terça-feira, 15 de novembro de 2011

A POESIA DE ÁLVARO FALEIROS (*)

  hoje não sairemos tarde

automóveis batem no vidro

e nas grades do centro dos edifícios

difícil será romper o asfalto

teremos contudo ainda

segundos de elevador

onze choros piso a piso

o pavor se cai a ligação das redes

mas não desanime

azulejos não esfriam

dentro dos chuveiros


um primeiro espasmo pelas escamas das águas sei dos sopros nos olhos já sem as dores do mundo devorado dos timbres do medo e posso a luz de um mar sem grades / / no berço le parc / revoada no pulso da lâmina ou no ringue ou no chão enviesado de lentes rindo segredos de jardim / jatos de peixe prata feixes de ameba no metal e digo sempre explosão e contra no fogo e mais a cada hora ainda


ave eva

ave ave eva

nave mãe que me navega

nessa indomável cruzada

que se faz do nada ao nada

onde tudo desfeito se reagrega

assim eu satélite ou astro

em ti refeito e semeado

caminho contigo lado a lado

às vezes tímido às vezes vasto

ante a luz que emana ou se reflete

ave mãe leio em teus lábios

um rumo certo para minha era

e se teu leite alimenta a terra

é porque emanas o gesto sábio

de saber-nos todos no mesmo barco

por isso o arco da trajetória

que desenho hoje livre em asa

guarda em si o germe da nossa casa

sem que me pese a âncora da história

pois mãe és pássaro em minha hora

e se agora beijo a tua herança

com a boca em fruto e a mão em verso

é porque te amo intenso e terno

e amo em ti tua eterna esperança

que faz mais bela a nossa dança

soltos neste espaço que nos cerca


hai ku !

se abashô demais

um vento no bambuzal

frio no lago azul


(*) FALEIROS, ÁLVARO

alvaro_faleiros– nasceu no Chile em 1972, e passou a adolescência em Brasília (1984-1990), voltando à cidade de 2000 a 2002 , quando se mudou para São Paulo e doutorou-se em Língua e Literatura Francesa, na USP (2003 ). É professor da Universidade de Brasília (UnB) desde 2004. Como tradutor publicou, entre outros: Latitudes: 9 Poetas do Québec (Noroît/Nankin, 2003 ); O Bestiário, de Guillaume Apollinaire (Iluminuras, 1995 ); Descabelados, de Yosano Akiko (Ed. UnB , 2007), com Donatela Natili; e Caligramas, de (Iluminuras, 1995 ); Descabelados, de Yosano Akiko (Ed. UnB , 2007), com Donatela Natili; e Caligramas, de Guillaume Apollinaire (Ateliê, 2008). Publicou os seguintes livros de poemas: Coágulos (Iluminuras, 1995); Amapeando (Nankin, 1997); Transes (França, 2000), O Retirante que Virou Presidente (Cordel, 2002 ); O Auto do Boi d’Água (cordel, 2003 ) ; e Meio Mundo (Ateliê, 2007) . Como compositor, lançou o CD Água Minha (2003).

http://www.slideshare.net/bnb_brasilia/antologia-salomao-presentation

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