sexta-feira, 30 de setembro de 2011

AFUÁ – DO SUSPIRO DO BOTO AO LAGOSTÃO

22062009_capa_b1    Texto de Hélio Pennafort

"Este lugar se chama Afuá desde o tempo em que os circunspectos cavalheiros faziam piqueniques de paletó, gravata e suspensórios nas praias do Marajó. Parece que o nome é indígena, mas não sei o significado”. Intercalando suas palavras com goles de cerveja gelada, Dalk Dias Salomão, presidente da Câmara de Vereadores, diz que vive muito feliz em Afuá” “porque é um lugar pacato, farto e muito divertido”. A origem do nome Afuá é bastante discutida entre os velhos da localidade. Enquanto Dalk atribui influências indígenas para a designação da cidade, dona Maria Pinheiro Cavalcante vai buscar nas profundezes do rio um boto matreiro que todas as tardes boiava na frente de umas poucas casas que existiam na época e suspirava: "afffffuuuuuuáááá". Dona Maria Pinheiro, 60 anos, conta que gastou toda a sua juventude nos seringais das ilhas. Naquele tempo a borracha era vendida a três mil réis para o patrão. E o pagamento não vinha em papel-moeda, mas em farinha, arroz, querosene e fósforo. Ela garante que os tempos mudaram. Visivelmente saudosa, recorda as noites que passava na expectativa de um encontro com o namorado. O primeiro e único. "Prá mim falar com ele tinha que andar muito porque ele não vinha em casa. Papai não deixava. Para o senhor ver, só depois de casada é que eu vim conhecer o que era um beijo. Hoje em dia é diferente... qualquer pirralha anda de beijos e abraços como se fosse a coisa mais natural do mundo".

Alcançamos Afuá consumindo seis horas de viagem, desde Macapá, no iate "Semeador", de propriedade paróquia, mas que muitos fiéis afirmam pertencer à santa padroeira. Depois de passarmos pelo furo dos Porcos e atravessarmos a baía Vieira Grande, enxergamos a cidade cercada de serrarias e outras pequenas indústrias em torno da qual gira a economia local. Muito embora as dificuldades decorrentes da pouca consistência do terreno, a cidade é bem traçada e sobre os caminhos onde passariam ruas foram construídas pontes em madeira de lei. Isso facilita o trânsito dos pedestres (é claro que lá não existe carro) e proporciona ao visitante uma visão pitoresca da comunidade, sobretudo na parte de trás. As casas residenciais são amplas, confortáveis e quase todas construídas dentro de um padrão que obedece a ecologia marajoara. As poucas construções em alvenaria devem ter custado muito dinheiro, porque todo o material, da areia ao cimento, foi transportado de Macapá. O município é farto. Pode-se dizer que o afuaense não tem qualquer problema com alimentação. O mercado da cidade vive sempre suprido de carne, peixe, camarão e até a saborosíssima lagosta da água doce. É o único também que dispõe de um sino para assinalar as horas. De acordo com a tabela, o quilo do camarão custa dois cruzeiros. Mas tem dias que aparece tanto que passa a ser vendido a 50 centavos. Uma indústria de palmito exporta milhares de lata do apreciado broto do açaizeiro e colabora com a sua parte na devastação da floresta marajoara. O gerente afirma que fazem o reflorestamento das áreas exploradas. Poucos acreditam. O comércio é sortido com mercadorias vindas de Belém. Tem de tudo o que se possa pretender num lugar como o Afuá. A dificuldade que ele enfrenta é a falta de transportes regulares para a capital paraense.

O Juiz de Direito da Comarca de Afuá, Florêncio Nabor Leite, disse ao repórter que os processos judiciais são quase todos para resolver questões de terras. Os demais "são casos de homicídios e seduções provenientes das festas do interior". Bastante comunicativo, o magistrado participa ativamente das promoções sociais da cidade, frequentando as festinhas, batizados e casamentos. Já o padre José Dejuana, espanhol, Agostiniano, é mais calado. Disse que atende as paróquias de Afuá, Chaves e Anajás, onde 95 por cento da população é católica praticamente.

A igreja foi construída com a colaboração dos fiéis e as festas em louvor à Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade, são bastante concorridas. O salão paroquial possui diversos tipos, de entretenimentos para jovens e adolescentes. Lá funciona também o jardim da infância.

O trabalho de pastoral é auxiliado pelo padre Graciano. Este deixa muita gente invocada, principalmente os velhos, devido a sua bem cuidada cabeleira. Entretanto, é muito sério e compenetrado na sua missão de pastor. A prova disso nos foi dada a bordo do "Semeador", no retorno para Macapá: observando que o Eduardo demonstrava as mais inequívocas intenções amorosas, tratou de acender uma lâmpada de 200 velas para afastar do nosso companheiro de viagem a mais tênue sombra do pecado.

Os garotos do Afuá são muito inteligentes. Lamentável, porém, que essa inteligência seja pouco desenvolvida devido a falta de instrução adequada para as crianças. O grupo escolar "Leopoldina Guerreiro" possui 332 alunos, 12 professores e 48 carteiras a prédio está carecendo urgentemente de reparos. A professora. Margarida Silva Seixas já enviou diversos expedientes à Secretaria de Educação sem conseguir nada de positivo até agora. O afuaense também aspira por um ginásio "para evitar a sarda dos jovens concluintes do primário".

O povo é amante do folclore e cuida com carinho das suas tradições. Para as representações teatrais, bailes ou qualquer outro acontecimento social, foi construído um centro folclórico na Rua Mariano Cândido de Almeida. O "Lagostão" foi idealizado e realizado pelo Sr. Orlando Saraiva um afuaense modesto e muito brincalhão. Esta sua obra 'foi tão comentada que veio um engenheiro de Macapá copiá-la como modelo para o centro folclórico do bairro do Laguinho. Dia 29, assistimos no "Lagostão" a apresentação do boi-bumbá "Pai do Campo". Alegre e movimentado, Pai do Campo faz jus ao adjetivo que recebeu dos versos cantados por seus aguerridos vaqueiros: "boi de fama como este/ no Pará não há igual".

O prefeito Dinair Santana - administrando o Afuá no segundo mandato -, disse ao repórter que em linhas gerais "o município vai bem". Mas poderia estar melhor se o governo estadual ajudasse um pouco mais o interior marajoara que se debate com uma série de problemas impossíveis de se revelar com os limitados recursos orçamentários consignados ou arrecadados anualmente. (Do livro Entrevista ao Leitor, DIO, Macapá, 1982)

DIA DA ÁRVORE

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Texto de Thiago Afonso
    O Dia Mundial da Árvore festeja-se em 21 de Março. A comemoração oficial do Dia da Árvore teve lugar pela primeira vez no estado norte-americano do Nebraska, em 1872. Nos EUA, é comemorado no dia 23 de Setembro, junto do aniversário de Julius Sterling Morton, morador da Nebraska, que incentivou a plantação de árvores naquele estado. O Brasil carrega fortes laços com a cultura indígena que deu origem a este país, um deles é o respeito pelas árvores como representantes maiores da imensa riqueza natural que o Brasil possui. Confirmando o carinho e respeito pela natureza, no Brasil formalizou-se então o dia 21 de Setembro como o Dia da Árvore. De acordo com o Decreto Federal nº 55.795 de 24 de fevereiro de 1965, foi instituída em todo o território nacional, a Festa Anual das Árvores, em substituição ao chamado Dia da Árvore. Conforme previsto no Art 3º, a Festa Anual das Árvores, em razão das diferentes características fisiográfico-climáticas do Brasil, seria comemorada durante a última semana do mês de Março no Amapá, entretanto por força do costume e desconhecimento, muitas pessoas não observam este decreto e ainda comemoram na data tradicional de 21 de setembro.

Em diversas sociedades iniciáticas, as árvores são a expressão do Cosmos visível e do próprio homem no caminho para a perfeição. As plantas sempre estiveram simbolicamente relacionadas à percepção do nosso próprio mistério, pois ao recordar o mistério da terra e do seu lugar leva-nos ao interior do nosso destino.

Nos templos budistas a árvore evoca Buda, que debaixo dela meditou durante cinco anos. São numerosas as árvores simbólicas: da Vida, do Jardim do Éden, do Cosmos, do Conhecimento, da Tradição Judaica, do Tempo Alquímico, e do culto da árvore em si, que foi iniciado pelos maçons em festas profanas a partir do século XIX.

