orientado pela articulação do texto", no dizer de Mário de Andrade, confere às comemorações em honra a São Joaquim um espetáculo à parte, pois emerge de tempos imemoriais e proporciona a valorização dos saberes ancestrais.

A festa traz ainda as Folias cantadas em louvor ao santo pelo grupo de foliões que as acompanham com violas, cavaquinhos, sinos e uma percussão caracterizada por instrumentos fabricados pelos próprios músicos.

Depois dessas demonstrações de fé é que começam os preparativos para o Batuque, com o esquentar do couro dos pandeiros e dos tambores, também chamados "macacos", porque são feitos do tronco escavado da árvore chamada macacaueiro.

Sentados sobre os tambores, os ritmistas iniciam as músicas que são cantadas por um solista de voz firme e afinada. Os dançarinos respondem em coro e circulam o grupo de músicos no centro do salão. Dançam arrastando os pés, evoluindo sobre si mesmos, num percurso contrário ao do ponteiro do relógio, como se fizessem uma viagem cantando contra o tempo e lutando pela liberdade de seus antepassados.

Nos dias de festa o Batuque rompe silêncios e atravessa a noite, enquanto os rostos suados, as gargantas roucas e as mãos quase sangrando pelo amassar e pelo repenicar dos tambores, parecem não querer parar. Nesse momento, junto ao sol raiando, possivelmente esteja contida a força e o amor dos que fazem o Curiaú ser um lugar de beleza e de tradição das coisas amapaenses.



Publicado no Jornal "A Gazeta" de domingo, 02/08/2009.