terça-feira, 27 de outubro de 2009

A VISÃO DO FUTURO E A LIÇÃO DO PRESENTE

Texto publicado em 2008 no Jornal do Dia.

Certo dia ao encontrar um velho amigo, lembrei-lhe de uma conversa que tivemos há cerca de 20 anos, quando eu acabara de ministrar palestra sobre urbanismo e leis municipais no Centro de Convenções. Ele falava da urgente necessidade da implantação do PROCON em Macapá, visto que o Brasil mudava muito rapidamente em relação aos direitos do consumidor e que nós precisávamos acompanhar essa mudança. Na época o então promotor Luiz Carlos também trabalhava com direito ambiental e vislumbrava que pela educação o país poderia dar melhor trato a essas questões. Como amazônida que é, falava de forma apaixonada, pois tinha conhecimento do que poderíamos perder se não olhássemos politicamente nossa região com justiça e responsabilidade.

Este, para mim, é dos exemplos de construções sociais que se solidificam com a visão do futuro. Normalmente elas são respaldadas pelo conhecimento e pela informação que convergem sempre para concretização dos fatos. Hoje, programas de computador realizam previsões nostradâmicas, através de equações avançadas da física quântica e da lei das probabilidades, coisas que poucas décadas atrás seriam impossíveis, não fossem os instrumentos que cientistas dispõem para olhar à frente de forma clara, sem bola de cristal, mas tentando acertar sempre.

Presságio ou não, aqui entre nós, muito já se pensou sobre o futuro do Amapá de forma responsável, de forma dura e até poética, e muitas vezes com um empurrão ideológico duvidoso. O mais interessante desses condicionamentos políticos a meu ver foi a decantada "Mística do Amapá", inventada nos anos 40 e usada nos anos 50 por Janary Nunes e sua troupe. Tratava-se de uma "força telúrica" baseada na proposta gilbertofreyreana de uma nova "civilização dos trópicos", em voga na época. Essa idéia influenciou nitidamente os intelectuais orgânicos do sistema, como Álvaro da Cunha, Alcy Araújo e o próprio Janary, que buscava um jeito de mudar o clima apático e conformado da população que encontrou em Macapá quando veio governar o recém-criado Território Federal. Janary sabia o que o esperava. O único caminho que se poderia abrir no cipoal que dera de encontro era o da educação. Seu slogan de governo era "Sanear, educar e povoar", não necessariamente nessa ordem, mas literalmente para pôr em prática uma proposta radical de mudança para o futuro. Até hoje há quem lamente ter saído da frente da cidade e ido "lá pros campos do Laguinho", como diz o "ladrão" do marabaixo. Mas há quem ainda louve a iniciativa de "saneá-la" à época, senão Macapá seria a mesma coisa hoje.

Se Janary não conseguiu plantar a tal Civilização do Equador, com sua Mística, fica o registro da tentativa. Hoje, mais do que nunca pensar no futuro não é mais trabalho só de videntes, mas uma prática comum de quem mapeia a virtualidade do tempo com as principais incertezas e as certezas relativas do que ocorrerá em breve, com chuvas e trovoadas ou com um céu de brigadeiro.

Creio que no rol das certezas que todos querem fica a necessidade de viver sem a expectativa de uma guerra mundial, mas com um mundo cada vez mais globalizado economicamente e com um contraste social volumoso. Fato que induz a busca constante de tecnologias que poderão amenizar o sofrimento dos menos privilegiados. Especialistas dizem que o país do futuro é aquele cujo motor atual é o seu complexo informático-industrial-militar, sem o qual não há garantia de se manter, apesar dos grandes dispêndios exigidos para o seu funcionamento. Nesse tema, dada a complexidade da economia atual, fica a lição do mestre, desembargador Luiz Carlos: "quem quiser se dar bem no futuro tem que aprender o mandarim".

Um comentário:

  1. Parabéns Fernando. Texto escrito em 2008 e hoje, nas portas de 2010, continua atual. Leio seu blog diariamente e sempre me surpreendo com a clareza de suas idéias. Continue. Está prestando um grande serviço às pessoas que o visitam pela excelente qualidade de seus textos.

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