Toda a vida depende das plantas, pois de forma direta ou indireta, é ao reino vegetal que a humanidade vai buscar oxigênio, combustíveis, medicamentos, produtos alimentares e outros nutrientes, vestuário, materiais de construção e solução de outras necessidades. Desde o paleolítico médio que os seres humanos procuram nas plantas o seu valor material e os significados religiosos, estéticos, políticos e morais. A universalidade do simbolismo da árvore testemunha o laço primordial entre a árvore e o homem. Nos vikings havia a árvore do Mundo, YGGDRASIL, que ligava o céu à terra. O Deus Hindu BRAHMA nasceu a partir do umbigo de VIXNU que tinha o lótus da criação. É igualmente a flor de lótus que se encontra na religião egípcia, como participante da criação do mundo. A flor nasce do lodo (Caos). Do seu cálice nasce um jovem de grande beleza (Ordem). No Xintoísmo - a deusa SEGEN-SEMA é um ramo da árvore sagrada - Sakiki. Para os japoneses há outras plantas simbólicas. Os jardins de bonsais com as árvores em miniatura significam a força do Homem sobre a natureza. Nas aldeias japonesas dois ramos de árvores cortados simbolizam o Yin e o Yang, contrários e complementares indissociáveis. Na Grécia antiga havia o culto dos cereais, da vinha e das árvores frutíferas. Para simbolizar a imortalidade da alma, colocavam nas mãos dos mortos ramos de alecrim. A tília era o local de esconderijo das fadas e o seu agradável cheiro, quando coberta de folhas e flores, era associado ao Amor. O Olimpo tinha um bosque de oliveiras e aos heróis era colocada uma coroa de folhas de louro na cabeça. Como a árvore, o cosmos é a própria expressão da vida. Nela, a natureza se regenera permanentemente. Os campos de energia infinita que presidem ao nosso destino são como a seiva da árvore, sendo o cosmos o princípio do crescimento que é a origem de todas as coisas. A árvore nunca pára de crescer, estendendo-se em todas as dimensões, horizontais e verticais. Este mistério liga o que está em cima ao que está em baixo, o visível e o invisível, o céu e a terra. A árvore sefirótica do judaísmo representa a descida das energias superiores ao mundo material e a sua posterior ascensão, tal como a seiva da árvore, a nossa própria ressurreição. Para os árabes, os jardins com muita água eram o símbolo terreno do paraíso cheio de pomares luxuriantes.

Portanto, conclui-se que o mundo antigo valorizou de modo analógico as plantas de acordo com o conhecimento empírico da natureza transformando-as em símbolos, os quais também não devemos deixar de recordar neste dia dedicado à Árvore.

CHEGOU A HORA DE O AMAPÁ SER VISTO PELA PORTA DA FRENTE DO BRASIL

Em discurso na tribuna do Senado, senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).Por Randolfe Rodrigues, Senador da República
“Tu és Amapá, o pólo térmico da América/ Saldo do Sol que recriou o mundo./ Teus risos e a tua calha de Amazonas/ Talham fontes e cântaros abertos/ Muito mais densos que o suor dos homens/ E a sede dos desertos.” (Álvaro da Cunha)

Na data magna de nossa terra, 13 de setembro, conforme estabelece o art. 355 da Constituição Estadual, o Amapá celebrou em 2011 o 68º aniversário de sua separação do estado do Pará e constituição como Território Federal. Mas essa história vem de outras datas. Antes mesmo da chegada dos brancos europeus, as terras da margem esquerda do estuário do Amazonas já eram ocupadas por Tapuiaçus, Marigus e Tucujus, todos pertencentes aos grupos indígenas dos Aruaques, Caraíbas e Tupis-Guaranis. A celebração que hoje fazemos é também derivada dessa origem comum dos povos indígenas. A melhor maneira de comemorar esta data é beber na fonte da história.

Yamapaba, como era chamada pelos índios tucujus, o lugar da chuva, viveu experiências distintas nos últimos séculos decorrentes de suas singularidades: a disputa por essas terras entre os estados europeus no século XVII, a consolidação da ocupação portuguesa no século XVIII com as experiências urbanas da Vila Vistosa da Madre de Deus, Vila de Mazagão e Vila de São José de Macapá, antiga Estância das Bacabas.

O Amapá é um canto de Brasil que se tornou Brasil pela vontade de ser brasileiro. No nosso lugar, a história produziu fortes e contrafortes. Homens e mulheres com audácia inovadora forjaram sentimentos e emoções. Antes mesmo da chegada dos portugueses, a epopeica aventura de Yáñez Pinzón denominava o nosso grande rio de Mar Del Agua Dulce. Hoje, sabemos que a água doce do Amazonas se estende por cerca de 320 quilômetros mar adentro. Os reflexos do nosso rio chegam até a Flórida - EUA.
Christoval de Acuna, padre jesuíta do século XVI, um dos primeiros a explorar a região do Amapá, assim definiu as nossas terras para o Rei da Espanha: “As terras da Capitania do Cabo Norte, além de serem elas sós maiores que toda a Espanha junta e haver nelas muitas notícias de minas, têm pela maior parte o solo mais fértil e está para dar maiores proveitos e melhores frutos do que quantos há neste imenso rio das Amazonas.”

A imprecisão de Tordesilhas e a determinação das outras nações europeias em questionar este tratado, como é assinalado na célebre expressão de Francisco I, Rei da França, de que queria ver o testamento de Adão que disse que o mundo está dividido entre Espanha e Portugal, são as razões que levam às disputas dos séculos XVI e XVII. O Amapá foi reclamado por espanhóis, foi objeto da cobiça de ingleses e holandeses, foi disputado por franceses e portugueses, sob o triunfo desses últimos, a partir dos termos do Tratado de Utrecht, que fixa no rio Yapoco ou Vicente Yáñez Pinzón, a fronteira entre as terras da França e de Portugal na América.
A imprecisão de qual era esse rio levou a uma polêmica de duzentos anos. Os portugueses triunfam e iniciam o período colonizatório com a concessão da Capitania do Cabo Norte a Bento Maciel Parente, Governador do Maranhão e Grão-Pará. As terras do Amapá são delimitadas pela primeira vez e partem do Oiapoque até o rio Paru. É no período pombalino, sob o governo de Fancisco Xavier de Mendonça Furtado, que se consolida a ocupação portuguesa na região. É importante aqui destacar que a nossa terra é também templo das fortificações: a Cumaú, dos ingleses e holandeses; as de Maiacari, de Araguari e de Macari; e a maior obra do império colonial português no mundo, a Fortaleza de São José de Macapá.

No século XIX, o Tratado de Paris, de 1817, levanta a polêmica ao art. 7º do Tratado de Utrecht, sobre qual seria o rio Vicente Yáñez Pinzón. Surge, então, a região do Contestado entre os rios Oiapoque e Araguari. Vivemos no século XIX as experiências da corrida do ouro e de uma república independente em nosso território, a República do Canani. É o século em que, de fato, nós nos forjamos brasileiros. Foi aí que triunfou a vontade da sociedade amapaense em ser brasileira. Afinal, a sociedade sempre acaba vencendo, mesmo ante a inércia e o antagonismo do Estado.

O Estado era Tordesilhas, rebelada. A sociedade empurrou as fronteiras do Brasil, criando uma das maiores geografias do mundo. O Estado, encarnado na metrópole, resignara-se ante a invasão holandesa no Nordeste. A sociedade restaurou a nossa integridade territorial com a insurreição nativa de Guararapes e Tabocas, sob a liderança de André Vidal de Negreiros, Felipe Camarão e João Fernandes Vieira, que cunhou a frase da preeminência da sociedade sobre o Estado: “Desobedecer a El-Rei, para servir a El-Rei”.
O Estado capitulou na entrega do Acre, e a sociedade retomou sob as foices e os machados de Plácido de Castro e seus seringueiros. O Estado fraquejou sobre os corsários franceses capitaneados pelo Capitão Lunier. A sociedade recuperou o Amapá para o Brasil com os punhos de Veiga Cabral e com o sangue de idosos, mulheres e crianças da vila do Espírito Santo do Amapá que baixaram a bandeira francesa e ergueram o pavilhão nacional.

No século XX, veio o estabelecimento da infraestrutura estatal com a instituição do território por obra do Decreto-Lei do Governo Vargas e, quarenta e cinco anos depois, com a criação do estado. Essa obra seria impossível sem a determinação inaugural de um homem, o capitão Janary Gentil Nunes, primeiro governador, e também de pioneiros como Julião Ramos. Dessa aliança entre Janary, Julião e muitos outros, surge a mística do Amapá, assim definida pelo capitão Janary:
“A mística do Amapá é o ideal de tornar o Território uma das regiões mais ricas e felizes do Brasil. (...) Cada sonho, cada esperança, cada luta, vividos para torná-la mais próspera, emprestaram-lhe força e brilho. Ela resume os anseios mais nobres de quantos batalharam para integrar o Amapá na Pátria Brasileira. (...) O Amapá fascina. E por isso possui a sua mística. Não há ninguém que penetrando suas fronteiras – desde as margens dos rios até as fraldas do mássico das Guianas (...) Não há ninguém que não sinta essa fascinação que se irradia do ambiente e não termina cativo do seu destino. (...) Avante, pois, amigos! O futuro tem um lugar de destaque à espera do Amapá, terra onde tudo começa. E vós o conquistareis.”

As gerações que nos antecederam nos mandaram executar um serviço. É nosso dever fazê-lo com amor, aplicação e sem medo. Chegamos à condição de Unidade Federada da República Brasileira. Enfrentamos o desafio do enorme salto demográfico da última década do século passado e nos tornamos o mais brasileiro dentre os estados brasileiros. Mais de dois terços de nosso povo são imigrantes ou filhos de imigrantes. Lutamos para ser brasileiros. Falta ao Brasil nos reconhecer.

Ao longo dos últimos 20 anos, fomos vítimas de uma injusta fórmula federativa que nos usurpou pelo menos R$ 6 bilhões. Essa injustiça já foi reconhecida pela Suprema Corte brasileira. Cabe, agora, por parte do Congresso Nacional, aprovar uma nova e justa forma de partilha do Fundo de Participação dos Estados.

