quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

E COMO FICA A SOCIEDADE?

analfabetopilitico Publicado no jornal Tribuna Amapaense de 22/02/11

Uma das coisas que mais me chamou a atenção sobre o cotidiano político local foi o estado de inércia que se estende pela Assembleia Legislativa hoje. E lá se vão dois meses em que a situação se complicou e não sai do impasse.

Uma instituição cujo cotidiano é a ausência da maioria dos parlamentares e administrada por uma minoria me traz a lume uma situação enfrentada por pessoas de cultura diferentes que nunca se viram antes. Um cenário extremamente ligado à questão da identidade, algo complexo, onde a significação está em como essas pessoas representam a si próprias, antes de perguntar como elas representam a sociedade.

O trabalho dos deputados traduz a dificuldade de como lidar com o outro, pois vivem constantemente uma relação alteritária, na qual há dúvidas e dificuldades expressas, posto que mudar, modificar, transformar a realidade concreta exige mais que um jogo de silenciamentos (ou de conspirações). E algo precisa ser dado de retorno a comunidade, para que ela tenha pelo menos um pouco de segurança sobre o que se faz entre os que tomam as decisões por ela. Ora, os péssimos acontecimentos políticos recentes já dão idéia de como abordar questões mais difíceis, de como compreender, como definir uma identidade política para o Amapá. Mas como lidar com esse fato, como compreender o trabalho dos políticos? A sociedade tem que se esmerar para poder achar um caminho que compreenda esse grupo e tratar uma análise mais acurada sobre essas relações. O que é o simbólico do grupo político? O que é o social e a identidade dessa classe? Mesmo perplexa com o caso inusitado, a sociedade tem que buscar mais que uma simples análise, com fundamento científico, para compreender a lógica da política que anda mesmo é deturpada pela aplicação de outra lógica, me parece, a da destruição da simbologia política. Uma lógica paradoxalmente ausente do seu principal insumo, tão necessário para a sua manutenção: o diálogo.

Não quero aqui nem mais pensar na possibilidade de passar pela experiência da conversão política para buscar um possível desvelamento dessa realidade a partir do que chamam “visão interior”. (Há tempos tentei, sim). Toda cultura é específica. A política, mais complexa ainda, é diferente e tem suas especificidades desde a sua aparência. Ela é absolutamente peculiar a si mesma. E tem a ver fundamentalmente com a ordem da vida social e se explica - grosso modo - pelo que os homens e mulheres se dizem entre si. Daí a necessidade do deciframento constante do que os políticos fazem, posto que estes articulam significados que orientam seus comportamentos. São agentes, produtores e reprodutores da cultura política. A sociedade é um dos sujeitos dessa relação. Não pode ficar separada, ausente ou simplesmente desprezada só porque seus representantes vivem um impasse.

Que medidas legais se interpõem nesse processo? E que jogo de interesses se movimentam por trás esse fato? Os deputados têm que dar muitas respostas à sociedade, afinal foram eleitos para serem os legisladores dela e da sua vida cotidiana, que precisa ser melhorada a cada dia, afinal depositou suas esperanças neles.

Já que uma relação se realiza através de sujeitos, ela é sempre uma relação de interesses, que implica poder, que implica apropriação. E já que a sociedade é o sujeito mais prejudicado nessa relação porque não há troca real de benefícios, a classe política do Amapá, especificamente os membros do poder Legislativo estadual, deveriam pensar mais na instituição como o “topos” da democracia e não transferir a ela valores ideológicos diante de uma ordem social ainda injusta e opressora.

Imagem disponível em www.sued.santos.blog.uol.com.br

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

COLUNA CANTO DA AMAZÔNIA

Publicada no jornal Tribuna Amapaense de 19/02/11

MESTRADOS & DOUTORADOS

A Universidade Federal do Amapá está trabalhando com rapidez a construção de projetos de mestrado institucional e doutorado junto a CAPES.

Segundo as informações da pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, profª. Drª. Adelma Barros Mendes, a ideia é implantar cinco novos cursos de mestrado institucionais: Engenharia; Nanotecnologia; Linguagem, Sociedade e suas Novas Tecnologias; Ciências Sociais e Formação de Professores. Os doutorados serão em Linguística Aplicada (em parceria com a UNICAMP) e na área de Saúde, que está sendo negociado com a USP e a UFRGS.

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

A pró-reitora afirma que o empenho da instituição é grande e que as propostas estão sendo mandadas para serem aprovadas, visto que o objetivo é qualificar mais ainda o quadro de professores da UNIFAP e das diversas instituições públicas do Estado do Amapá.

Uma antiga reivindicação dos técnicos da UNIFAP também deverá ser atendida, com a implantação de um mestrado em Administração.

ELFREDO CONTA JANARY

O agradável livro do jornalista Elfredo Távora é um documento precioso da história recente do Amapá. Trabalho memorial e corajoso, que conta a história dos bastidores da política podre de Janary Nunes, desde que veio governar o Território em 1943.

Fala de pessoas honradas e da trajetória combativa do seu Jornal “Folha do Povo”; conta do terrorismo moral que deixava a população amedrontada; das perseguições do caudilho a políticos que se posicionavam contra suas ordens e das traições políticas. Mas enfatiza a outra face desse militar vaidoso e arrogante que adorava ser bajulado. ”Folhas soltas do meu alfarrábio, um livro para meus filhos”, na realidade é um livro para todos os que se interessam pela história política do Amapá.

ABREU NÃO FARÁ FESTA

O tradicional festival de músicas de temas dos blocos da capital, que acontecia sempre próximo ao carnaval todos os anos no Bar do Abreu, este ano não acontecerá.

Ronaldo, o proprietário do bar não conseguiu a complementação logística necessária para a realização do tão esperado evento da Avenida FAB. Foi recebido pelo chefe de gabinete da SECULT, com “- Não temos recursos!” deeeste tamanho. Nem sequer viram o projeto. Com esse será mais um evento que se tornou inviável no quadro de acontecimentos do nosso carnaval e que certamente desaparecerá da memória das nossas tradições.

FESTIVAL DE DANÇA

Como nos anos anteriores, a Escola Estadual Princesa Isabel vai realizar o seu festival de danças, promovido pela Companhia de Danças Princesa Isabel.

Serão dezenas de crianças e adolescentes se apresentado em quadros, onde mostram diversos estilos e gêneros de dança: da tradicional à moderna. O evento ocorrerá no dia 27 no Teatro das Bacabeiras, às 19h00, ao preço de R$ 10,00 o ingresso, e terá a direção do professor e coreógrafo Josenildo Júnior.

O festival não ocorreu no ano passado, mas quando ocorre é sempre prestigiado pelos pais dos alunos e pela classe artística, devido a qualidade e resultado do trabalho apresentado.

DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Os professores do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento regional da UNIFAP vão se reunir na próxima quarta-feira, 23, para deliberar uma série de assuntos, entre os quais, prorrogação de prazos de defesas de dissertações, solicitação de qualificações, propostas de disciplinas, etc. Normal até aí.

Mas a pauta também traz um problema sério que os mestrandos vêm passando já há algum tempo: os professores orientadores, que são assim denominados porque deveriam dar orientação aos discentes, não o fazem. Tem professor que só quer o status e está prejudicando os alunos. Professor desse tipo tem que ser afastado do programa.

TROTE 

O trote dos calouros do curso de Jornalismo da UNIFAP aconteceu na
última terça-feira, dia 15 e foi de estímulo à leitura. Os alunos irão
libertar livros no campus Marco Zero.
A inciativa faz parte do movimento Livro Livre Amapá, de estímulo à
leitura. A ideia é colocar em circulação livros em pontos de grande
movimentação de pessoas.  Os que pegarem as obras não devem guardar em
casa, mas soltar em outro local público após a leitura. Assim, mais e
mais pessoas têm acesso à literatura.
O projeto faz parte de uma inciativa nacional que pode ser acompanhada no endereço http://www.livrolivre.art.br/. No Amapá, o movimento ganhou um blog (http://livrolivreap.blogspot.com/) e teve várias ações de libertação no ano de 2009. A proposta do curso de Jornalismo da
UNIFAP é retomar as ações.

ZUNIDOR

As festividades de São José iniciam no dia 06 de março, dia da inauguração da velha catedral, que fará 250 anos. Haverá uma grande programação da Diocese.

Ontem a cantora Ana Martel apresentou o seu vitorioso show “Branca no Samba” no Armazém Beer.

Termina amanhã em Uberlândia – MG, o 30º Congresso nacional da ANDES. Professores-sindicalistas da UNIFAP estão participando do evento.

O projeto “Qualidade de vida”, dirigido aos servidores da UNIFAP começa a partir do dia 14 de março, sempre depois das 18h00. Será ministrado por professores do curso de Educação Física, com atividades de dança, capoeira, caminhada, hidroginástica e natação.

Até 05 de março estão abertas as inscrições para o Prêmio Sebrae de jornalismo. Informações no site: www.potalimprensa.com.br/premiosebrae

Inderê! Volto zunindo no sábado.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

ANA MARTEL apresenta “BRANCA NO SAMBA”

DSC06325 Com um repertório mesclado composições de sambistas renomados da música brasileira, ANA MARTEL volta ao Armazen Beer nesta sexta-feira (18) com o show “BRANCA NO SAMBA”.

Quem não viu, vai ver que nunca levou fé”, canta Ana Martel na música que dá nome ao show, uma composição de Biratan Porto, Paulo Moura e Marcelo Sirotheau e, desta forma, convida seus admiradores para uma noite de samba em todas as suas vertentes.

