quarta-feira, 20 de junho de 2012

PRIMEIRA DESCRIÇÃO DA POROROCA


Foto disponível em: http://casteloroger.blogspot.com.br

1745 – O naturalista francês Charles Maria de La Condamine foi o primeiro europeu a descrever o fenômeno da pororoca no rio Araguari.

Entre Macapá e o cabo do Norte, no local onde o grande canal do rio se encontra mais apertado pelas ilhas, e, sobretudo em frente à grande foz do Araguary, que entra no Amazonas pelo norte, o fluxo do mar oferece um fenômeno singular. Durante os três dias mais próximos das cheias e das luas novas, tempo das marés mais altas, o mar, em vez de levar, cerca de seis horas para subir, chega à sua altura máxima em um ou dois minutos: pode-se bem imaginar que isso não possa ocorrer tranquilamente. Ouve-se a uma ou duas léguas de distância um ruído assustador, que anuncia a pororoca. É o nome que os índios desses cantões dão a essa terrível vaga.
Na medida em que nos aproximamos o ruído aumenta, e logo se vê um promontório de água de 12 a 15 pés de altura, depois um terceiro e por vezes um quarto, a intervalos breves, e que ocupam toda a largura do canal. Essa onda avança com rapidez prodigiosa e, ao passar, destroça e arrasa tudo o que lhe resiste. Vi em alguns lugares um grande terreno arrastado pela pororoca, enormes arvores arrancadas, devastações de toda espécie.
Por toda parte onde passa, a margem fica limpa como se tivesse sido varrido com cuidado. Os botes, pirogas, e até as barcas não tem outro meio de se prevenir contra o furor dessa barre (é o nome francês que lhe dão em Cayenna) senão fundear um local onde haja muita profundidade.
Não entrarei aqui em maiores detalhes sobre o fato, nem em sua explicação. Só indicarei suas causas, dizendo que, após tê-lo examinado com atenção em diversos locais, observei sempre que aquilo só acontecia quando a onda que subia e entrava num canal estreito encontrava em seu caminho um banco de areia ou pouca profundidade, que constituíam obstáculos; era ali e não alhures que começava o movimento impetuoso e irregular das águas que cessava um pouco além do banco quando o canal se tornava de novo profundo ou se alargava consideravelmente. La Condamine – Viagem ao Amazonas, 1735-1745, SP, Edusp/Editora Nova Fronteira, 1992, Pag. 113.

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