quinta-feira, 10 de maio de 2012

ENTREVISTA DE RANDOLFE AO ESTADÃO: ‘O DIREITO AUTORAL HOJE É ANACRÔNICO E CORRUPTO’‏


Randolfe Rodrigues espera ver mudanças ainda neste ano. FOTO: Celso Junior/AE – 3/4/2012

 ‘O direito autoral hoje é anacrônico e corrupto’


Do Link Estadão: LOGIN: Randolfe Rodrigues, senador (PSOL/AP)
A mudança defendida pela CPI é a mesma da reforma da Lei de Direitos Autorais?
Sim, nosso modelo coincide. Queremos primeiro a instituição de uma instância reguladora ligada ao executivo. Será a Secretaria do Direito Autoral, que deve estar vinculada ao Ministério da Justiça, e terá em seu âmbito a restauração do antigo Conselho Nacional de Direito Autoral. Ele terá representação tripartite, com governo, sociedade, autores e compositores. Pode ser que, nesses aspectos, nossa proposta coincida com a do governo. Se for, será ótimo.
Por que a atualização da lei é necessária?
A atual (9.610/1998) é anacrônica. É uma lei dos anos 70, quando não havia internet e novas tecnologias. Hoje (quinta-feira), eu estava com os músicos Leoni e Gustavo Anitelli, e ambos têm uma parceria para um projeto online em que o cidadão possa acessar letra de música, cifras para o violão. E isso é algo que não existiria com a atual lei. Ela não dialoga com essas realidades. É um arremedo de um tempo que o direito autoral hoje não reconhece mais com um momento da história nacional, os anos 90, em que um Frankenstein, o Ecad, passou a existir sem nenhuma fiscalização.
O modelo de um órgão central para arrecadar e distribuir condiz com a internet?
Não e é por isso que a lei tem de mudar. Por isso a nossa lei é a quinta pior do mundo, segundo a (federação) Consumers International. Não cabe a uma entidade o monopólio de arrecadação e distribuição. Podemos até manter o Ecad, mas ele precisa se limitar a arrecadar e distribuir. Não pode ser o único detentor de direitos.
Sem o Ecad, quem estabelecerá as regras sobre quem paga, quem recebe e os valores?
A Secretaria de Direito Autoral, no Ministério da Justiça, e isso será submetido ao Conselho. É uma mudança profunda. O trabalho na secretaria será fiscalizado, tudo o que for arrecadado e distribuído será divulgado. Nós também propusemos o fim da arrecadação por amostragem. Isso, se de fato conseguirmos, vai dar fim ao jabá que é dado para as rádios.
O Ecad fala em exploração política. Vocês responderam? 
Nem eu nem o relator da CPI (senador Lindberg Farias, PT-RJ) somos candidatos nestas eleições. Não tem porque fazermos utilização eleitoral. Em vez de atacarem os argumentadores, eles deviam responder aos argumentos. O que nós constatamos é que, devido ao Ecad, o modelo de direito autoral existe no País hoje é antinacional, anacrônico e corrupto.
Os senadores acreditam que as recomendações do relatório serão seguidas?
Existe um posicionamento para isso, tanto do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro e do Distrito Federal, quanto da Procuradoria Geral da República. Parece que, pelo menos para o crime de cartel, está provado que o Ecad tem praticado.
É possível estabelecer datas para as mudanças?
Espero que seja em breve. Por exemplo, apresentamos um projeto para modificação da Lei de Direitos Autorais, que é resultado da CPI. Estamos protocolando o projeto no Senado, e ele segue direto para apreciação como projeto de lei. Então espero que algumas mudanças aconteçam neste ano.
O projeto apresentado contraria a proposta de reforma do Ministério da Cultura? Houve alguma conversa?
Vou emitir a minha opinião, que não é a da CPI. Fico pasmo com a omissão do Ministério da Cultura neste processo. O MinC deveria ter sido o primeiro a apoiar a CPI e acatar as recomendações. Mas, ao contrário disso, a ministra não manifesta uma posição clara de oposição a esse sistema do Ecad.
Isso atrapalha o andamento do projeto?
Não acredito. Hoje fomos recebidos pela Ideli Salvatti (ministra das Relações Institucionais) e eu fiquei muito satisfeito com a manifestação dela. Senti um comprometimento. Ela chegou a dizer para nós que seria uma militante da ideia e da causa do relatório final. (Fonte: reencaminhado por Márcia Corrêa, Jornalista).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por emitir sua opinião.