Para completar a performance a banda-base é formada pelos músicos Huan Moreria (percussão) Ian Moreira (contrabaixo) Higo Moreira (cavaquinho) Valério de Lucca (bateria) Lucas Borges (piano) e Mexicano (violão).

Serviço:

Show: Branca no Samba

Local: Armazen Beer/av: Presidente Vargas, Centro

Data: 18 de fevereiro Hora: 22:30

Mesas antecipadas: R$ 60,00

Contatos: 9149-9536

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

COLUNA CANTO DA AMAZÔNIA

Publicada no jornal Tribuna Amapaense de 11/02/11

ELFREDO TÁVORA

elfredo_foto joseli dias A Confraria Tucuju realizou na quinta-feira passada o lançamento livro “Folhas soltas do meu alfarrábio – Um livro para meus filhos”, do escritor Elfredo Távora. A obra, dedicada aos filhos do autor, apresenta conteúdo autobiográfico, com assuntos referentes aos bastidores da política amapaense. Elfredo Távora Gonsalves – escrito assim com “s”, nasceu dia 14 de janeiro de 1922, em Belém do Pará. Descendente direto de portugueses, Elfredo passou parte a infância e a adolescência na Ilha da Madeira, em Portugal. Aos 20 anos voltou para o Brasil e se fixou no Amapá em maio de 1943, para onde veio cuidar dos seringais deixados pelo pai George Meyer Gonsalves. É sobrinho do escritor homônimo seu, que em 1928 publicou “O Verdadeiro Eldorado” (sobre o Amapá de então).

50 ANOS DE SERESTA E SAMBA

manoel sobral O cantor Manoel Sobral, que este ano faz 50 anos de música, vai comemorar a data em grande estilo. Está selecionando o repertório para a gravação de um novo CD, depois do sucesso do seu “Boa Noite, Macapá”, de alguns anos atrás.

Conheci Sobral há exatos quarenta anos, quando o acompanhei na música “Maria”, um samba de Hernani Victor Guedes, no III Festival Amapaense da Canção, no ginásio coberto Avertino Ramos. A música ficou em 2º lugar. Ele também cantou, juntamente com a Maria Tavares, uma música do Sílvio Leopoldo que ficou em terceiro. Antes mesmo desses festivais o cantor já fazia serenatas nas ruas da cidade, acompanhando o dr. Edson Correia, um incorrigível amigo e boêmio.

Recentemente Sobral participou do show “Leve, Livre e Solto”, ao lado de Juliele e do compositor Evaldo Gouveia, na Chopperia da Lagoa.

MONUMENTO SÃO JOSÉ

são josé No rescaldo do aniversário de Macapá, quando as idéias de amor por ela florescem mais, um grupo de entusiastas tucujus, entre os quais dois “josés”, estão pretendendo levantar uma grande campanha para que se possa construir um novo (e grande) monumento para o nosso padroeiro, no mesmo lugar onde sua estátua se encontra agora.

Durante a campanha eles pretendem ter o apoio da Igreja e da comunidade católica amapaense (São José também é o padroeiro do Estado) para fazer do monumento algo grandioso, unindo o trapiche a ele, para que visitantes e turistas possam apreciar a frente de nossa cidade. Vão levar para o memorial do santo um pouco de terra de cada município, para selar o compromisso de todos.

Na realidade querem embelezar um pouco mais a Beira-rio e ampliar na sociedade um carinho maior pelas nossas coisas. Tomara que dê certo.

INVENTÁRIO

batuque_ As ricas folias de santos das comunidades quilombolas, que quase passam despercebidas enquanto atividades culturais, agora serão registradas através de um projeto cultural. Trata-se do Inventário das Folias Religiosas do Amapá, que vem sendo desenvolvido pelos pesquisadores Decleoma Lobato e Zezinho Duarte.

Apesar de ainda não terem conseguido patrocínio, deverão realizar o projeto através da Confraria Tucuju ou da Associação Amapaense de Folclore e Cultura Popular. Pretendem registrar e catalogar as belas folias de São Joaquim (Curiaú), N. Srª da Piedade (Carvão, Ajudante, Igarapé do Lago e Mazagão Velho), São Benedito (Mazagão Novo e Conceição do Maracá) e São Tomé (Carvão), esta última em dezembro, quando também ocorre o Batuque e o Çairé.

VALE CULTURA
Ao democratizar o acesso à cultura, o Projeto de Lei 5798/10 obteve o apoio do Ministério da Cultura, da Frente Parlamentar Mista de Apoio à Cultura, da classe artística, dos trabalhadores, do universo acadêmico, do setor produtivo e da sociedade em geral.
Através do cartão Vale Cultura, o empregador poderá conceder facultativamente ao trabalhador o valor de R$ 50,00 por mês, para fins exclusivamente culturais como cinema, teatro, museu, espetáculo artístico, aquisição de CD e livro. Os cofres públicos não serão onerados, pois o Vale Cultura será pago pelo empregador, sendo que o trabalhador poderá contribuir facultativamente com até R$ 5,00.
Segundo a Constituição Federal (Art. 215) compete ao Estado garantir a todos, o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, apoiar e incentivar a valorização e a difusão das manifestações culturais, através da democratização do acesso aos bens de cultura.

CONCURSO DE ARTES PLÁSTICAS

O Ministério das Relações Exteriores estará com as inscrições abertas  até o dia 25 de março de 2011, para o I Concurso Itamaraty de Arte Contemporânea.
O Concurso Itamaraty de Arte Contemporânea, de periodicidade bianual, concederá prêmios nas áreas de pintura, escultura, fotografia e obras em papel. As obras selecionadas passarão a fazer parte do acervo do Ministério das Relações Exteriores, podendo ser expostas no Palácio Itamaraty e por toda a rede de Embaixadas e Consulados do Brasil no exterior.
O Concurso visa a incentivar a produção brasileira de arte contemporânea e a ampliar sua divulgação no exterior.
Cada artista poderá inscrever apenas uma obra no certame. Para inscrevê-la, o interessado deverá enviar ao endereço eletrônico: artecontemporanea@itamaraty.gov.br:

ZUNIDOR

O jornalista Renivaldo Costa pagou o maior mico no seu aniversário. Pegou uma faringite violenta e ficou mudo durante alguns dias. Estava torcendo demais pelo Botafogo.

Mas o ENEM, heim? Os caras se inscrevem em outros estados, passam no P.S. e não dão as caras. Algo falhou.

O escritor e jornalista Elfredo Távora foi perseguido durante o regime militar. No período da transição do autoritarismo para a Nova República foi chefe de gabinete do governador Jorge Nova da Costa.

O voto de Minerva do presidente Agostinho Lopes decidiu que os 12 blocos da LIBA vão desfilar.

O incêndio na cidade do samba foi lastimoso para as escolas que perderam quase tudo. Não perderam, entretanto, a dignidade, e vão desfilar.

O Dia da Mulher cai na terça-feira gorda. Muito nego louco vai se travestir com prazer.

“Quem não compreende um olhar tampouco entenderá uma longa explicação” (Mário Quintana)

Inderê! Volto zunindo no sábado.

Lívia Cafusa

bogea J. Arthur Bógea 1941V2007

          Esta mulher, Lívia Cafusa, sem sobrenome, como referência apenas a cor da pele, é a imagem da história do Amapá, perdida entre muitas histórias, absolutamente secundárias, em registros antigos. Ninguém sabe que “Lívia Cafusa solteira a qual veio do Maranhão e se chama degredada atualmente no Macapá pôr mal prontidas” [procedimento] faz parte da história maior.
          Um pequeno registro sobre Lívia se encontra no livro da segunda visitação do santo ofício da inquisição ao estado do Grão-Pará – visita que se estende de 1763 a 1769. É citada na denunciação de uma certa Maria Fructuosa. “Aos quatro dias do mês de 1763 anos em a cidade do Pará e hospício de São Boaventura em que [fica] esta mesa da visita e aposentado o Sr. Inquisitor Geraldo José de Abranches visitador deste estado aí mando perante si uma mulher que da sala pediu audiência e sendo presente por dizer [que] a pedira para denunciar o que sabia [...] pôr descargo de sua consciência [...]. E logo disse chamar-se Maria Fructuosa da Silva solteira mulata livre natural”.
          Maria Fructuosa arrola Lívia na confissão, pôr ter aprendido do “denunciado índio Domingos de Souza uma oração ‘mágico religiosa’”. A oração diz: “Meu São Cipriano pela vossa santidade da minha virgindade que quero que me tragas o fulano, sem poder estar nem sossegar sem comigo vir falar”. A prece deve ser feita enquanto se traça uma cruz no chão com o pé esquerdo.
          Lívia vem procurar junto ao feiticeiro a reconciliação junto com o homem que ama. É dominada pela paixão – só isso. A paixão, esse sentimento que também tem história carregada de mortes e tragédias. Lívia apenas isso, quer seu homem de volta. Passa a ser vítima da inquisição.
          A inquisição é criada nos fins do século XII para combater as heresias que surgem na Europa. Com o tempo passa a se preocupar, também com judeus, prostitutas, homossexuais e feiticeiros. Para todos é certa a condenação: o isolamento social, a maldição até a terceira geração, o uso da veste do sambenito que denuncia pôr que “crime” a pessoa é condenada – isto para os que escapam das prisões ou que enviados para a fogueira com que inquisidores, neros católicos, iluminaram o mundo, não apenas Roma. O Santo ofício continua atuante com outro nome, Sagrada Congregação para a Defesa da Fé. Já não queima mais os condenados, o castigo é o “silêncio obsequioso” como o que atinge Leonardo Boff.
          Milhões de pessoas perecem em nome de Deus por onde as armas portuguesas e espanholas estendem “a fé e o império”. Lívia Cafusa é apenas uma referência, não é presa nem torturada, mas está morta para história dos povos, como muitas outras pessoas que são ignoradas pelos livros e escolas - a condenação ao fogo dos tempos que queima em silêncio.
          O Amapá tem uma história que precisa ser desvelada, igual a história de Lívia Cafusa. (Publicado no jornal Feira Maluca. Ed. 03 a 15.09.97)

