quinta-feira, 28 de junho de 2012

MEMÓRIAS DO LABIRINTO


Por Ronaldo Bandeira

Eu quero a minha pele na pele da pedra
Eu quero meus poros nos poros da pedra
que minh’alma é corpo e pedra

Que meu suor penetre a seiva da madeira
e que eu seja madeira e pedra secular
onde a vida passqa ao largo
qual navio rumo à Noruega

Na louca alquimia meus olhos pétreos
veem caminhar o dia para nada
onde executivos constróem biografias marginais
Na demência equatorial
abro todas as portas cerradas deste mundo

A lua desnuda e mormórea
vaga o dia equatorial
quero meu corpo nu a viajar dentro de mim
descobrindo novas américas
desvendando novos mundos
que dono sou de todas as galáxias

Deito o umbigo na terra quente
e escuto loucos tropeis
e o trepidar alucinado de todos os corações
volto a ser mãe no abraço forte
do meu falecido filho

Almejo meu corpo livre
para que ganhe asas e luzes
para que voar possa
para bem longe da razão
no território dos mortos

Deito meu corpo desnudo
na porta fechada da igreja
(todas as igrejas estão com as portas fechadas)
e a fé percorre negros, sombrios labirintos

Não sou nada, apenas um gato na madrugada
onde as luas brilham suas luzes negras
iluminando de sombras as pedras macias
Meus pés pisam areias de diamantes
E a música que vem das nuvens gera a preamar

Meu castelo de insônia delira
morrer é só um olhar para fora
e viver é um desmemoriar-se
Salomão, com toda a sua opulência
não sentiu o vento na pele

Eu quero a minha pele na pele do mar
Sou peixe azul navegando o caos oceano
E só Deus sabe onde hei de chegar

Navego sobre arrogâncias nucleares
Domino pororocas, domo os tornados
expulso Poseidon de todos os mares
condeno Hades ao fogo do inferno
assassino Ares com mil punhais
sou Deméter, maior que Zeus
e senhora de todos os impérios

A minha fé oculta o dia suicídio
nos meus espelhos me vejo rainha
não divago, habito o espaço do delírio
traduzo-me na certeza que os dias passam
e eu fico, para viver o frio, as pedras
a terra, o fogo, o ar.

                Belém, outubro de 1991/ Coluna Ponto de Vista/ Diário do Pará

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