quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

E COMO FICA A SOCIEDADE?

analfabetopilitico Publicado no jornal Tribuna Amapaense de 22/02/11

Uma das coisas que mais me chamou a atenção sobre o cotidiano político local foi o estado de inércia que se estende pela Assembleia Legislativa hoje. E lá se vão dois meses em que a situação se complicou e não sai do impasse.

Uma instituição cujo cotidiano é a ausência da maioria dos parlamentares e administrada por uma minoria me traz a lume uma situação enfrentada por pessoas de cultura diferentes que nunca se viram antes. Um cenário extremamente ligado à questão da identidade, algo complexo, onde a significação está em como essas pessoas representam a si próprias, antes de perguntar como elas representam a sociedade.

O trabalho dos deputados traduz a dificuldade de como lidar com o outro, pois vivem constantemente uma relação alteritária, na qual há dúvidas e dificuldades expressas, posto que mudar, modificar, transformar a realidade concreta exige mais que um jogo de silenciamentos (ou de conspirações). E algo precisa ser dado de retorno a comunidade, para que ela tenha pelo menos um pouco de segurança sobre o que se faz entre os que tomam as decisões por ela. Ora, os péssimos acontecimentos políticos recentes já dão idéia de como abordar questões mais difíceis, de como compreender, como definir uma identidade política para o Amapá. Mas como lidar com esse fato, como compreender o trabalho dos políticos? A sociedade tem que se esmerar para poder achar um caminho que compreenda esse grupo e tratar uma análise mais acurada sobre essas relações. O que é o simbólico do grupo político? O que é o social e a identidade dessa classe? Mesmo perplexa com o caso inusitado, a sociedade tem que buscar mais que uma simples análise, com fundamento científico, para compreender a lógica da política que anda mesmo é deturpada pela aplicação de outra lógica, me parece, a da destruição da simbologia política. Uma lógica paradoxalmente ausente do seu principal insumo, tão necessário para a sua manutenção: o diálogo.

Não quero aqui nem mais pensar na possibilidade de passar pela experiência da conversão política para buscar um possível desvelamento dessa realidade a partir do que chamam “visão interior”. (Há tempos tentei, sim). Toda cultura é específica. A política, mais complexa ainda, é diferente e tem suas especificidades desde a sua aparência. Ela é absolutamente peculiar a si mesma. E tem a ver fundamentalmente com a ordem da vida social e se explica - grosso modo - pelo que os homens e mulheres se dizem entre si. Daí a necessidade do deciframento constante do que os políticos fazem, posto que estes articulam significados que orientam seus comportamentos. São agentes, produtores e reprodutores da cultura política. A sociedade é um dos sujeitos dessa relação. Não pode ficar separada, ausente ou simplesmente desprezada só porque seus representantes vivem um impasse.

Que medidas legais se interpõem nesse processo? E que jogo de interesses se movimentam por trás esse fato? Os deputados têm que dar muitas respostas à sociedade, afinal foram eleitos para serem os legisladores dela e da sua vida cotidiana, que precisa ser melhorada a cada dia, afinal depositou suas esperanças neles.

Já que uma relação se realiza através de sujeitos, ela é sempre uma relação de interesses, que implica poder, que implica apropriação. E já que a sociedade é o sujeito mais prejudicado nessa relação porque não há troca real de benefícios, a classe política do Amapá, especificamente os membros do poder Legislativo estadual, deveriam pensar mais na instituição como o “topos” da democracia e não transferir a ela valores ideológicos diante de uma ordem social ainda injusta e opressora.

Imagem disponível em www.sued.santos.blog.uol.com.br

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