Saudosa Canoa a Vela

araguarino_ José Araguarino de Mont’Alverne (1920 V2011)
Nos meus tempos de escola, a canoa a vela era o único transporte utilizado para ir às aulas e de retorno à Fazenda, em período de férias.
Belém era o centro procurado por todos, porquanto Macapá, àquela altura, era cidade de rota contrária aos interesses dos que moreja­vam às margens do Rio Araguari.
O barco Aporema e as canoas Macaibense, Safira, Deslizante, So­cial e Excelsa, todas à vela, eram as embarcações que transportavam cargas e passageiros. Por elas o Araguari mandava à capital paraen­se, além do gado bovino para o corte, os produtos nativos, receben­do em contrapartida, artigos do comércio de varejo.
As embarcações saiam da foz do Araguari, geralmente ao romper da aurora, e dependendo da intensidade do vento, entre as nove ou dez horas, já perdia de vista a mata.
Assim, sob um céu que se debruçava sobre o mar e parecia mergu­lhar suas faldas nas águas, além horizonte, viajavam o resto do dia a noite toda, e na manhã seguinte, no começo da tarde, o tripulan­te, do topo do mastro, já indicava, com entonação de alegria, que tinha mato à vista. Era o Cabo do Maguari, na Ilha do Marajó, a ca­da minuto encurtando mais a distância que o separava da embarcação.
Sua ultrapassagem era cronometrada pela voz cantante e cadencia­da do proeiro recostado às enxárcias, um pé sobre o convés e o ou­tro firmado no alcatrate, que manejando com extrema habilidade a corda da sonda, gritava incessantemente, a ser ouvido pelo piloto: "uma braça escassa! uma braça! uma braça e dois palmos! braça e meia!..." e sua voz continuava até a sonda indicar profundidade suficiente, dando a certeza da embarcação haver atingido o canal. Estava montado o Cabo, e a canoa velejava vento à popa, fugindo sobre o mar.
Ao longe, o sol poente multicoloria o céu crepuscular com seus raios estilhaçando as nuvens. No mar, sobre as águas revoltas, dezenas de vigilengas e tapaiuaras, no seu caminhar de cisne, demandando da pesca da gurijuba e da piramutaba, bordejavam céleres, para montar o Cabo antes que a noite chegasse.
Essas canoas, vigilengas ou tapaiuaras, freteiras ou não fretei­ras, eram caprichosamente pintadas a cores vivas e brilhantes, decoradas com figuras pitorescas e enfeitadas com bandeiras que tremulavam como acenos de adeus, ao sopro da menor brisa; eram bem equipadas e a tripulação primava pela sua limpeza e se orgulhava de sua canoa. Em cada uma delas, vinha o triunfo de uma boa pesca ou bem sucedida porfia.
Pompílio Jucá, autor de "As Ilhas" e também de muitas poesias, costumava cantar em versos as proezas dessas embarcações e a valen­tia de sua tripulação, que sem bússolas, tendo apenas a intuição a nortear, afoitava-se mar afora, com suas canoas leves e pequenas como cascas de noz.
Exaltando a sua "Favorita", escreveu o poeta Pompílio:
Bela canoa pintada,
Feita por mestre Cutuba,
Anda longe da beirada
Na pesca da gurijuba.
Nunca achou, a Favorita,
Outra que leve vantagem,
Vai sempre fazendo fita
Até o fim da viagem.
Tendo o Zé Grande no leme
E o Coati como proeiro,
A Favorita não teme
Força de vento ponteiro.
Da ponta do Maguari
Levanta com vento forte,
Fundeia no Cunani
Sem ver o Cabo do Norte.

Ai que saudades que eu tenho...
Mesmo em Macapá, quantas e quantas vezes, em tardes alegres de verão, a gente ficava no terraço do antigo Macapá Hotel unicamente, para se deleitar, apreciando a porfia ou o viajar despretensioso das inúmeras canoas de velas tingidas com tintura extraída do paricá, que aportavam ou deixavam a extinta Doca da Fortaleza.
Hoje toda essa beleza de vai e vem de embarcações a vela, borde­jando e sulcando altaneiras as águas do rio gigante e seus afluen­tes, já não existe mais. O motor a óleo diesel foi aos poucos profanando e desvirginando todo esse deslumbramento.   

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Pero Vaz de Caminha praticou nepotismo? E Camilo Capiberibe, do Amapá, que deu emprego público para a mãe?

Por Ray Cunha (http://raycunha.blogspot.com)

caminha A ex-deputada Janete Maria Góes Capiberibe perdeu o cargo na Câmara Federal mas não ficou desempregada. Seu filho, Carlos Camilo Góes Capiberibe (PSB), governador do Amapá, colocou-a no comando da representação em Brasília, com status de secretária de estado. O pai de Camilo, João Capiberibe, quando foi governador indicou sua irmã, Raquel Capiberibe da Silva, conselheira do Tribunal de Contas do Amapá, um dos salários mais cobiçados no país. E daí? Daí que Camilo era a esperança de moralidade na terra que perpetuou Zé Sarney presidente do Senado. Nepotismo é uma maneira de homens e mulheres de colarinho branco meter a mão no dinheiro público para enriquecer a família. Nepotismo e patrimonialismo no Brasil só serão extintos com reforma do Estado brasileiro.

Em artigo - O nepotismo, o emprego e o Estadão - publicado em 31 de agosto de 2008 no jornal O Estado de S.Paulo, o então embaixador de Portugal no Brasil, Francisco Seixas da Costa (hoje, embaixador em Paris), protesta contra o uso brasileiro de citar Pero Vaz de Caminha pedindo emprego ao rei para um parente como o primeiro sintoma de nepotismo registrado no Brasil-colônia. O argumento do diplomata é correto e a indignação que suas palavras, embora cuidadosas, deixam entrever, é justa, pois na época do escriba Caminha o rei era dono de tudo, de modo que um escrivão do rei teria que pedir pelos seus ao rei, óbvio. Os tempos eram outros.

Se a evocação brasileira é injusta, embora simbólica - porque nossa cultura administrativa, incluindo o velho e vigoroso patrimonialismo, é herança portuguesa -, o nepotismo é uma das pragas que trava nosso desenvolvimento. O momento histórico contemporâneo é absolutamente diferente de 1500. Hoje, no Brasil, reis são folclóricos, mas presidentes e governadores procuram enriquecer suas famílias em quatro ou oito anos; não há mais barões, mas ministros e parlamentares metidos nas mais torpes e sofisticadas negociatas, com o objetivo de ampliar seu patrimônio; não há mais senhores feudais, mas prefeitos que chegam a planejar meticulosamente o saque da burra.

Há, inclusive, parlamentares que defendem o nepotismo como se sua eleição lhes desse o direito de se apossar do patrimônio público. Nessa marcha, esses aristocratas pós-modernos fazem de suas famílias verdadeiras quadrilhas, nas quais seus familiares assumem postos estratégicos para o bom andamento da negociata.

O nepotismo e o patrimonialismo no Brasil só serão extintos quando acontecer a utopia de o povo se levantar, por meio das instituições que o represente, e exigir a reforma política, a reforma tributária, a reforma agrária, a reforma do ensino público, a reforma do Estado brasileiro.

Segue-se, na íntegra, o desabafo do embaixador Francisco Seixas da Costa.  

O nepotismo, o emprego e o Estadão

Por FRANCISCO SEIXAS DA COSTA

Ao ler no editorial do Estado de S.Paulo, de sábado, 23 de agosto, que o nepotismo era o produto residual “arraigado” da herança colonial portuguesa, senti reproduzida, pela multi-enésima vez, a referência à expressão em que Pero Vaz de Caminha pede ao rei, na sua famosa Carta, emprego para um seu parente.

Talvez “porque hoje é sábado”, como diria Vinícius (o poeta Vinícius de Moraes), dia em que os jornais se leem com maior vagar, detive-me a refletir um pouco no verdadeiro conteúdo do que foi escrito pelo cronista do “achamento”. Ao formular a sua reverente petição ao rei, Caminha não estava a nomear ninguém para um cargo público, a colocar filho ou primo num gabinete ou numa sinecura paga pelo erário, na rentável administração de uma estatal, estava longe de pretender falsear um concurso público. Limitava-se a solicitar ao soberano, num tempo em que só a este cabia prover discricionariamente todos os lugares, no seu livre e indisputado arbítrio, um emprego para pessoa ligada à sua família. Assim acontecia em todo o mundo, de que Portugal não era exceção.