Amapá, em poucos cantos do planeta o povo tem tantas razões para sentir orgulho quanto o nosso. Enquanto o mundo promove destruição ambiental, nós possuímos mais de noventa por cento do nosso território preservado. Nosso endereço é o mais fácil: a esquina do rio mais belo com a linha do Equador. Forjamos um povo diverso, miscigenado, misturado e acolhedor, que todo dia recebe gente de todos os cantos com carinho e com amor.

Somos terra de poetas; impossível não sê-lo com as belezas que temos. Um deles, certa vez, exclamou: “A lua minguante do Amapá brilha mais que a lua cheia de qualquer outro lugar”. O Brasil, já dizia Álvaro da Cunha, não sabe nem o quanto é grande o rio Amapá pequeno, e o rio Cupixizinho não iria também fazer por menos, mas sei, Amapá, nós dois sabemos, os rios que somos, os rios que vivemos. É chegado o momento de o Amapá ser visto pelo Brasil, não mais pela porta dos fundos, mas, a partir de agora, pela porta da frente.

Galeria de Arte Nazaré Trindade

Preleção de Fernando Canto para a inauguração da Galeria de Arte Nazaré Trindade, da Fortaleza de São José de Macapá no dia 19.09.11

Senhoras e senhores,

    Muito me honrou o convite para vir aqui falar a respeito de MARIA DE NAZARÉ CASTRO TRINDADE DE ASSIS, nome agora perene de uma galeria de Arte dentro do maior monumento militar colonial do Brasil: a Fortaleza de São José de Macapá.

Mas antes de falar sobre seus predicados artísticos e educacionais, gostaria de me reportar à sua indiscutível generosidade enquanto pessoa, um dom de poucos, diria, pois Nazaré era isso: uma pessoa generosa nos seus atos, leal e nobre, pródiga de ser. Era uma pessoal “ternural”, como dizia seu marido, o saudoso jornalista Ezequias Ribeiro de Assis.

Lembro que o casal abria a porta de sua casa aos amigos todos os sábados para uma festa que durava horas e onde não faltavam convidados como Nonato Leal, Sebastião Mont’Alverne, Aimorezinho Batista, Amilar Brenha, Rui Lima, Manoel Sobral e tantos outros artistas, além de políticos e intelectuais. As pessoas se reuniam em torno do casal para falar dos últimos acontecimentos e dos novos trabalhos que realizavam no então Território Federal do Amapá. Nessa época Ezequias Assis era o proprietário do extinto jornal Fronteira, talvez o semanário mais respeitável da época.

Nesses dias ali estava Nazaré Trindade, esposa e mãe dedicada, mas uma anfitriã de primeira grandeza, sempre com um sorriso no rosto e a mão amiga, até perdoando a entrada de convidados de convidados para essas reuniões artísticas quase fechadas em sua casa.

Nazaré morava na mesma rua que eu no bairro do Laguinho. Sua beleza e simpatia caracterizavam aquela moça alta que conhecia todo mundo na vizinhança, na igreja e nas escolas da comunidade laguinense. E antes de ser a professora Nazaré que todos conhecemos, foi poeta, radialista (redatora de radiojornalismo, repórter e locutora) e atriz de rádionovela na extinta Rádio Educadora São José de Macapá, onde se tornou conhecida por apresentar os programas “Gente Pra Frente” e “O Samba é Bom Assim”. Em seguida exerceu o cargo de redatora e repórter na Assessoria de Imprensa do Governo Territorial e trabalhou na Rádio Difusora de Macapá como apresentadora de programas famosos na época como “A Hora do Ângelus”, “O Melhor do Som”, tendo ainda integrado a equipe de apresentadores do tradicional programa de aniversários “Carnet Social”. Na RDM fez parte do “cast” de radioteatro da emissora, participando do elenco da radionovela “Das Pedras nascem Flores”.

Ao sair do Governo do Território, a pedido, foi admitida por concurso no SESC-AP, onde exerceu diversos cargos, inclusive o de Gerente de Bem Estar Social, organizando e coordenando inúmeras atividades, nas áreas da música, teatro, artes plásticas, folclore, feira de livros, festivais de música, jornalismo, literatura, administração e lazer .  Depois de trabalhar por 11 anos no SESC, se demitiu, a pedido, pois fora aprovada em concurso como professora de 2º Grau do Estado, no qual atuou em diversas escolas tradicionais da capital. Nazaré era licenciada plena em Educação Artística (hoje Artes Visuais) e pós-graduada em Metodologia do Ensino Superior pela UNIFAP.

E foi na UNIFAP que a professora Nazaré Trindade realizou intensamente sua docência. Lecionou as disciplinas Folclore Brasileiro, História da Arte II, Arte Aplicada à Educação I e II, Formas de Expressão e Comunicação Artística (Artes Cênicas) e Metodologia da Educação Artística, tendo sido presidente do colegiado do seu curso. Realizou pesquisas importantes para a arte local como: “O Artesanato Reaproveitador de Matérias-Primas Regionais Como Fator de Geração de Renda”, “O Batuque no Amapá”, “Arte Contemporânea do Amapá: Os Três Primeiros Salões de Artes Plásticas no Amapá, Um Panorama da Atualidade”, “Arte-Educação – Um Estudo sobre o Teatro na Escola e Sua Importância na Formação Estética da Criança” (TCC de Licenciatura Curta) e “O Teatro na Educação – O Jogo Dramático” (TCC da Licenciatura Plena). Infelizmente nenhuma de suas pesquisas foi publicada.     A Professora Nazaré Trindade publicou incontáveis artigos e poesias nos meios de comunicação locais e atuou profissionalmente como membro do Conselho Estadual de Cultura, Diretora da Escola de Artes Cândido Portinari e Chefe do Departamento Cultural e Histórico da FUNDECAP.

Para finalizar, gostaria de enfatizar meu contentamento pela lembrança da querida amiga Nazaré Trindade para o nome desta galeria de Arte, ato administrativo este que posso considerar muito justo pelo fato da homenageada ter realmente concorrido para o engrandecimento da arte amapaense. Nazaré era assim: eclética, curiosa, questionadora, valorizadora do trabalho feminino ao extremo, inquieta e suas experimentações profissionais, ousada e, sobretudo, ética na sua prática e na sua ideia de mundo.

Em seu poema “Recado”, composto em homenagem ao bairro do Laguinho, onde nasceu, Nazaré Trindade assim diz: “Faz-me um favor:/ quando voltares ao bairro/ que quando criança/ joguei bola, joguei peteca/ e pisei descalço,/ leva um recado/ ao companheiro que foi meu [...] Diz a ele que cresci/ que aprendi outras músicas/ outras brincadeiras [...].

Diz também

Que mesmo com tanta coisa adulta
Ainda tenho muito de criança
No chorar...
No sorrir
E continuo a cantarolar
O atirei o pau no gato
Com os moleques lá de casa.
Que lembro de tudo
Até mesmo de nossa sinceridade

Diz a ele que me escreva
Que me mande um bilhete
Dizendo se cresceu
Se é gente grande como eu
Se sabe tudo que eu sei
Se conhece a tristeza
Ou se sabe o que é a saudade
Como eu.

    O que essa macapaense nascida em 13 de julho de 1950, que faleceu após luta obstinada com uma doença crônica no dia 28 de maio de 2003 nos deixou, foi a certeza que nunca seria esquecida pelos seus contemporâneos. Seu legado se materializou em um trabalho profícuo, inaugurado pelo pleno amor que sentia por esta terra, amor carregado de perfume, que permanece ainda sobre as águas do Amazonas e que cruza as ruas e penetra as janelas das casas, conduzido pela graça do vento equatorial, nestes dias de equinócio da primavera.

MUITO OBRIGADO.

Galeria de Arte Nazaré Trindade.

SAINT GEORGES DE LA GUYANNE

   Texto de Hélio Pennafort
Hélio PennafortNa metade do século passado, a França devia estar cheia de mau elemento. Como se não bastasse às prisões das ilhas de Saint Laurent, Saint Joseph e do Diabo, próximas de Cayenne, as autoridades do continente resolveram ampliar o número de penitenciárias na Guiana e passaram a procurar um lugar mais distante ainda para montar outra, onde seria colocado o excedente das três ilhas. No médio rio Oiapoque, fronteira com o Brasil, encontraram um local que tinha a vantagem de não oferecer a menor possibilidade de fuga. E lá, a 23 de abril de 1853, criaram oficialmente a penitenciária de Saint Georges, que em pouco tempo estava lotada de condenados. Na época, os prisioneiros das ilhas ainda se arriscavam a fugir pelo mar, mesmo com a desestimulante presença de tubarões. Mas de qualquer forma esperavam chegar em algum lugar. Em Saint Georges, porém, o problema era exatamente esse. Não ter para onde ir. A enorme distância da capital da Guiana ou qualquer outro vilarejo era coberta por um tipo de vegetação impossível de ser transposta. Do lado não existia nada. E mais, as embarcações que talvez pudessem utilizar numa escapada não resistiriam as primeiras ondas do Oceano e nem mesmo alcançassem a foz, sendo facilmente recapturadas. Alternativa nenhuma, portanto.

