segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

MAIOR GOLEADOR DO PARÁ

Na quarta-feira passada, dia 11, na solenidade de abertura do Campeonato Paraense de Futebol, promovido pela Federação daquele Estado, o jogador Bira do Espírito Santo recebeu da Federação Paraense de Futebol o título de maior goleador de todos os campeonatos paraenses disputados até hoje.

Bira jogou no Clube do Remo e no Paissandu, de Belém do Pará, na década de 1970, superando as expectativas que já se faziam quando ainda muito jovem jogava no Esporte Clube Macapá, tendo se destacado no Torneio da Amazônia, tendo conquistado incontáveis títulos e sendo o principal artilheiro do certame.

O goleador também atuou ao lado de Falcão no Internacional de Porto Alegre, sendo campeão gaúcho, e depois foi jogar no Atlético Mineiro.

Hoje Bira trabalha na Secretaria de Estado de Esportes onde exerce cargo burocrático. Tem o hábito de reunir os amigos na “Calçada da Fama”, na casa que pertenceu a seus pais no bairro do Trem (Leopoldo com Diógenes) e vez por outra aparece no bar do Abreu para um bom papo com os amigos. No Abreu tem uma galeria de fotos com vários momentos da vida do jogador e com personalidades importantes do futebol brasileiro.

Abaixo republico o poema que fiz a ele em 2010 - a minha homenagem a este grande atleta amapaense que precisa ser cada vez mais valorizado pelos seus conterrâneos, por levar o nome do Amapá lá fora, com a glória de suas eternas jogadas.

O ELOGIO DO PÉ
            Poema de Fernando Canto
            Para Ubiratan do Espírito Santo, o Bira, craque maior do futebol amapaense

                        I
Ainda que a mão guie
O rápido correr do atleta
O pé equilibra a perseguição da pelota e seu couro
Tal como o ouro em seu brilho
Desperta e arrisca o assombro à cobiça
No fado de explodir a bola
Num voo atômico em direção à rede.
                       
                        II
O atleta – certeiro - atinge o alvo duas vezes
Pé e cabeça se harmonizam nesse objetivo
E mais vezes, mais os olhos se guiam à rede – incansável,
Mistura de inseto, soldado, animal de testa larga
Arranca cem vezes o grito da torcida enlouquecida.

                        III
É azul, preto e branco, vermelho
O gosto da loucura ecoante
De rugidos da selva, de cantares da alvorada
E de sangue guerreiro de norte a sul do Brasil:
É Bira de Nueva Andaluzia, paraoara,
Dos pampas, das alterosas,
Do espiritu sancto do gol, das vitórias domingueiras
Das tardes ensolaradas, crepúsculos festivos
Da tela não-pintada de Michelangelo
(Alegoria de Deus que entrega a bola a Adão
No leve tocar de dedos)
Como um contrato entre as partes no Éden tupiniquim.

                        IV
É Bira, príncipe da arte de chutar no gol
Viajante contumaz do oco da bola                                                                    
Onde moram os querubins do futebol

                        V
No contato da chuteira e a bola
Centelhas rompem imperceptíveis aos olhos da torcida
Mas ali, na trajetória da pelota ensandecida
Girando em curva ou reta
Corre o chute mágico do atleta uBIRAtan
Que trave alguma, vento algum, goleiro algum,
É capaz de parar ante o fundo da rede, o seu destino.

                        VI
É certo que o tempo, implacável como o goleador
Também abre ruas no rosto em movimento
Ventos empoeirados surgem abruptos dos logradouros
Como quem logra a vida em ciclos imemoriais.

                        VII
Onde se vê de novo o voo rasante dos quero-queros
Sobre verde do gramado?
Talvez no espelho da lembrança
Porque a fama, efêmera e fugaz
Faz da vida o templo da memória, onde se clama
O que ficou para trás
Onde os cantares se repetem em rituais
Para abençoar a glória dos que vencem
Em tempos que escrevemos nosso esquecimento.

                        VII
A voz grossa dos que torcem e glorificam
Deixam grandes silêncios na alma
Cobram-se cobranças, cobram-se castigos
A falta, a mão, o pênalti
E o gol, que para sempre é objetivo
Resta, então, a festa da massa em labaredas
Em gritos, confetes e bandeiras
(ou o desterro infausto em outros horizontes)                                                                         
                        VIII
Entretanto o pé-de-ouro arrisca
Em balés de pés-de-lã/ pés-de-moleque
Pés-de-pato sob as gotas de um pé-d’água na neblina
Nas estações mais aziagas das paisagens-penitências
E realiza seu trabalho de cerzir o tempo e as camisas coloridas

                        IX
Ora, a inveja é um olhar sinistro
Que se movimenta sobre a dádiva
Ofertada aos talentosos
É um ovo só
Saído das entranhas da serpente,
Para reduzir a alma que alimenta com seu ranço

                        X
Ora, o futebol não se limita a homens
Em seus campos de lama e de gramas aparadas
Há um árbitro, há rivais que se trajam de esperança
Oponentes opulentos em nervos eriçados
Quando a bola cintilante gruda ao pé do craque
E ele mergulha nas funduras do seu rio
Onde cardumes geram suas eternidades
E esperam uma coreografia não ensaiada
Para, enfim, soltar a voz contida em milênios de partida

                        XI
Ah, a pira dos deuses parece penetrar em águas abissais
De onde irrompe o grito final do campeão

                        XII
Quem não viu não mais verá. Nem ouvirá
O clamor dos ribeirinhos do Amazonas, o eco da baía de Guajará
O som ferrífero da serra do Curral e o brado dos gaúchos do Guaíba.
Quem não viu não sentirá
A poesia refletida na potência do olhar, da mira
Da luz mágica do Bira e seu bólido de vidro e luz
Transformando-se em espelho pela última vez.

                        XIII
E nós aqui tal degredados em nossa própria aldeia
Apenas com as imagens do passado e nosso orgulho
Fomos os pés, os pés do Bira
Quando o chute governava a bola
E a noite vigorava um brinde
A mais um campeonato ganho na história
Pelos pés do nosso ídolo
De sonho e de memória.

                                                                                  Macapá, 21 de abril de 2010


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