O pedido de Caminha, que se tornou num bordão referencial da ética pública brasileira, mesmo de quantos se não deram ao trabalho de ler o texto da Carta, passou a representar o exemplo tipificado de nepotismo, não obstante incontáveis contribuições posteriores terem ajudado a recortar, com bem maior sofisticação, essa histórica prática - e não apenas no Brasil, é claro. Para alguns, porém, a frase de Caminha permaneceu como um ferrete que terá marcado, por uma misteriosa eternidade, o DNA brasileiro, transformando-se numa herança ético-administrativa de raiz pecaminosa. Ela reemerge sempre como pernicioso ranço luso, nas horas em que a retórica de alguns oradores já esgotou os clássicos bebidos no Reader’s Digest. Não é este, como é óbvio, o caso do Estado de S.Paulo.

Neste reiterado uso do exemplo de Caminha subsiste, porém, um pequeno, embora quiçá despiciendo, pormenor: “nepotismo” não é nada disso. Trata-se de aproveitar a titularidade de lugares da administração pública para oferecer livre colocação a parentes (etimologicamente, a sobrinhos), passando a alimentá-los à mesa do orçamento. Nem mais, nem menos. E disso, convenhamos, Pero Vaz de Caminha está inocente, sem necessidade de liminares ou recursos.

Longe de mim, como atual embaixador de Portugal, arvorar-me numa espécie de advogado-geral do tempo colonial. Bem me tem bastado, ao longo desde ano, ajudar à gestão póstuma das obras e graças do senhor dom João VI. Mas enquanto usufrutuário comum da bela língua que nos une, sinto-me no dever de colocar os pontos nos is, enquanto um novo Acordo Ortográfico os não abolir. E relembrar que, no século 16, ser solicitado um emprego para alguém - familiar, amigo ou correligionário -, pedido formulado a quem tinha então o legítimo poder para o conceder, não configurava nada que se pudesse identificar com o conceito de nepotismo, nem sequer com a ideia de fisiologismo - impressiva expressão brasileira que passo os dias a tentar traduzir aos meus perplexos compatriotas, a quem a prática não é alheia, mas para a qual não dispunham de tão interessante instrumento qualificativo. Por isso, entendamo-nos de vez: Caminha não praticou nepotismo. Para confirmar isso, basta ler o vosso excelente Aurélio ou o nosso magnífico Moraes.

Mas por que razão, estarão a perguntar-se os leitores, terá o embaixador de Portugal tomado o Estadão como alvo deste seu preciosismo terminológico, quando o tema é recorrente em tanta outra imprensa? Por um motivo de oportunidade, que nada tem a ver com o nepotismo, mas que se prende com o emprego.

Sem que tal represente menor consideração pela restante imprensa brasileira, cuja qualidade é reconhecida internacionalmente, talvez neste país se desconheça que muitos de nós, portugueses, sempre olhamos para o Estado de S.Paulo de forma muito particular. Nos longos anos em que, em Portugal, a liberdade não passava de uma miragem que se mantinha no horizonte longínquo, o Brasil acolheu, com imensa generosidade, muitas figuras que a ditadura salazarista alienava da vida cívica portuguesa. Nesse tempo, o Estado de S.Paulo destacou-se como porto de abrigo para algumas dessas personalidades, as quais, frequentemente, eram menos bem acolhidas por alguns compatriotas, aqui residentes, que não partilhavam ou rejeitavam mesmo o progressismo das suas ideias, porque haviam optado por se manterem próximos do regime que vigorava em Portugal.

Foi o Estado de S.Paulo, foi a figura honrada de Júlio de Mesquita Filho, quem deu então uma mão solidária a vários profissionais exilados da imprensa portuguesa, bem como a outras figuras da Oposição ao salazarismo, oferecendo-lhes emprego, ajudando-os a reconstituir a sua vida e a sustentar o seu quotidiano. Nada disso era feito por adesão ideológica ou doutrinária, por qualquer interesse ou favoritismo, mas simplesmente por um sentimento de simpatia e pela partilha de uma magnífica e rara ética de solidariedade. Nomes como Vítor Cunha Rego, Miguel Urbano Rodrigues, João Alves das Neves, Carlos Maria de Araújo, João Santana Mota ou mesmo Henrique Galvão, puderam encontrar no Estadão um apoio essencial, nesse tempo de turbulência de suas vidas.

Por essa razão, por essa memória grata e afetiva que os democratas portugueses devotam ao Estado de S.Paulo, sentimo-nos livres para pedir que, quando um capítulo da nossa História em comum vem a lume, num dos seus editoriais, aliás, sempre redigidos num excelente “português de lei”, o máximo rigor seja mantido. Achamo-nos, assim, no direito de exigir ao Estadão, com toda a cordialidade e imensa simpatia, a absolvição póstuma de Pero Vaz de Caminha, que nunca pisou os terrenos pantanosos do nepotismo e se limitou a exercer o direito à solicitação de um singelo emprego.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

É BIG! É BIG! Professor Munhoz

 munhoz_fernando Hoje é aniversário do Professor Munhoz, grande mestre por quem tenho grande admiração e respeito e está como Irene, sempre de bom humor.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Uma bomba do ENEM na UNIFAP

Sobraram 151 vagas para serem preenchidas na repescagem, quase 50% só no curso de Medicina.

Foi publicado hoje, 09 de fevereiro de 2011, no site da Universidade Federal do Amapá, a lista de segunda chamada de matrícula para os cursos de graduação que a instituição oferece o popular listão de repescagem. Procedimento normal, se não fosse o quantitativo elevado do rol de vagas dos candidatos que não fizeram a matrícula quando da publicação do listão de aprovados no Processo Seletivo Vestibular 2011-UNIFAP.

A lista da segunda chamada apresenta um total de 151 indivíduos que estão sendo convocados para efetuarem a matrícula, nos dias 11 e 12 de fevereiro de 2011.

Este ano a UNIFAP implantou a novidade de que 50% das vagas seriam preenchidas por meio do tradicional vestibular e as 50 % das vagas seriam por meio da nota obtida do Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, que foi uma das estratégias adotadas pela instituição para contornar o não preenchimento de vagas que tem acontecido nos últimos anos.

Quando da divulgação do listão dos aprovados, no dia 22 de janeiro, sábado de manhã, causou muita estranheza a redução de famílias comemorando a aprovação dos seus rebentos. Uma das explicações é que quem concorreu pela nota do ENEM não sentiu a mesma sensação que anualmente experimentam os aprovados no resultado final do vestibular

Agora, a publicação desta lista de segunda chamada pode significar a debilidade da estratégia adotada pela instituição, em conceder metade das vagas para os indivíduos interessados em apenas apresentar na UNIFAP a média que eles obtiveram no ENEM, e paralelo a isso, concorrerem presencialmente nos processos seletivos de outras universidades e faculdades particulares. O resultado disto, é que os candidatos têm a possibilidade de escolherem onde vão se matricular e cursar a graduação.

151 pessoas estão sendo convocadas nesta segunda chamada, boa parte resultante da decisão dos aprovados iniciais que decidiram não matricularem-se na UNIFAP.

Conforme cálculos realizados, das 1026 vagas oferecidas pela UNIFAP no Vestibular 2011, 513 foram para os vestibulandos tradicionais e 513 foram para os inscritos apenas com a nota do ENEM. E 151, por exemplo, em relação às 513 vagas do ENEM, equivale a 29%.

Um item que chama a atenção é que dos cursos que estão na lista da segunda chamada, o curso de Medicina é o que apresenta a maior quantidade de vagas não preenchidas na primeira convocação. São 13 nomes que lá aparecem, o que significa que das 30 vagas do curso tão cobiçado de Medicina, 13 pessoas declinaram de preenchê-lo, para alegria dos que aparecem nesta lista de repescagem. Resta agora esperar se com esta segunda chamada, serão preenchidas as vagas da referida instituição.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

ANA MARTEL FAZ BRASILEIRÍSSIMO SHOW “BRANCA NO SAMBA”

ana martel_ A cantora e compositora amapaense Ana Martel mostra seu lado brasileiríssimo no show, “Branca no Samba”, em duas apresentações, dias 11 e 18, no Armazen Beer. O repertório tem músicas de sua autoria e de compositores da velha geração, como Paulinho da Viola, Chico Buarque, Arlindo Cruz e os novatos no samba Pedro Luis e Roberta Sá. A banda base que acompanha Ana Martel é um show à parte, formada por experientes músicos de corda, sopro  e percussão que farão uma roda de samba inovadora.

Ana Martel é uma das poucas artistas nascida no Amapá que canta e compõe em parceria e individualmente. Pioneira, ela foi a primeira amapaense a gravar um CD com o incentivo da Lei Rouanet, o “Sou Ana” foi lançado com oito músicas de sua autoria e três de outros compositores. Em seus trabalhos mostra suas vertentes musicais incluindo toques de marabaixo, batuque, samba e word music. Ana faz ainda diferença quando faz parcerias. Os nortistas Zé Miguel, Joãozinho Gomes, Enrico Di Miceli, Paulinho Moura, Ubiratan Porto e Val Milhomem são apenas alguns que contribuem para que a arte de Ana se complete.

Com quase 30 anos de carreira e muito chão em Macapá, Belém e outros cantos do Brasil, Ana Martel realiza, com “Branca no Samba” o sonho de ser reconhecida pela sua autenticidade e enraizada brasilidade. Com produção de Preta, o show é pra quem gosta de música brasileira com qualidade garantida. (Marileia Maciel)    

Serviço:

Show: Branca no Samba

Local: Armazen Beer / Data: 11 e 18 de fevereiro / Hora: 22:30

Mesas antecipadas: R$ 60,00

Contato: 9127-2000

É BIG! É BIG! Renivaldo Costa

renivaldo_ Parabéns ao meu irmão e amigo Renivaldo Costa que aniversaria hoje. Sucesso!