Com a desativação da penitenciária, muito tempo depois, a área de 280 hectares passou a ser ocupada pelo município de Saint Georges. E com ele a França deu início a política de ocupação da parte fronteiriça das suas colônias, empregando recursos e atraindo gente para habitar uma terra mal afamada e pestilenta.

Quem visita Saint Georges, hoje, não acredita que o lugar já foi um dos piores consulados do inferno verde. Apesar de muitas casas ainda manterem características de épocas atrás, é visível a presença do moderno. Não tem asfalto, mas as principais ruas, embora muito estreitas, são todas cimentadas. Por elas trafegam poucos carros e bicicletas. O dialeto patuá é o que mais se escuta, no entanto, a língua oficial é a francesa. Os comerciantes ricos construíram prédios em alvenaria com desenhos apropriados para a região tropical. Em todo o ar só deixa de circular quando o dia é preso pelo mormaço. O prédio da prefeitura é desse tipo e muito confortável. Na calçada, o prefeito Romain Garros conversou quase uma hora com a nossa reportagem. Falando bem português, ele afirmou que todos os recursos do município vêm da França. "Os impostos que arrecadamos aqui não dão para quase nada. Dependemos exclusivamente do governo francês". A população de Saint Georges é pequena, 2.150 habitantes, 90% dos quais se dedica à agricultura e à pesca. A prefeitura possui 35 funcionários e Romain já foi eleito duas vezes. "Para você ter uma idéia, a Guiana Francesa, as Antilhas e outros departamentos (Estados) da França no além mar, recebem recursos maiores que um departamento do próprio continente" - garante o prefeito. A independência proclamada pelas guianas inglesa e holandesa não serviu de exemplo para a francesa. Romain explica: "Tem um movimento muito pequeno que quer seguir a lição das duas guianas. Mas absolutamente não acredito que vá adiante porque o povo da Guiana Francesa não tem tendência de autodestruição. A nossa economia não nos possibilita a independência. E tenho certeza que se houvesse um plebiscito o povo votaria contra esse tipo de emancipação. Ora, não adianta a gente ser independente politicamente e levar uma vida economicamente precária. Como disse há pouco, a França dá um apoio muito maior à sua guiana do que dava a Inglaterra e a Holanda para as duas. Por isso é que houve os movimentos. Além disso, é bom que você veja uma coisa: toda a Guiana tem 65 mil habitantes e desse total apenas três mil são guianeses".

Romain ficou surpreso quando o repórter falou que o cacicó- música folclórica da Guiana - estava nas paradas musicais de Macapá. "Já ouvi a música. Aquilo não é cacicó coisa nenhuma. Cacicó veio da África e o seu ritmo é bem diferente desse que você fala. Estão fazendo confusão. Cacicó não é discoteque, não é música tocada por instrumentos modernos. Usam apenas tambor. E o jeito de dançar também é diferente. Não é ficar pulando no salão, mas executando uma espécie de ginástica, muito complicada para descrever". O turismo está nos planos do prefeito, evidentemente com a ajuda da França. "O governo francês está fazendo propaganda da Guiana para atrair turistas. E o primeiro ponto é espalhar que a Guiana não é insalubre, ruim. Quando se fala em Guiana, na Europa, logo vem o pensamento de prisões, ilhas do Diabo. Então, agora, mostra-se que não é nada disso, que aqui é um dos lugares mais bonitos de todas as possessões francesas. Veja até mesmo os habitantes das Antilhas, que fica relativamente perto de nós, pensavam que aqui só morava incivilizados. Essa má reputação diminuiu bastante com a construção da estação especial de Khourou. Agora eles estão começando a nos ver como terra civilizada".
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Da prefeitura fomos ao bar do Ho-a-Chuk, um velho chinês com quatro décadas de Saint Georges. Disse bar, mas ali vendem perfumes, filmes e máquinas fotográficas, anzóis e caniços de carretéis. Na mesa do canto, dois índios do Curipy bebem "tafiá". Marizio dos Santos e José Faustino deixaram os costumes tribais desde que aprenderam a manejar uma colher de pedreiro. "É um bom ganha pão" - disseram. Como eles, vários índios do Uaçá estão trabalhando em Saint Georges e mesmo em Cayenne. A presença de trabalhadores brasileiros na Guiana Francesa, aliás, não é de agora. Acontece desde 1920. Eles construíram várias casas em Saint Georges e trabalhavam nas diversas usinas de pau-rosa instaladas nos muitos afluentes franceses do rio Oiapoque. Os franceses sempre deram preferência aos operários brasileiros por serem mais especializados e possuírem maior capacidade de trabalho. Quando instalaram as primeiras usinas de pesca, em Cayenne, a maioria das tripulações dos barcos era brasileira e nas fábricas empregavam inclusive mulheres vindas de Macapá. A procura aumentou com a construção da base especial de Khourou, quando milhares de brasileiros foram para Cayenne. Todos ganhavam bem e tinham vantagens. Mas houve sérios conflitos provocados por ambas as partes. De um lado, os franceses acreditavam que todo o brasileiro era um "voleur" (ladrão), o que desagradava a honesta maioria que tinha ido para lá em busca apenas de trabalho. Do outro, a infiltração de maus elementos nas levas de brasileiros era visível durante as arruaças que agitavam a zona da cidade. Quando a situação estava insustentável, e mediante contatos das autoridades francesas com o Itamaraty, surgiu a Operação REBRACA (Repatriamento dos Brasileiros de Cayenne), que retirou da Guiana quase a totalidade dos operários, mesmo os que estavam bem de vida, que acabaram voltando para começar tudo de novo.

Observo o trabalho de técnicos brasileiros na torre da empresa de telecomunicações, quando chega perto a esposa do professor Jean Pierre Martin, a brasileira Elisia, e a professora Raimundinha - simpática morena do bairro do Laguinho -, que leciona no Oiapoque, mas passa o fim de semana em Saint Georges. Elisia diz que "a vida aqui é muito boa para quem quer viver tranquila. Eu era casada no Brasil, depois me divorciei e casamos aqui". Procuro saber se foi difícil adaptar-se num lugar de costumes diferentes: "Não, eu acho que o amor vale tudo. Claro, as vezes dá saudade do Brasil e quando ela chega eu me mando. Este ano passei o carnaval em Macapá e até ensaiei numa escola de samba. E, engraçado, quando chego lá já estranho o comportamento. Você sabe, o brasileiro tem muito preconceito e gosta de dar uma de machão para cima das mulheres. Já o francês não está nem aí. A mulher dele pode estar conversando com quem quer que seja e ele nunca fica imaginando aquelas coisas. Para ele, a mulher tem o direito de ser livre, escolher a vida dela, fazer o que quiser". Fala a Raimundinha: "O meu relacionamento com o pessoal. daqui é maravilhoso. Eu quero muito bem à essa gente. Todos os sábados às sete e meia, venho para cá e me meto no cacicó. Eles ficaram  gostando de mim logo na primeira festa que participei aqui. Tocaram um cacicó e eu comecei a dar o meu
Jeito no salão. Todos ficaram olhando e se perguntando: “É brasileira? Não é possível! Dança um cacicó perfeito". Aí eu expliquei que no Curiaú, perto de Macapá, tem um batuque que é muito parecido com o cacicó. Me convidaram para a mesa oficial mas eu recusei dizendo que estava com o meu pessoal". Raimundinha já teve dois namorados e há pouco tempo foi paquerada por um engenheiro eletrônico que queria levá-la a conhecer Paris.

O professor Jean Pierre Martin, diretor da Escola Pública, conhece Belém e outras cidades do Norte. Começou a aprender português quando ainda namorava a Elisia. Leu muitas histórias em quadrinhos e até escreveu cartas para o correio sentimental da revista "Grande Hotel". Fala do seu trabalho: "Tenho 300 alunos na minha escola. A dificuldade maior é que as crianças não assistem regularmente as aulas. Muitas moram longe". Sobre o método de ensino, explica: "As condições intelectuais do aluno são medidas por um conselho orientador da escola. Se porventura é verificada a impossibilidade de o aluno prosseguir os estudos até o curso superior ele é impedido pelo conselho. Nesse caso, então, passa ser orientado para o trabalho, seja agrícola ou qualquer outra profissão. Os alunos da minha escola que são julgados capazes, vão para Cayenne estudar o secundário. Muitos ficam internados porque não tem parente, como é o caso dos índios. Para resolver esse problema, vamos criar o secundário aqui". Segundo o professor Martin, 60% dos adultos de Saint Georges são analfabetos. "Com as crianças a situação se modifica. O índice de aproveitamento é relativamente bom".

As casas comerciais mais frequentadas por brasileiros do Oiapoque pertencem ao Ivo, ao Sebastião Cedia e ao prefeito Romain Garros. Cada franco guianês é trocado por dez cruzeiros. O intercâmbio comercial entre as duas cidades é razoável.