CONCERTOS DE PSALTÉRIO, RABECA E VIOLA

Por Fernando Canto

psalterio2 psalterio

Rabeca
 
 Viola

Sempre quis saber como se divertiam os membros das comitivas nobiliárquicas que vinham para a Amazônia no século XVIII. Naturalmente que as condições estruturais e climáticas não eram lá espetaculares para se fazer festas, embora as pessoas, com seus cargos e funções, tivessem responsabilidades inerentes a eles e nem sempre pudessem comemorar algo, a não ser suas conquistas ou datas magnânimas para o Cristianismo. E era uma época em que a Igreja ainda estava atrelada ao poder dos governos europeus (com raríssimas exceções), e estes ao poder papal. Toda expedição que se prezava tinha a bordo um capelão, um padre escrivão ou mesmo padres missionários e confessores prontos para as missões as quais eram destinados.

Mas foi lendo o Compêndio das Eras da Província do Pará, de Antonio Ladislau Monteiro Baena (UFPA, Belém, 1969) que pude constatar a participação desses membros em recreações coletivas. E tem muito a ver com a história de Macapá.

Tendo que voltar ao Rio Negro em 16 de janeiro de 1758, o capitão-General Francisco Xavier de Mendonça Furtado, “porque foi avisado pelo Plenipotenciário e Primeiro Comissário Castelhano de que no ano subseqüente se havia de achar indefectivelmente com a sua Partida na Povoação de São Fernando. Nesta viagem seguido do Ouvidor Corregedor Pascoal Abranches Madeira Fernandes demandou as Aldeias missionárias pelos Jesuítas (inclusive a povoação de Macapá, que seria elevada à Vila no dia 4 de fevereiro desse ano) para praticar a Lei de 6 de junho de 1755, que lhe permitia converter em Vilas aquelas que tivessem circuito capaz deste predicamento, e em Lugares aquelas cuja população fosse menos considerável, ficando tudo sujeito à jurisdição do Ordinário. Na nomeação dessas novas Vilas e Lugares para esquivar-se de ser onomaturgo adota as denominações das que em Portugal pertencem à Coroa, Casa de Bragança, Terras do Patrimônio da Rainha, Infantado e Ordem de Cristo. Nesta extensa digressão certas pessoas do seu séqüito o recrearam com danças e concertos de psaltério, rabeca e viola, e outros prazeres da graciosa humana sociedade”.

Ninguém pode ser preciso quanto ao tipo de dança que essas pessoas executavam, mas pela tradição é possível que o “Vira”, tenha sido o canto e a dança que realizavam na época, até por ser muito popular em Portugal. ”O nome provém da coreografia onde os pares, em fileiras opostas, devem virar rapidamente evitando mostrar as costas ao companheiro”. Não se pode descartar também o “Malhão”, uma dança antiga com origens nas províncias do Norte de Portugal e muito praticada no Brasil Imperial pelos próprios portugueses. Segundo nos conta Mário de Andrade no seu Dicionário Musical Brasileiro o Malhão é semelhante à polca da dança moderna.

Mas o que dizer desses instrumentos trazido pelos colonizadores que viajavam por toda a Amazônia fundando cidades, vilas e lugares? Esse estranho nome psaltério é o mesmo saltério, “instrumento de cordas pinçadas com os dedos, da família das cítaras de mesa, cuja caixa de ressonância tem formato retangular, trapezoidal ou triangular” (M.A.). A palavra tem origem no grego “psallo”, que significa pinçar uma corda, mas o instrumento é originário do canún árabe, que por sua vez é instrumento de cordas dedilhadas, que já era conhecido na Europa desde o século XIII. Já a rabeca é um tipo de violino que se popularizou no Brasil e nos enriqueceu o vocabulário com expressões tipo “Rabecada” (reprimenda), “afinar a rebeca à custa do próximo” (censurar, criticar) e “rabequista”, que quer dizer músico medíocre ou sujeito assanhado. A viola também é um instrumento de cordas dedilhadas, semelhante ao violão, com uma caixa de ressonância em forma de oito, e um braço dividido em trastes em cuja extremidade as cordas são fixadas e afinadas por cravelhas. Essas cordas são dispostas em pares e seu número varia entre dez, doze e até quatorze, com afinações diversificadas.

Neste texto fica pendente a última parte da citação de Baena. Mas creio que os “outros prazeres da graciosa humana sociedade” devia ser o vinho, pois numa época em que navegar com velas era um suplício não havia nobre que aguentasse chegar em terra sem tomar um bom vinho do Porto (Do Livro “Adoradores do Sol”, Scortecci. São Paulo, 2010).

Imagens disponíveis em:

Psatério: http://www.funjdiaz.net

Rabeca: http://www.fandangodoparana.blogspot.com

Viola: http://www.packerplayers.blogspot.com

VISTA AÉREA (HOMENAGEM À MACAPÁ)

Letra: Célio Alício/Música: Beto Oscar
macapá_ Manhã de aurora e brilho cálido
De um novo dia sob o Sol, por entre o véu
Da nave louca, doce moça, tu cidade
Jóia rara do quintal da Amazônia.
Do alto espio o tempo, a chuva, o anel da tarde
Num vôo rasante e lento, as asas de Pinzônia
De cima, enquadro tua anatomia
O meu remédio em teu mistério
O que te move e me vicia.
Contemplar-te o panorama
Nas matas de Pindorama
A costa norte, o anel da sorte
Teu negro olhar, tua alquimia
Das nuvens estacionadas no horizonte
Bebo da tela bucólica das enseadas
A tua gente, a tua alma
O rio gigante, o curso d’água
Quem te ama e quem te mata
Quem te cuida ou te maltrata
Bêbada noite, órbita do meu planeta
Ladrilhos e mosaicos nas gravuras dos cometas
No chão amarelado nessa festa, desta feita
Ensimesmados que te entendem
Desassombrados em tua receita
Ó mãe do meio do mundo inteiro,
Olhai teus filhos no terço primeiro
Estação Bacabeira, teus pretos te amam
Morada primeira, ameríndios te chamam
A chuva cinza se condensa e precipita
Na cavidade do sorriso, prima gesta
Via-L’Afritea, Macapaba prometida
Eis que, linda, só deslindas minha festa.
Júpiter-Ambé, Abaca-Marte da Pedreira
Mer-Curiaú, me batucas noite inteira.
Mar-Urano-Anum, feitiço das vilas
Soltas horas, vozes roucas, volta e meia
O rio-mar de têmpera e guache
O barro sagrado no chão de bom grado
Alinhando tuas casas à luz das estrelas
Refletindo no azul o solar das palmeiras.
Vista aérea, meninos alados
Ornamento de linhas, assoalho das aves
Abençoadas margens de igarapés de asfalto
E agora olha, e, então, vê
A tua face espelhada nas estrelas,
Bem pra adiante, o coração andante
No teu futuro refletindo essa grandeza.
Ao léu da sorte, no cais da vazante
Ao mar abaixo das caixas
Tens aberto o horizonte
Entre a lida e a morte
E o final de anteontem.
Palpitando em versos a tua gentileza
Entre a canoa e os carros,
O bálsamo, o cigarro
A corrente que espalha a tua beleza
Embala meus versos a firme certeza
De que um mantra de amor
Anoitece e adormece
A tua cândida natureza.

4 de fevereiro de 2011 12:25

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

ÉBIG! ÉBIG! - Oriana

ori Hoje é aniversário de minha querida filha Oriana. A ela, parabéns, muitas felicidades e muito sucesso. Na foto com suas lindas filhas Ana Clara e Clarice.

COLUNA CANTO DA AMAZÔNIA

Publicada no jornal Tribuna Amapaense de 05.02.11

ANIVERSÁRIO

macapa Macapá completa mais um aninho. 253 anos marcam a sua elevação de lugar a vila, ocorrida no pelourinho da Praça São Sebastião (hoje Veiga Cabral) no dia 04 de fevereiro de 1758, com o discurso do fundador Mendonça Furtado.

Um dia e tanto, registrado pelo historiador português Antonio Baena como cheio de prazeres, com muita comida e bebida, danças e concertos de psaltérios, rabecas e violas, executados pelos músicos que acompanhavam a comitiva do Governador da Província do Grão Pará e Maranhão. Hoje as festas em regozijo à data se repetem na Veiga Cabral, não mais com esses arcaicos instrumentos coloniais, mas com guitarras eletrônicas e vez por outra com um tímido rufar da caixa de marabaixo, lembrando a presença do negro na construção da velha cidade.

NOVA DIRETORIA DA AMCAP

miqueias O músico e arranjador, maestro Miquéias Reis, tomou posse da Associação de Músicos e Compositores do Amapá – AMCAP para o biênio 2011/2012 prometendo muita “transparência”, muito trabalho e muita luta pela categoria.

Quem sai é o cantor/compositor Cleverson Baía, que representa os músicos no Conselho Estadual de Cultura e vai cuidar da sua carreira como cantor. Pretende lançar brevemente, na segunda quinzena de março, seu CD “Arte e Ira”, com 12 faixas, das quais regravou dois clássicos da MPA – “Assim como Raul” (Fernando Canto e Osmar Júnior) e “Planeta Amapari” (Joãozinho Gomes e Val Milhomem).

ADEUS À MARJÔ

marjo Após longa batalha perdida para um câncer, nossa querida Marjô descansou para sempre. O corpo da saudosa ex-presidente da Liga das Escolas de Samba foi velado na quadra da Paróquia Jesus de Nazaré, do jeito que ela pedira ao seu amigo padre Paulo Roberto: com a saudação das baterias das escolas de samba da cidade.

Lembro de Marjô na Guiana Francesa, levando o nosso carnaval para ser apresentado em evento internacional em Kourou. Ela tinha um grande prestígio junto às autoridades daquele Distrito e também em Caiena, onde por muitas vezes participou de eventos culturais. Falava fluentemente o francês e servia de intérprete para a galera que a acompanhava.

ADEUS À MARJÔ 2

heral_almeida O dublê de carnavalesco e radialista Heraldo Almeida me disse que “Marjô era uma guerreira. Corajosa e determinada. Peitava todo mundo, fosse quem fosse, e dizia: vamos fazer, vamos fazer. E fazia”.

Heraldo não economizou adjetivos para elogiá-la. Falou que ela era muito verdadeira e que podia até se prejudicar pelos seus atos, mas que ela falava, falava. Tudo em nome da entidade que presidiava e do carnaval amapaense. E não levava desaforo pra casa. Requiescat in pace!

BONEQUINHA DE PANO

Será no domingo, dia 06, às 19h00, em frente à Casa do Artesão, a apresentação da peça infanto-juvenil “Bonequinha de Pano”, de Ziraldo. A atividade faz parte do projeto “Jornada Cultural”.

O trabalho tem a direção do encenador Cláudio Silva, do Grupo “Ói Nóiz Aqui Traveiz” e vai ser protagonizado pela atriz Sabrina Zahara, que faz papel duplo. Muito amor e emoção marcam a peça, que tem na direção musical Cleverson Baía, os adereços e figurinos a cargo de Bruno Neves e a cenografia do artista plástico Josaphat. Imperdível, leve seus filhos e prestigie nossos artistas.

IEMANJÁ

mãe dulce Não recebi nenhum e-mail ou telefonema informando se haverá uma programação oficial do aniversário da cidade. Mas lembro que até recentemente a Prefeitura prestigiava os grupos afro-religiosos que iam para a frente do rio Amazonas na noite do dia 02 de fevereiro reverenciar Iemanjá, a Rainha do Mar.

iemanjá Era uma festa bonita e cheia de rituais, comandada pela saudosa Mãe Dulce Moreira e coadjuvada por ilustres babalorixás como pai Salvino e Geléia. Ali iam os umbandistas, os praticantes do Candomblé e muitos turistas para assistir os rituais e as danças. Dona Dulce dava banho de cheiro em todas as autoridades presentes e em todos os que pediam a proteção da entidade reverenciada. Depois, em um pequeno barco, soltavam as oferendas sobre as ondas do rio-mar, debaixo de tiros de foguetes.

ZUNIDOR

A banda musical “Belos Tempos”, formada por mais de uma dezena de músicos, como Aldo e Claudete Moreira, Tyson, Alcinão e Bolachinha, vão tocar na sede campestre do Trem Desportivo Clube, hoje, comemorando o aniversário de Macapá. Pretendem resgatar a tradição dos velhos carnavais de salão

O cantor Amadeu Cavalcante continua como Tesoureiro da entidade, pela quarta vez consecutiva. Bebeto é o vice e também quer transparência na gestão. Nada de “salto alto”.

Cristina Moreira, uma das herdeiras do arcabouço musical de sua mãe Dona Dulce, vai gravar um CD com músicas de Umbanda e Tambor de Mina. Saravá!

UNIFAP ficou de luto na segunda-feira passada. Perdeu a Professora Sandra.

“A história do mundo não é senão o progresso da consciência da liberdade” (Hegel).

Inderê! Volto zunindo no sábado.

Da arte e do prazer de escrever

Por Frei Beto

escrever Escrevi ao longo dos últimos 27 anos. Alem de prosseguir no trabalho de textos longos, redijo dois ou três artigos jornalísticos por semana. E... por que escrevo? Trago uma multiplicidade de hipóteses não excludentes.

Escrevo para construir minha própria identidade. Tivesse sido criado por lobos, será que eu me sentiria lobo no mundo? A identidade é também reflexo de um jogo de espelhos. Se pais e mestres me tivessem incutido que sou tapado para as letras, e não me restasse outra alternativa senão trabalhar no fundo de minas, talvez hoje – se houvesse sobrevivido – eu fosse um mineiro aposentado.

Minha experiência, porem, foi diferente. Os espelhos reluziram em outras direções. Já trazia um mim o fator filogenético. Meu pai escreve crônicas. Minha mãe publicou seis livros de culinária. O gato da casa não escreve; mas pelo jeito, gosta de ler, a julgar pelo modo como se enrosca em jornais e revistas.

Veio, então, o fato ontogenético. Segundo ano primário, Grupo Escolar Barão do Rio Branco, Belo horizonte. Dona Dercy Passos, que me ensinou o código alfabético, entra na classe sobraçando nossas composições. (Bonito: composição. Promove a escrita a nível de arte poética e musical.) A professora indaga aos alunos: “Por que não fazem como o Carlos Alberto? Ele não pede aos pais para redigirem suas composições”. A palavra elogiosa pinçou-me do anonimato, inflou o meu ego, trouxe-me um pouco mais de segurança na tarefa redacional.

Textos Mágicos

Tornei-me ávido leitor. Monteiro Lobato, coleção “Terramaear”, o “Tesouro da juventude”. Não lia com a cabeça, e sim com os olhos. O texto se fazia espelho e eu via meu próprio rosto no lugar do perfil anônimo do autor. Mais do que conteúdo, encantavam-me a sintaxe, o modo de construir uma oração, a força dos verbos, a riqueza das expressões, a magia de encontrar o vocábulo certo para o lugar exato.

Primeira série ginasial, Colégio Dom Silvério, dos irmãos maristas, Belo horizonte. Irmão José Henriques Pereira, professor de Português, aguarda-me à saída da aula. Chama-me à parte e sentencia: “Você só não será escritor se não quiser”.

Escrevo para lapidar esteticamente as estranhas forças que emanam do meu inconsciente. Aos poucos fui descobrindo que nada meda mais prazer na vida do que escrever. Condenado a fazê-lo, tiraria de letra a prisão perpétua, desde que pudesse produzir meus textos. Aos candidatos a escritor, dou este critério: se consegue ser feliz sem escrever, talvez sua vocação seja outra. Um verdadeiro escritor já,ais será feliz fora deste ofício.

Escrevo para ser feliz. Batheanamente, para ter prazer. Sabor do prazer. Tanto que, uma vez publicado, o texto já não me pertence. É como um filho que atingiu a maioridade e saiu de casa. Já não tenho domínio sobre ele. Ao contrário, são os leitores que passam a ter domínio sobre o autor. Nesse sentido, toda escritura é uma oblação, algo que se oferta aos outros. Oferenda narcísica de quem busca superar a devastação da morte. O texto eterniza o seu autor.

Escrevo também para sublimar minha pulsão e dar voz à babel que me povoa internamente. A literatura é o avesso da psicanálise. Quem vai ao divã é o leitor-analista. Deitado ou recostado, ouve nossas confidências, decifra nossos sonhos, desenha nosso perfil, apreende nossos anjos e demônios. Por isso, assim como os psicanalistas evitam relações de amizade com seus pacientes, prefito manter-me distante dos leitores. Não sou a obra que faço. Ela é melhor do que eu. No entanto, revela-me com uma transparência que jamais alcanço na conversa pessoal. Tenho medo do olhar canibal dos leitores, como se a minha pessoa pudesse corresponder às fantasias que forjam a partir da leitura de meus textos. Tenho medo também da minha própria fragilidade.

O texto tece o tecido da minha couraça. Com ele me visto, nele me abrigo e agasalho. É meu ninho encantado. Privilegiado do qual contemplo o mundo. Dali posso ajustar as lentes do código alfabético para falar de religião e política, de artes e ciências, de amor e dor. Recrio o mundo. Por isso, escrever exige um certo distanciamento.

Deveria haver mosteiros nas montanhas onde os escritores pudessem se refugiar para criar. Não posso exercer meu ofício têxtil cercado de interrupções, como idas e vindas, reuniões etc. Concordo com João Ubaldo Ribeiro quando ele afirma: “Escrever, para mim, é um ato íntimo, tão íntimo que não acerto escrever na frente de ninguém, a não ser em redação de jornal, que é como sauna, onde todo mundo está nu e não repara na nudez alheia”(Folha de S .Paulo de 19/04/92).

Loucos e vaidosos

“Escrevo por vaidade”, confessava o poeta Augusto Frederico Schmidt. Em geral, os escritores são insuportavelmente vaidosos. Tanto que chegam a criar academias literárias para se autoconcederem o título de “imortais”. Ali, a maioria sobrevive às próprias obras. Qual o autor que não atribui ao que escreve uma importância superlativa? Se o livro não vira best-seller e não é elogiado pela crítica, o autor culpa o editor, a distribuidora, o preconceito da mídia, as “panelinhas” literárias das metrópoles. Ora, alguém conhece uma obra de indiscutível valor literário que tenha sido olvidada por ter sido impressa na gráfica do município de Caixa Prego? O que tem valor, cedo ou tarde, se impõe. O que não tem, ainda que catapultado às alturas pelos novos e milionários recursos mercadológicos, não perdura. O bom texto é aquele que deixa saudade na boca da alma. Vontade de lê-lo de novo.