A convivência naquela parte da fronteira é excelente. Romain Garros chama os oiapoquenses de "meus irmãos" e comparece à todas as festividades cívicas que ocorrem do lado brasileiro. A mesma coisa faz o prefeito Augusto Sena, do Oiapoque. O único incidente registrado ali aconteceu em 1952, no Dia Nacional da França, 14 de julho. O pai do repórter (Rocque Pennafort) era prefeito de Oiapoque nessa época e conta como foi: "Estivemos lá, pela manhã, assistindo as festividades cívicas e à noite voltamos para a continuação dos festejos. Tinha baile na prefeitura e cacicó no arraial. Estava acompanhado do delegado de polícia (Delival Nobre, ex-chefe da Casa Civil do governo do Pará), do médico (Dr. Carlos Asclepíades de Lima, hoje oficial da Marinha) e vários funcionários. Noutra embarcação chegaram alguns populares. Estes, incentivados por um guarda sanitário, originalmente apelidado DDT, começaram a beber demais e não demorou muito para começarem a discutir com os crioulos. Quando vimos, estava formado o bolo. Aos gritos de "macumé!", "salópe!" e outras irreverências do patuá, os crioulos revidavam os insultos. Com alguma dificuldade, eu e o delegado conseguimos reunir o pessoal no porto e voltamos para Oiapoque. Antes, fui pedir desculpas às autoridades francesas. O chefe da Gendarmeria sorriu e disse: "Cest pas rien, monsieur le mire, cet un petit incident de frontiere" (deixa pra lá, senhor prefeito, isso é um pequeno incidente de fronteira).

O soldado desconhecido é homenageado com uma praça em frente à prefeitura. Só que ele não é tão desconhecido assim. No obelisco, ao centro, tem uma placa de mármore com os nomes de todos os combatentes da guiana mortos na Primeira Guerra Mundial. Nessa praça são realizadas as cerimônias cívicas e festas populares.
A bebida mais consumida é o "tafiá", 58 graus, que deixa a nossa cachaça com sabor de refrigerante. Para abrandar a fortidão, os garçons trazem junto com a dose um pouco de xarope de groselha e um copo com água gelada. Mesmo assim não adianta. O bebedor de "tafiá" recende a três metros de distância. Vendem também cervejas "Spalthaller" e "Kronenbourg", menos saborosa que a Cerpa. No fim da tarde os bares ficam cheios. Operários, funcionários, políticos, gendarmes, juntam-se para generosos tragos enquanto não chega a hora do jantar, geralmente consumido em grupo. As conversas ficam nos acontecimentos locais. A maioria do povo, entretanto, mantém-se atualizada do que vai pelo mundo através do "Journel de Paris", transmitidos todas as manhãs pela Rádio Difuseur Francais, emissora de onda tropical instalada em Cayenne e muito bem recebida em qualquer rádio à pilha de Saint Georges.
O intercâmbio cultural é também um detalhe interessante que se observa nas duas cidades. Fora a influência do patuá na fala dos índios do Uaçá e dos caboclos da beira do rio, nota-se ainda que os creôlos de Saint Georges dançam com desenvoltura o samba brasileiro da mesma forma como o oiapoquense rebola os quadris ao som dos tambores do cacicó. (Do livro Entrevista ao leitor. DIO, Macapá, 1982) (Imagem disponível em: www.porta-retrato-ap.blogspot.com)

Estrada do Tempo –Juvenal e Sol

juvenal_solTio Juvenal Salgado Canto e tia Sol Elarrat Canto (Década de 1950).

Estrada do Tempo–Álbum de Família

taco_franciMeu cunhado Francisco Soares (Taco) com minha sobrinha Francy na Vila Primária da Serra do Navio (Década de 70).

Estrada do Tempo–Estudantes do Barão

estudantes_baraoEstudantes do Barão do Rio Branco excursionando pelo centro comercial de Macapá, depois de uma visita à Fortaleza de São José, na década de 1960. Quem serão esses moleques e molecas em frente ao “Armazéns Estrela”, de Celestino Pinheiro Filho?

Estrada do Tempo–Professoras do Barão

professoras_barãoProfessoras do Grupo Escolar Barão do Rio Branco (década de 1960). Com a diretora Graziela Reis de Souza, secretária Guita Coutinho, professoras Elba e Maria da Saúde Pimentel Canto (minha mãe), a última lá em cima. Quem souber o nome das outras mestras, por favor, mande um comentário.

ESTRADA DO TEMPO - Álbum de Família



Dois aninhos de Júlia Canto (Niterói-RJ)


Julia e Fernando Canto - Praia do litoral fluminense

Estrada do Tempo – Postais de Família

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Congresso Nacional (Brasília), de 1961
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Teatro Amazonas (Manaus), 1949 

sábado, 17 de setembro de 2011

ESTRADA DO TEMPO – Alceu Filho

F73 O grande craque de futebol Alceu Filho o “Teteu”, em foto do acervo de Mário Correa. Jogava de relógio no Guarany Atlético Clube, antes de ir para o São Jusa.

ITINERÂNCIAS & ENCONTROADAS – Junior Tumucumaque

 TUMUCUMAQUE (JUNIOR) Professor Junior Tumucumaque e seu filho curtindo o Bar Lokau.

ITINERÂNCIAS & ENCONTROADAS – Os Leal

vENILTON E nONATO LEAL040920111294

Velhos amigos, grandes músicos do Amapá, Venilton e Nonato Leal (filho e pai) em tarde agradável no Bar Calçadão, no Laguinho.

CENA MACAPAENSE

Pôr-do-sol procopio Rola

Por-do-sol na Avenida Procópio Rola, no Bairro Santa Rita. É Setembro!

ITINERÂNCIAS & ENCONTROADAS – Mabel Tork

pROFESSORA MABEL TORK A professora Mabel esposa do Rui Tork, sempre muito amável no seu Motor’s Café.

ITINERÂNCIAS & ENCONTROADAS – Mini Box Lunar

fãs da banda Fãs da banda da Luana (Mini Box Lunar), na Choperia da Lagoa.

ITINERÂNCIAS & ENCONTROADAS – Elson e Popoca

Elson martins e Popoca Elson Martins e Fátima (Popoca) Guedes, no Largo dos Inocentes.

ITINERÂNCIAS & ENCONTROADAS – Ian Maciel

ian maciel no RU Ian no RU

ITINERÂNCIAS & ENCONTROADAS Os Juvenal

DOIS jUVENAL, IRMÃO E TIOTem gente que me chama de Juvenal. Mas olhem aí, em dose dupla: meu irmão Juvenal Canto e meu tio Juvenal Canto.

PS. 171 é o número da casa do meu irmão Juvenal.

ITINERÂNCIAS & ENCONTROADAS – Taco Show

cANTOR TACO FONSECA SOARES Encontrei o cantor Taco, depois de um longo inverno

ITINERÂNCIAS & ENCONTROADAS – Igreja S. José

Igreja São José com mato A velha igreja de São José precisa de reparos. Vejam a “floresta” em sua torre.

NOVAS ITINERÃNCIAS

Brenda Lima Cantora Brenda Lima autografa deu primeiro CD depois do Show no Araxá. Ao fundo o baterista Fábio Rato.

Coluna Canto da Amazônia - ZUNIDOR

ZECA CONCEIÇÃO

ZECA A coluna registra com pesar o falecimento ocorrido ontem (16.09.11), às 06h00, em Contagem-MG, do agrimensor, recentemente aposentado, José Conceição Silva dos Santos, o Zeca, ex-atleta do Guarani Atlético Clube. Zeca era irmão dos amigos Nazaré, Carlos e Joca, João e Santa (Geóloga que atualmente mora na Austrália). Zeca (61 anos) era casado com Wandira (filha do saudoso professor Waldir Lira) e deixou três filhos. Estava sendo esperado pela família em Macapá em outubro, ali no Laguinho, onde gozava de grande prestígio.

CONCERTOS DE VERÃO

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Manoel Cordeiro, Fineias Nelluty, Israel, Bibi e Markinhos Sansi

Ocorreu ontem no Largo dos Inocentes, atrás da igreja velha de São José, o show instrumental da banda Amazon Music, capitaneada pelo multiinstrumentista e arranjador Finéias Nelluty. Faz parte da programação dos Concertos de Verão, projeto promovido pela Confraria Tucuju. Na sexta passada quem deu o ar da graça por estas plagas foi o maestro Manoel Cordeiro, que lá se apresentou e como sempre foi só show. Pensar que tocamos juntos no conjunto “Os Inimitáveis”... Depois ele foi arranjador das músicas dos CDs do Grupo Pilão.

GARAGEM UNIVERSITÁRIA

1315579465_baner Galera do “Garagem Universitária” (projeto Pró-Estudante Cultura) comemorou ontem, em frente ao Auditório Multiuso da UNIFAP o seu primeiro ano. Começaram a partir da 14h00 prometendo 12 horas de shows com as bandas Descalços, Beatle George, Slide, Gravidade Zero, In Prax, Mental Caos, Seu Madruga, Veste Preto, Velho Johnns, Nova Ordem, Delinquentes (Pa) e LBR. A atração maior foi a conhecida banda de rock Garotos Podres.

PÉ NA ESTRADA

caminhão Show de bola foi a execução do projeto “Pé na Estrada”, do pianista Arthur Moreira Lima, na quinta-feira, ao lado do Teatro das Bacabeiras. Um mundo de gente interessada acompanhou o projeto do artista mundialmente famoso. AML executou clássicos e peças famosas de Bach, Bethoven, Villa-Lobos, Radamés Gnatalli/Garoto e de Pixinguinha, entre outros. A sua carreta que já viajou por 24 estados, em mais de 4000 apresentações vai ainda para Amapá, Calçoene e Oiapoque. Depois fecha o Brasil se apresentando em Roraima e Amazonas. Até o Zoth Cavalcante apareceu por lá. Veio ver os amigos.