Todo texto, entretanto, depende do contexto. Por isso, dois leitores têm diferentes apreciações do mesmo livro. Cada um lê a partir de seu contexto. A cabeça pensa onde os pés pisam. O contexto fornece a ótica que penetra mais ou menos na riqueza do texto. Um alemão tem mais condições de usufruir de um Goethe do que um brasileiro. Este, por sua vez, ganha do alemão na incursão pelos sertões e veredas de Guimarães Rosa. Do meu contexto leio o texto e extraio, para a minha vida, o pretexto.

Escrevo em computador. Quando busco um tratamento estético mais apurado, faço-o à mão. Hemingway escrevia de pé. Kipling, com tinta preta, em blocos de folhas azuis com margens brancas, feitos especialmente para ele. Henry James fazia esboço de cena por cena antes de iniciar um romance. Faulkner dizia “ouvir vozes”. Dorothy Parker confessava: “Não consigo escrever cinco palavras sem que modifique sete”. Escrever é cortar palavras é modificar frases.

Escrevo para ganhar dinheiro. Livro dá dinheiro como a loto: para uns poucos. Neste país de analfabetos, cujos alfabetizados não têm o hábito da leitura, e onde as pequenas tiragens editoriais encarecem o custo do produto, viver de direitos autorais é privilégio de um Jorge Amado e de um Paulo Coelho. Meu também, guardadas as proporções. Porque tenho muitos livros, destinados a diferentes segmentos de leitores e, como religioso e celibatário, um custo de vida relativamente reduzido. Tivesse família, seria difícil viver dos direitos autorais. Envio meus artigos semanais a cerca de vinte jornais e revistas. Só dois pagam. Os demais, nem os serviços de correio fax/telefone.

Escrevo, enfim, para extravasar meu “sentimento de mundo”, na expressão de Drummond. Tentar dizer o indizível, descrever o mistério e exercer, como artista, minha vocação de clone de Deus. Só sei apreender este peixe sutil e indomável – o real – através da escrita. É minha forma de oração. (Fonte: Revista Imprensa, Mar/1996)

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

ADELANTADO DE NUEVA ANDALUZIA

centro de macapa Por Fernando Canto

– Tu sabias, mano, que esse foi o primeiro nome oficial dado às terras do nosso Amapá?

Em 1544 o Rei da Espanha, Carlos V, concedeu a Francisco Orellana este lugar, mas o grande navegador não chegou a assumi-lo por ter naufragado quando para cá se dirigia.

Desde Pinzon que os espanhóis e os portugueses disputavam acirradamente nossas terras em virtude do Tratado de Tordesilhas.

Depois vieram os holandeses, os ingleses e os franceses.

Depois, portugueses, índios e negros, nossos avós, garantiram nossos destinos conquistando definitivamente a foz do rio Amazonas rechaçando com atos de heroísmo os flibusteiros e marinheiros europeus.

E nós, como povo, temos nossa História. Brava História.

Por isso, compadre, que um dia, na antiga Província dos Tucujus, chegou o Governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado para fundar neste local a então Vila de São José de Macapá. Era o dia 04 de fevereiro de 1758. Daí em diante esta cidade cresceu e se fez bonita.

E em maio de 1944 Macapá foi transformada em capital do Território Federal do Amapá, criado um ano antes.

Foram chegando os pioneiros. Cada qual com seu trabalho e sua coragem.

Saga e valentia.

Só mesmo homens e mulheres dispostos a trabalhar poderiam modificar aquele quadro triste de doença, analfabetismo e miséria. Nossos pais e avós, todos juntos, reuniram suas forças para trabalhar por esta terra.

O sentimento de amor e de progresso era superior ao esmorecimento e ao pessimismo.

Tudo foi modificando-se.

Chegou o primeiro carro e o primeiro avião.

O primeiro campo de aviação foi construído e foi para o ar o primeiro programa na velha e querida Rádio Difusora de Macapá, uma das pioneiras do Brasil.

Instalou-se a primeira usina de luz, o primeiro hospital.

Égua! O Caixa de Cebola foi o nosso primeiro ônibus.

Depois veio o Gavião Malvado... tudo tinha nome ou apelido.

Havia a “Turma do Buraco” que arborizava Macapá...

Em Macapá faziam sátira com a música “Cidade Maravilhosa” e cantavam assim: “Cidade Maravilhosa / Cheia de catabil”... Pois sim. Essas pessoas que a cantavam, assim o faziam porque não tinham a visão do futuro.

Macapá tinha o horizonte aberto para receber as mãos dos homens trabalhadores que chegavam de todas as paragens.

E juntos, com os que aqui já se encontravam, mineiros, cariocas, nordestinos, gaúchos...

Todos trabalhavam e pensavam em progresso. E como na lenda da cigarra e da formiga uns cantavam, mas a maioria trabalhava.

E esta cidade, mano, foi crescendo, crescendo e crescendo ao sabor do tempo e ao som do Marabaixo que a preta velha cantava na Quarta-feira da Murta pelas ruas do Laguinho e da antiga Favela.

“Passei pelo lírio roxo

Cinco folhinha apanhei

Cinco sentido qu’eu tinha

Todos cinco eu lá deixei.”

Todo um sentimento poético abraçava a cidade.

E Macapá estava linda sob o sol.

Aliás. A luz sempre simbolizou a vida.

O sol beija o rio na maior parte do ano.

E ao nascer todos os dias ele traz para nós a esperança de dias melhores e mais mansos.

Sabe, mano, enquanto soubermos discernir o bom do ruim faremos deste lugar a razão de nossa felicidade pois ela permanecerá acesa nos nossos lares.

Devemos ainda aprender a amar as obras dos nossos antigos irmãos, para preservar assim nossa memória.

Devemos amar nosso chão e nosso céu de sonhos.

Temos tudo para ir adiante, assim como nosso primeiro nome, lembra?

Adelante, adiante, para a frente.

É importante sermos otimistas e ter os pés neste solo.

Batalhar e trabalhar para fazer desta terra um mundo de coisas boas.

Sim, um mundo moldado com as mãos e com a respeitável inteligência de nossos irmãos.

Tu já fizeste uma vigem, não foi?

Sem querer tu pensaste em alguns detalhes e fostes e voltaste.

Assim como tu, nossos dirigentes também pensam, planejam e realizam obras que nossos filhos vão falar com orgulho e seus corações também falarão através de um grande sorriso em suas bocas.

É preciso continuar planejando para atender os anseios de nossos irmãos carentes.

É preciso combater os malefícios e pensar no bem-estar geral.

É preciso compadre, é preciso trabalhar.

E nós estamos trabalhando para viver e se forpreciso morrer por este lugar.

Adiante, adelante, adelantado.

Bem ali, no mais tardar das esperanças tu construirás o teu tempo.

Nem que seja sobre a folha que cairá de uma árvore sob o impacto da chuva.

Olha, mano, deves ter a certeza que o rio corre para um único destino: o mar.

E nesta linda cidade que hoje faz o seu 226º ano de fundação paira a luz sobre nossas cabeças.

Então, iluminados, devemos homenageá-la.

Já viste o rio Amazonas deitado no seu leito.

Já viste a imponência da Fortaleza de São José.

Já viste também os namorados apreciando o rio parir uma lua gordinha lá no quebra-mar.

Então tu sabes, mano, como é linda e hospitaleira a nossa cidade, né? Pois é!

O Marco Zero do Equador passa aqui pertinho, separando o mundo em dois hemisférios.

Já notaste que vem tanta gente aqui para visitá-lo?

Tem uns turistas louros, morenos, pretos e amarelos que só tiram fotografias com as pernas abertas dizendo que estão no meio do mundo.

Sabes por quê?

Ora, Macapá é importante...

Mas tu sabes o que significa a palavra Macapá? Não?

Macapá é uma variação de Maca-paba, que quer dizer. Na língua dos índios, estância das macabas, ou lugar de abundância de bacaba.

Bacaba é uma fruta boa e gostosa, né? Apesar de gordurosa ela alimenta muito a gente e o seu vinho ainda tem aparência de café com leite.

É assim como o açaí, o nosso petróleo comestível que a gente compra um litro na amassadeira do Ramiro e dá de pau na hora do almoço.

Temos tanta fruta que tu nem imaginas... Temos cupuaçu, graviola, bacuri, genipapo, uxi, pupunha, camapu, ingá... chega a dar água na boca.

Mas, compadre, Macapá é uma linda morena.

Vês que de manhã aquele solzão bate no Amazonas que chega até encandear a gente.

Macapá é uma cidade segura. Aqui o rio nunca transbordou.

E ela está de aniversário.

Mas nós não vamos ficar aqui neste cantinho só olhando e contemplando sua história e sua raça.

Vamos soltar foguetes e brincar com a criançada. Vamos enfeitar nossas bicicletas e sair por ai, pedalando pelas ribanceiras ou pelas suas largas avenidas, festejando...

Pois ela já fez muito pela gente. E quando o sol for embora, mano, nós levaremos a certeza que ele voltará. E assim como nós acreditamos nisso, nós acreditamos no futuro e no trabalho de nossos irmãos.

Na essência da poesia à Macapá o que vamos encontrar é a alma do povo.

O povo que sonha, ama e constrói.

É para ele que planejamos. É para ele que pensamos em novos estímulos à expansão da alma coletiva.

Neste poema, cada dia reescrevemos um verso apaixonado. Uma declaração de amor à nossa cidade, que mesmo se tornando uma capital diferente daqueles dias de Adelantado, não aceitou perder sua alma, nem endurecer seu coração.


Publicado em 1983 (Cartaz) e em 1984 (folder) pelo Governo do Estado em comemoração ao 226º aniversário da fundação da cidade de Macapá.