VISITA

lucas_leonardo Leleo e Lucas Mont’Alverne em visita às obras de sua nova casa.

AMANDA Amandinha também.

LIVRE, LEVE E SOLTO

Juliele e Luana Juliele e Luana (solista da banda Mini Box Lunar) no show “Livre, Leve e Solto”, na Chopperia da Lagoa.

Claudia e Charles Chelala Charles e Claudia Chelala sempre presentes nesses eventos, valorizando nossas coisas.

Doacy e esposa O casal Doacy Jardim, também esteve presente. Agora já sei porque o serviço de lá é tão ruim: fotografei todos os garçons (juntos) assistindo a cantora, sem dar a mínima para os clientes, mas a foto não ficou boa.

VISITA 2

Aroldo Marinho Está em Macapá o professor Aroldo Marinho, que realiza amanhã, sábado, junto aos amig@s um chá de bebê.

SOBRAL, 50 ANOS DE MÚSICA

SOBRAL E zENAIDE Foi um sucesso de público o show de 50 anos de música do intérprete Manoel Sobral, na semana passada, na Casa de Choro Ceará da Cuíca. Sobral reuniu os amigos cantores e ainda trouxe de lambuja o violonista sete cordas Chico Cara-de-Cachorrro e sua esposa Zenaide, que integravam o grupo Café com Leite, muito requisitado nos anos 70/80. Parabéns, Sobral.

ELSON MARTINS EM MACAPÁ

Elson Martins e eu Encontrei no Largo dos Inocentes, na sexta passada o jornalista acriano Elson Martins, que veio fazer uma visita em Macapá, onde trabalhou por muitos anos. Na foto comigo, que lhe presenteei meu livro “Adoradores do Sol”.

INAUGURAÇÃO DO RU

Dep. Dalva O reitor José Carlos Tavares inaugurou o Restaurante Universitário com a presença da minha ex-aluna (do curso de pedagogia do antigo Núcleo de Educação da UFPA, em Macapá, que depois virou UNIFAP), professora Dalva Figueiredo, deputada federal que fez as emendas para a construção e equipamentos do RU.

RU Erramos ao colocar o prédio do Ginásio de Esportes da UNIFAP em vez do RU. Pedimos desculpas aos nossos leitores.

Entreouvido de um diálogo antes do show do pianista Arthur Moreira Lima: - Ouvi falar que esse cara é especialista em Bach.

- Ora, eu também sou. Eu vivo no bar do Abreu.

Inderê! Volto zunindo na semana que vem.

Coluna Canto da Amazonia - QUINTA PRIMAVERA DOS MUSEUS

quinta_prima Vai ser no dia 19 (segunda-feira), a partir da 18h30 no Museu Fortaleza de São José de Macapá, a abertura da exposição de pintura denominada “Transposição”, pelo grupo de artistas plásticas Juçara. Na ocasião a galeria será denominada oficialmente Professora Nazaré Trindade, talentosa educadora de Artes Visuais que nos deixou prematuramente.

O Grupo Juçara, coletivo artístico composto por artistas mulheres (Carla Marinho, Cristiana Nogueira, Ghazia Brito, Irê Peixe, Jonáta Lacerda, Rosiani Olivia e Maria José Queiroga), comprometido em discutir questões estéticas, sociais, políticas, gênero e culturais através de diversificada expressividade e categorias artísticas das Artes Visuais, foi convidado pela gerência do Museu Fortaleza de São José de Macapá a compor o evento 5ª Primavera dos Museus. Dessa forma, a exposição “TRANSPOSIÇÃO” apresentará ao público questões, sobretudo a cerca do papel da mulher na sociedade e na contemporaneidade.

“A Quinta Primavera dos Museus (de acordo com folder explicativo do MFSJM) com seu tema Mulheres, Museus e Memórias, é um espaço de indagação sobre como o gênero, a mulher e o feminino estão sendo pensados na contemporaneidade. Com que memórias nossos museus individuais e coletivos estão sendo estruturados?” O período da exposição será de 19 a 30 de setembro

Coluna Canto da Amazônia - RELAÇÕES LUSO-BRASILEIRAS PARA A CULTURA EM 2012

Terreno fértil na aproximação entre Portugal e o Brasil, a cultura é palco de dezenas ou centenas de eventos todos os anos. Mas quem está a ganhar mais com isso?

Jorge Horta

Lisboa – A cultura será, provavelmente, uma das áreas mais férteis das relações luso-brasileiras. E, mais ainda do que no plano económico, os intercâmbios culturais têm evidenciado que a Independência do Brasil nunca se traduziu num afastamento de Portugal. De um lado e do outro do Atlântico o consumo de cultura do país irmão está a crescer. Mesmo que por vias diferenciadas.

A Lisboa chegaram nas últimas décadas os enredos das novelas brasileiras, inspirando o modo de se fazer e de se consumir entretenimento televisivo em Portugal. E todos os anos, não sendo tendência recente, passam pelos palcos portugueses dezenas de músicos brasileiros, dos mais bem sucedidos aos pequenos nomes de circuitos mais alternativos.

E se é um facto que a cultura brasileira tem encontrado mercado em Portugal (quer entre a comunidade emigrante, quer entre os próprios portugueses), não deixa de ser verdade que, nos tempos mais recentes, muitos escritores lusos têm gozado de algum prestígio no Brasil, ainda que nem todos cheguem ao grande público.

embaixadorbrasilmariovilalva-notMário Vilalva, embaixador do Brasil em Portugal, sublinhou em julho, numa entrevista à revista “O Brasileirinho”, a importância de descentralizar a cultura brasileira que chega ao mercado luso, e que tem tido como destinos principais Lisboa e Porto. “Acho muito importante descentralizar a atuação da Embaixada, com o apoio de nossos consulados em Lisboa, Porto e em Faro. Este último começará a funcionar em breve. Também gostaria de forjar parcerias na Madeira e nos Açores em termos de divulgação cultural”, afirmou o diplomata.

“Como Portugal não é um país geograficamente tão grande e possui boa estrutura de transportes, não fica difícil levar atracções culturais para outras cidades. Já há iniciativas em outras localidades, como em Santarém, onde Pedro Álvares Cabral morou, e Belmonte, onde ele nasceu. Essas cidades estão mais afastadas dos grandes centros e seriam excelentes palcos para eventos ligados ao Brasil”, acrescentou Mário Vilalva.

Por Lisboa e pelo Porto passam, quase todos os anos, nomes como os de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Martinho da Vila, Maria Rita. Daniela Mercury e Ivete Sangalo. Os meses quentes de junho a setembro, altura em que se concentram os maiores festivais musicais de Verão de Portugal, têm proporcionado aos nomes consagrados da música brasileira, mas também a novas promessas, oportunidades para se darem a conhecer perante públicos menos conhecedores.

O CASO DA MÚSICA

E ao contrário? A verdade é que a nova música portuguesa, se no mercado doméstico conquista dezenas de milhares de fãs, no Brasil parece ter mais dificuldade em vingar. Casos esporádicos de concertos em palcos brasileiros nos últimos anos incluíram músicos lusos como JP Simões, Mariza, Clã, The Gift, entre outros, mas nunca com a capacidade de assumir proporções de fenómenos no mercado brasileiro.

A expressão da música portuguesa no Brasil tem estado confinada aos pequenos espectáculos de fado para a comunidade da saudade, um público feito de emigrantes e seus descendentes à procura de pontos de contacto com um Portugal distante.

Ainda no passado mês de Julho, o novo ministro português dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, esteve em Brasília. A promoção da cultura portuguesa no Brasil praticamente ficou de fora da bagagem levada por Portas ao Brasil. “Sou muito focado em diplomacia económica. O essencial é construir uma excelente diplomacia económica e melhorar a percepção de Portugal no exterior”, afirmou na ocasião o governante português.

Mesmo assim, para 2012, o “Ano de Portugal no Brasil e do Brasil em Portugal “, as expectativas são altas. O ministro disse desejar que os eventos que vierem a ser realizados “tenham nível, sejam exigentes”. Mas, questionado sobre as dificuldades financeiras em que se encontra o Instituto Camões - organismo responsável pela promoção e divulgação da língua e da cultura portuguesa no exterior -, Paulo Portas foi, neste caso, parco nas palavras de resposta: “melhorar com menos”.

Com uma história de independência de 189 anos e agora a atravessar anos de significativo crescimento económico, com um mercado interno cada vez maior e uma diplomacia mais ágil, o Brasil é já uma referência global. Os agentes culturais portugueses, aparentemente, ainda não tiraram daí o proveito que poderiam ter, na partilha de uma língua comum. Já os artistas brasileiros têm em Portugal um ponto de passagem obrigatório nas suas agendas de espectáculos na Europa, onde talvez os cachets sejam até mais generosos.

O ano 2012 poderá trazer alguma mudança na relação de proximidade e interdependência da cultura dos dois países. Para tal será necessária uma dupla alavancagem: o capital brasileiro e a vontade portuguesa de fazer melhor do que o que existe hoje. (Fonte: Portugal Digital)

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Coluna Canto da Amazônia - FESTA DO SAIRÉ EM ALTER-DO-CHÃO

image A festa religiosa tem seus momentos profanos, com danças, derrubada de mastro e Marabaixo

A mais antiga manifestação cultural da Amazônia, o Sairé, que acontece há mais de 300 anos, começou nesta quinta-feira (15), na vila de Alter-do-Chão, no município de Santarém, oeste do Pará. A festa une religião e cultura e expressões como rituais beatos, danças, músicas, culinária e teatro. O evento intriga, emociona e encanta turistas de diversas partes do mundo.

O Sairé acontece durante cinco dias. A programação de abertura começa às 8 horas, seguida de um café da manhã comunitário e show musical. No início da noite, é feita uma procissão pela praça de Alter-do-Chão com o símbolo do Sairé, levado por uma mulher chamada de saiapora até a “barraca do Sairé”, onde acontecem as ladainhas religiosas. Seguindo esse ritual, acontecem apresentações de danças folclóricas, shows musicais e degustação da culinária local.

Uma novidade no Sairé deste ano é o show Terruá Pará, promovido pelo governo do Estado, que aconteceu dia 15, no Sairódromo, a partir das 22 horas, reunindo 45 artistas paraenses de várias vertentes musicais, com entrada franca. Um dos destaques foi o violonista santareno Sebastião Tapajós. Outras atrações foram Gaby Amarantos, Edilson Moreno, Charme do Choro e Dona Onete, dentre outros.

Origem - O historiador Hélcio Amaral explica que a festa do Sairé surgiu da tentativa dos jesuítas de catequizar os indígenas, quando padres jesuítas prosseguiam com a missão evangelizadora pela bacia do rio Amazonas. “Os catequizadores tentaram fazer de uma forma ‘material’ com que os índios entendessem sobre a santíssima trindade”, explica.

image Daí vem a explicação para o símbolo do Sairé, que é constituído por um semicírculo e confeccionado com cipó torcido, algodão, flores e fitas coloridas. Uma cruz no topo do semicírculo e outras três cruzes ao centro completam o emblema, representando Deus no topo e o mistério da Santíssima Trindade. A essa manifestação, os índios acrescentaram uma programação festiva, com músicas, danças e gastronomia.

Com o passar dos anos, os moradores da vila, descendentes dos índios Borari, acrescentaram aos festejos outras manifestações, como as danças do curimbó, puxirum, lundu, camelu, desfeiteira, valsa da ponta do lenço, marambiré, quadrilha, cruzador tupi, macucauá, cecuiara, entre outros. “É a parte da festa do Sairé que as pessoas costumam caracterizar como profana”, diz Hélcio.

Disputa - Uma dessas atrações agregadas e ponto alto da festividade é a disputa dos botos Tucuxi e Cor-de-Rosa, um espetáculo no qual duas associações da comunidade apresentam a lenda do homem boto, um jovem e belo rapaz de vestes brancas e chapéu na cabeça, que seduz a mais bela cabloca ou cunhâ – como são chamadas as moças da região. Todos os anos as associações escolhem uma temática para nortear a trama, que acontece no Sairódromo.

“Para deixar o Sairé ainda mais bonito para os turistas que chegam para a festa, fazemos a disputa das apresentações entre os botos Tucuxi e Cor-de-Rosa, mas a disputa se resume ao dia do espetáculo. Durante todo o ano, trabalhamos juntos para as apresentações e dos demais momentos da festa”, explica o presidente do Centro Comunitário da Vila, Mauro Vasconcelos, que coordena as últimas ações para o início da festa.

No último dia, uma segunda-feira, acontecem a “varrição da festa”, a derrubada dos mastros, o marabaixo, a quebra-macaxeira e um grande almoço de confraternização chamado de “cecuiara”. O encerramento da programação é à noite, com a festa dos barraqueiros. O Sairé já aconteceu em várias datas, mas atualmente é sempre na primeira quita-feira após o dia 7 de setembro, período em que as chuvas da região são reduzidas e formam- se as praias, outra atração turística da cidade. (Manuela Viana – Secom. Fonte: Agência Pará/ Site chupaoosso.com.br) )

Coluna Canto da Amazônia – SONORA BRASIL

SONORA BRASIL REALIZA TERCEIRA ETAPA EM MACAPÁ NESTA SEGUNDA‏

panfleto sonora congoNesta segunda-feira, dia 19 ocorrerá a terceira etapa do projeto Sonora Brasil, no auditório da Escola SESC, situada na rua Jovino Dinoá, bairro do Beirol, às 20h00.

O grupo que vai se apresentar será a “Banda de Congo e Panela”, do estado do Espírito Santo

A “Banda de Congo Panela de Barro” tem seu calendário iniciado no dia oito de dezembro, quando segue em procissão em direção à mata para a cerimônia da cortada do mastro, ato simbólico que é acompanhado pelos devotos. No dia 25 de dezembro, o grupo segue em procissão até a igreja católica local para a cerimônia da fincada do mastro. Junto com este, então decorado e com a bandeira de São Benedito, seguem o andor com a imagem do santo, o barco e a corda. Na igreja, o mastro recebe a benção e é fincado num local previamente escolhido, onde fica até o domingo de Páscoa, quando em nova cerimônia acontece a retirada do mastro. Em todas essas etapas são entoados cânticos de devoção ao santo e após cada cerimônia a população segue com a festa cantando dezenas de músicas tradicionais das bandas de congo, de caráter profano, que aludem a diversas situações do cotidiano. (Fonte: Nilson Melo da paixão/SESC)

Coluna Canto da Amazônia - A VOLTA DA BONEQUINHA DE PANO NO TB

24611bonequinha2 Sábado e domingo, dias 17 e 18 de setembro às 19:00 retorna ao palco do Teatro das Bacabeiras uma das maiores produções já idealizadas por uma companhia de artes genuinamente amapaense. Trata – se do espetáculo teatral Bonequinha de Pano, primeiro e único texto de Ziraldo escrito especialmente para ser encenado, é a mais recente produção do Ói Nóiz Aqui Traveiz. Capitaneando o espetáculo temos o encenador Claudio Silva, que na ocasião pôde contar com o talento a sensibilidade da atriz Sabrina Zahara, que vive dois personagens: a bonequinha Pitucha e sua dona, Leninha, narrando com humor e emoção, a trajetória da criança ao mundo adulto, com todas as suas alegrias, mas também com os seus momentos difíceis. Na equipe constam ainda as participações do cantor e compositor Cléverson Baía que assina a produção e direção musical, Bruno Nunes nos figurinos e adereços e o artista visual Agostinho Josaphat na cenografia.

A peça é dividida em dois atos. No primeiro, a bonequinha Pitucha, há muitos anos esquecida no sótão da casa da avó, relembra os momentos marcantes da vida da menina Leninha. No segundo ato, a menina, já adulta, reencontra sua antiga bonequinha, descobrindo que o espírito de criança ainda vive dentro dela. Neste reencontro as duas revivem as lembranças de grandes momentos da infância: as brincadeiras de criança, a separação dos pais e o primeiro beijo são apenas alguns dos acontecimentos da vida de Leninha, narrados pela boneca, que conta ainda o seu próprio nascimento, quando sua avó a fez.

Rica em imagens e conteúdos como deve ser uma peça infanto-juvenil, Ziraldo em sua obra trata temas importantes que geralmente são ensinados para as crianças de forma pejorativa, assim, a encenação valoriza todos estes temas abordados pelo autor a fim de garantir um espetáculo para o público de todas as idades.

Esta rodada de apresentações marca o inicio do programa de sustentabilidade do grupo, tendo em vista que o estado ignora a existência de uma demanda e de um mercado cultural, e faz vista grossa para a necessidade de consolidação de uma política publica de estado, não de governo, que permita a experimentação artística, a circulação de bens, produtos e serviços culturais, a formação de platéia e a profissionalização de nossos artistas e técnicos. Na ocasião, estará a disposição dos interessados: CD com a trilha sonora do espetáculos, bonecas de pano, imã de geladeira, bolsas e outros souvenires do grupo.

O Ói Nóiz Aqui Traveiz, passou por um processo de reformulação, e passará a partir do presente momento a ser denominado “Ói Nóiz Akí – AgitaçãoCultural”. Somos filiados ao Coletivo de Artistas, Produtores e Técnicos em Teatro do Estado do Amapá - CAPTTA, à Rede Nacional de Teatro Infantil – RENAIN e à Rede Brasileira de Teatro de Rua – RBTR. (Fonte: Ascom Captta.) 

SERVIÇO

Peça Teatral Bonequinha de Pano

No Teatro das Bacabeiras / Dias 17 e 18 de Setembro / Às 19:00 Horas

Ingressos: R$ 20,00 (Inteira)

Imagem disponível em: http://www.correaneto.com.br

Coluna Canto da Amazônia – Controle da Mídia

PROJETO DE CONTROLE DA MÍDIA É CRITICADO NO SENADO

image Controle da mídia é inconstitucional, afirma senador Pedro Taques

A última convenção do Partido dos Trabalhadores, realizada no final de semana passado, trouxe à pauta a proposta de um novo marco regulatório da mídia. A legenda anunciou que pretende fazer uma “campanha forte” para aprovação do projeto no Congresso, entretanto, a possibilidade de controle sobre os veículos de comunicação recebeu críticas no parlamento.