Macapá do meu coração

Por Ray Cunha

Macapa

Fortaleza de São José de Macapá; ao fundo, o Trapiche Eliezer Levy, em foto do francês Olivier Marcille (out/04)

Adelantado de Nueva Andaluzia, assim foram chamadas as terras tucujus, futura Macapá, por Carlos V de Espanha, em 1544, numa concessão ao navegador espanhol Francisco de Orellana. Macapá nasceu de um destacamento militar, instalado em 1738 na Praça São Sebastião, atual Veiga Cabral. Em 4 de fevereiro de 1758, o capitão-general do Estado do Grão-Pará, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, fundava a Vila de São José de Macapá, e foram surgindo edificações, como a Fortaleza de São José de Macapá.

Amo muitas cidades. Cada uma delas marcou meu coração. Há, contudo, uma que me ilumina, pois é como uma mulher que desejamos por muito tempo e que de repente está diante de nós, nua, aos primeiros raios do sol de julho. Macapá emerge da boca do rio Amazonas avançando na Linha Imaginária do Equador, e quando a cidade nos engole, mergulhamos num mundo prenhe de jasmineiros que choram nas noites tórridas, merengue, a poesia azul da Alcinéa Maria Cavalcante, a casa do Fernando Canto, que recende ao Caribe de Gabriel García Márquez, mulheres cheirando a Chanel número 5 e maresia, o embalar de uma rede no rio da tarde, mapará com pirão de açaí, tacacá, Cerpinha.

Quando entro neste santuário, dispo-me de todas as feridas, e oferto rosas, pedras preciosas e luz, toda a minha riqueza, aos que eu amo, e te chamo, Macapá, de querida!

Sempre me perco em ti, e sempre de propósito, numa vertigem da qual só me recupero em Brasília, dias depois. As viagens que fazemos no coração são vertiginosas demais para a pobre física terrena. A casa da minha infância, cada palavra que garimpei em madrugadas eternas, cada gota de álcool com que encharquei meus nervos, cada mulher que amei nos meus trêmulos primeiros versos, cada busca do éter, nas noites alagadas de aguardente, os jardins da casa da Leila, no Igarapé das Mulheres, o Elesbão, a casa da Myrta Graciete, a casa do poeta Isnard Brandão Lima Filho, na Rua Mário Cruz, o Macapá Hotel, o Trapiche Eliezer Levy, estão para sempre no meu coração, que enterrei na Rua Iracema Carvão Nunes.

São José de Macapá – Roteiro Poético Parte III

Livro_

Autor: Fernando Canto
Ilustrações: Chikahito Fujishima

CÂNTICO 44º

Êita! janelas abertas

frutificação genérica

do falar que poetizo

por teu povo

apenas por nós

tralhotos da flor d’ água

candirús famintos desses Araxás

longas samaumeiras viris

atravessando os séculos.


 

CÂNTICO 45º

É aqui que cristalizo

fome e madrugada

fartura e um sol tangente.

Todas as vezes antes do cantar

do galo

eu ralho

eu ralo

gargantas de doces cordas

e solto as vozes presas

nesse tempo passional – ó flor.

0019

CÂNTICO 46º

Ontem olhei um pote

de visagens e um cemitério

de águas

no teu gesto dominical.

Encontrei no resto transeunte da tarde

um cantar prolixo de verde

abundante como a água do teu rio.

 

CÂNTICO 47º

Há em meu olhar um mundo

infantil de muitas lendas

desde a prenda atávica de minha gente.

Cidade encantada – eu por aí...

vendendo tuas notícias

gazetando aula.

Como eu, tu gesticulas

braços e baías

beijando

balanceando

barcos de bubuia

e o navegante antônito.

0020

Cântico 48º

Doce profusão da natureza

quando carregas presas

troncais

gigantescas

em um milhão de anos

depositando com a maré

um mundo de detritos

e gritos

vindos do fundo d’ água.

 

CÂNTICO 49º

Eu e tu somos perenes

como línguas que apelidam tua presença.

A predestinação de minha (e tua) angústia

flui fácil e fóssil, Maca

Paba

Pedra

pira/paz – parlenda.

0021

CÂNTICO 50º

Prósperas matizes de esperança

tomam conta de tuas avenidas

mangueirais e acaciais arbustos

arvorais.

Lá vamos nós de passo em passo

desfilar um berro novo por aí

desanuviando a fantasia da dor

e se entregando à ginga do batuque

antes de viajar em vigilengas

de taboca

e referendar a ausência do temor.

SÃO JOSÉ DE MACAPÁ – ROTEIRO POÉTICO parte II

Livro_

CÂNTICO 23º

Amo-te

amargurada e retumbantemente

desde os ventos raiados

nas auroras aluviais

que turvam meu pranto teu.

Autor: Fernando Canto
Ilustrações: Chikahito Fujishima

CÂNTICO 24º

Amo-te

por teu grito, teu granito

alucinado de justiça

pão e bem-estar

pois desde a tua estada

no meu peito, ouço

correr o verbo e o veneno

de homens que te tiram o sangue.

0012

CÂNTICO 25º

Mas meu amor por ti não é contrito

nem gito

O meu amor é sem paredes

embalsamado, é largo.

Amo-te raiado e celular.

Até protelo meu amor

pra não cansar de ti.

0013

CÂNTICO 26º

Em tua paisagem refestelo

mil carnavais

e te acompanho no suor quente

das toalhas

das negras do marabaixo

olhando personagens que em ti passam

aborrecendo o teu cantar

- Por isso que te quero branda ou brava.

CÂNTICO 27º

Hora do ontem

um boi morreu

Tempo de hoje

um sol nasceu

Sal do nada

floresceu.

CÂNTICO 28º

Eu te imagino imaginária

numa projeção de luzes, cores

e um altar de estrelas conduzindo

a retidão de tuas virtudes

numa ausência plena de pecados

que ora germinam originais

mas mortos de cansaço.

0014

CÂNTICO 29º

Mais perto das estrelas

tu, Maca-Paba

encanta a índole universal

desses astros

que entre outros mundos

desabam signos mundanos

todos os meses, todas as vezes

pendurados na linha equatorial.

 

CÂNTICO 30º

De janeiro ao ano inteiro

nascem tamarinos, mangas...

o vinho e a carne

sob uma artilharia de balas-chuvas

e à inclemência raiada do sol.

CÂNTICO 31º

Tua gente, minha lente secular

em duzentos e vinte e sete anos

de ousadia furtada

fundou

A vigília notívaga

da tua foz

E vozes cantam até hoje

como o bem-te-vi que viu-te amanhecer.

0015

CÂNTICO 32º

Quando passo no teu peito quente

o leite do teu Laguinho

e as pernas Buritizais do teu corpo

incendeiam o coração que quero morno

neste amar homem-mulher

que somos nós

E haja Trens Pacovaleando

sobre os Igarapés de tuas filhas

que até agora andam lambuzadas

de lua clara.

CÂNTICO 33º

As lúdicas manhãs

de minha infância

passeiam em cima de tuas praças

transtornadas de saudade.

E eu aqui

E eu lá

Onde for, canto, o meu e o teu

sonho de prata

pois é meio-dia a hora

do nosso amor.

CÂNTICO 34º

Como peixe eu nado

eu nada

junto a ti sou tudo

nessa minha condição de peixe

Ó meu mar!

Minha ama (da) zônica e febril

(pai) sagem

0016

CÂNTICO 35º

Haveremos de quebrar marés

e romper mares

Andorinhas nos fios elétricos

da tua frente

normalmente.

Todos nós voaremos com luz própria

acompanhando a legitimidade do líder

porque é preciso bailar

junto à fronte dos coqueiros.

CÂNTICO 36º

Carpinta o carpinteiro santo

construindo ao lago d’ homem

um barco de esperança e sonho

pois de dor já basta a vida

o prego e a ferramenta

que essas mãos carregam calos

e essa vos canta pela fé

alimentando as almas.

CÂNTICO 37º

Santos personagens

santificam o abrir das ruas

e benzem a frivolidade exemplar

das formigas que labutam ao tempo.

Santo São José aureolado

estende a mão amiga

nas turvas águas do

mês março

protegendo o pescador fiel e rouco

de tantos pedidos nascentes

para ter que um dia voltar e ver

seus arraiais e festas singelais.

CÂNTICO 38º

Mesmo que preciso e fácil

fosse me espraiar de amor

jamais de olharia tirana

ou plana

ou planta

desafogadora de cansaços

nos quarenta e poucos

teus desfiles de estudantes.

CÂNTICO 39º

Andaria com a moça

em troca de um passeio à praça

bicicletando a amplidão

do sonho de invisíveis movimentos

em mil momentos

sem igual.

0017

CÂNTICO 40º

Daria muitos treze dias treze

sob a superstição do teu sol

em seculares prestações de conta

que me cobra o coração.

CÂNTICO 41º

Andas a locupletar-te

por um mundo de cimento armado

e eu de arma em punho te defendo

concretamente

ensaiando poesia – meu rio de iaras

terra minha

banda marcial no coração.

CÂNTICO 42º

Vamos por aí cruzando

estradas

pedalando nas ladeiras

em lúcidas manhãs.

Tu prepararás entradas triunfais

rebentando cercas

e se alojando em frutíferos

quintais

intemporais

de sal.

0018

CÂNTICO 43º

Naufrago em ti

peremptório

consolidando um grande amor

tenaz

audaz

chuvento

pra molhar tua pele de terra

em troca de uma semente

pois tanto ausente

a necessito urgente.