Elaborado pelo ex-ministro da Secretaria de Comunicação, Franklin Martins, o projeto ainda está sendo analisado no Ministério das Comunicações e deve ser submetido este ano a apreciação da presidente Dilma Rousseff. O PT ressalta que o setor precisa de novas regras e que os principais itens do marco seriam a delimitação da propriedade cruzada dos veículos, a garantia do direito à opinião na imprensa e a proibição de que parlamentares sejam donos de emissoras.

Uma das preocupações de parlamentares como o senador Pedro Taques (PDT-MT) é com a intenção de impor censura aos meios de comunicação. Taques é contrário à proposta e defende que qualquer tentativa de restringir a liberdade de expressão afronta a Constituição. “É óbvio que liberdade rima com responsabilidade. Agora, não se pode falar em regulamentação da imprensa sob pena de violarmos a Constituição ”, disse, em plenário.

À Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Taques falou sobre a propriedade cruzada dos veículos e a legislação que regula o setor. Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

Qual a opinião do senhor sobre o marco regulatório da mídia?

Quando se fala em controle de conteúdo da mídia, com certeza, há um desrespeito à Constituição que garante o direito à liberdade de expressão, inclusive dos meios de comunicação. Acredito que a tentativa de controlar o trabalho dos veículos representa uma censura, o que é inaceitável. Aliás, qualquer tentativa de cerceamento à livre opinião é inconstitucional.

O senhor concorda com algum ponto da proposta do PT?

Em tese, a resolução do PT fala em proibir que senadores e deputados sejam proprietários de veículos de comunicação, o que é correto porque a prática ofende o processo democrático. O artigo 54 da Constituição deixa a questão explícita quando afirma que os parlamentares não poderão firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público. O tópico, no entanto, em nenhum momento representaria uma interferência no papel da mídia.

É realmente necessário regulamentar a mídia?

O Brasil realmente não tem uma lei de imprensa para regular a atividade. Mas propor o controle do conteúdo não entraria nesta discussão. Imagino que algumas regras deveriam mudar, como maior agilidade em garantir o direito de respostas. Isso sim deveria ser discutido e não a tentativa de censurar ou de limitar a liberdade de expressão, que parece ser um dos principais pontos da moção do PT. (Fonte/Foto: José Cruz/Agência Senado
Assessoria de Comunicação da Abert)

Coluna Canto da Amazônia - ASSASSINATO DE JORNALISTA

252x336-images-stories-wanderley A Procuradoria-Geral do Ministério Público do Estado do Amazonas vai solicitar nesta sexta-feira (15) à 4ª Regional de Delegacia da Polícia Civil de Tabatinga informações sobre o assassinato do radialista Vanderley Canuto Leandro, ocorrido no último dia 1º. De acordo com a assessoria de imprensa do órgão, a medida está relacionada a suposto envolvimento de políticos da cidade no crime.
Se confirmada a suspeita, a Procuradoria passará a investigar o caso. Por enquanto, a investigação está sob o comando do delegado da 4ª Regional, Jaime Lima. De acordo com ele, ainda não há pistas concretas sobre o mandante do crime.
Vanderlei Canuto Leandro comandava o programa "Sinal Verde", da rádio bilíngue Frontera, e havia procurado o Ministério Público para  denunciar ameaças recebidas. Ele foi assassinado com oito tiros, no município de Tabatinga, na Tríplice Fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. O crime foi executado por dois homens em uma moto. Ele costumava denunciar irregularidades na administração local.

Leandro é o quinto profissional de imprensa morto no país neste ano. Somente no primeiro semestre, foram assassinados Luciano Leitão Pedrosa (morto em Pernambuco, em abril), Valério Nascimento (interior do Rio, em maio), Edinaldo Filgueira (Rio Grande do Norte, em junho) e Auro Ida (Mato Grosso, em julho).

Fonte: Assessoria  de Comunicação da Abert.

Coluna Canto da Amazônia - Ildefonso Guimarães

FUNDAÇÃO TANCREDO NEVES LANÇA SELO E LIVRO DE ILDEFONSO GUIMARÃES

image Com o Auditório Pará, no HANGAR, totalmente lotado, aconteceu no sábado, dia11, em Belém do Pará, o lançamento do Selo Literário Ildefonso Guimarães e de seu livro “Crônicas de Rua: Memória de um Repórter de Polícia”.

Durante a cerimônia João de Jesus Paz Loureiro e Nilson Chaves falaram da importância do Selo para os escritores do Pará, da obra e da forma literária refinada que Ildefonso escreveu suas obras. Loureiro comentou: “A grande maioria dos escritores paraenses vem do interior, como Ildefonso, trazendo consigo a cultura interiorana que enriquecem ainda mais a literatura paraense”.

Tanto Nilson como Loureiro, mostraram-se contrários a divisão do Pará e Nilson Comentou: “Eu aprendi que a ação coletiva se dá pela união e não pela divisão e este Selo é uma forma de união e não de divisão do Pará.”

Seu filho, Ildefonso Guimarães Filho, falou da obra de seu pai, da sua dedicação à literatura, do tempo em que viveu em Óbidos, do reconhecimento que pai está recebendo dando nome ao Selo e agradeceu às pessoas que contribuíram para o lançamento do Livro.

O Selo

A Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves através do selo literário Ildefonso Guimarães, procura de estimular a leitura e produção literária, prestando homenagem a um dos maiores expoentes da literatura paraense.

O livro

image O livro “Crônicas de Rua” tem como ponto de partida fatos do cotidiano da cidade de Belém, no período que vai do final da década de 40 à década de 80, onde são resgatados fatos deste período.

Ildefonso Guimarães dá aos acontecimentos um lirismo sem igual, constituindo às crônicas curtas uma mistura de suspense, humor e lições de vida. Criando personagens a partir da realidade, dando aos tipos sociais vida plena, criticando valores, costumes e os mais diversos comportamentos.

Constrói um retrato de Belém de outros tempos, que nos remete a narrativa de Dalcídio Jurandir em “Belém do Grão Pará”, ou de Machado de Assis em seus “Contos Fluminenses” descrevendo o Rio de Janeiro, Jorge Amado a Bahia em seus romances. Não é nenhum exagero afirmar a competência em construir narrativas breves e de uma densidade profunda, preocupado no texto em deixar ao leitor sempre uma mensagem propositiva, apesar de narrar “crimes” dessa época.

Outro aspecto marcante na obra é o recurso usado pelo autor da intertextualidade. Ildefonso Guimarães faz uma retomada a grandes mestres da literatura, dando a sua obra um elo entre o regional e o universal, partindo de situações locais como o caso de um falso cristão que roubava as esmolas doadas à igreja, para refletir como o leitor a sua condição ética e moral.

Com uma capacidade ímpar no uso da linguagem, Ildefonso recria situações que estão presentes em sua memória de “repórter de polícia”, usando o fluxo da memória de forma alinear, constituindo narrativas em estruturas psicológicas, prendendo o leitor a cada parágrafo do texto, fazendo com que o mesmo não deixe de chagar ao seu final na espectativa do desfecho de cada história.

A modernidade se faz presente na obra de Ildefonso Guimarães, com uma temática do cotidiano de uma cidade em transformação, com uma linguagem criativa, passando por diversos níveis de elaboração, desde o erudito ao popular, conseguindo dar à temática regional, uma dimensão de valores universal, em qualquer lugar ou qualquer pessoa, de qualquer idade, se identificará com as “Crônicas de Rua”, com seus personagens, seus conflitos, seus dilemas e acima de tudo, com a felicidade das mensagens aprendidas em cada experiência de vida por todos aqueles que compõe estas crônicas, pois são na verdade parte de um todo que formamos e que somos, com nosso vícios e virtudes, em síntese, Ildefonso resume nesta obra a essência do comportamento humano, ou como ele escreve “isto é uma questão de idiossincrasia”.

image Ildefonso Guimarães

Por fim o lirismo, tão presente no gênero poético, aparece de forma maestral em um livro de crônicas, só um escritor com grande genialidade no uso da palavra, é capaz de transformar temas relacionado ao sofrimento como: a prisão, o delito, o desvio de comportamento, em algo lírico, belo e alentador no ato da leitura.

“Quem em seu senso próprio dirá que a vida não tem seus ires e vires”.

(Ildefonso Guimarães – Crônicas de Rua)

“Quando tudo é quietude e corre cinzento o senso da gente, embolorando a alma e pondo tentares sombrios na vida da pessoa”.

(Ildefonso Guimarães – Crônicas de Rua)

Sem dúvida esta obra ficará marcada na história da literatura do Pará. (Bella Pinto)

O Autor

Ildefonso Guimarães é natural de Santarém e passou a maior parte de sua vida em Óbidos, cidade que era a principal inspiração de suas crônicas, romances e contos. Trabalhou como jornalista, venceu vários concursos literários nacionais. Faleceu e 2004 aos 85 anos. (Informações e fotos de João Canto
www.chupaosso.com.br)

idelfonso guimarães

Idelfonso Guimarães e eu no lançamento do meu livro “O Bálsamo e outros contos insanos”, em 1995. Belém-PA