sexta-feira, 31 de agosto de 2012

GRANDES HOMENS E A MAGIA


VILLA-LOBOS – Músico e regente brasileiro. Internacionalmente conhecido. Em 1943, foi laureado pela Universidade de Nova York com o título de Doutor. Honoris Causa. Em 1944, recebeu do Occidental College de Los Angeles o título de Doutor em Leis Musicais. Foi idealizador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Música. Recebeu homenagem póstuma do prefeito de Nova York, que proclamou o dia do seu nascimento (05 de março) como o dia de Villa-Lobos (1887 - 1959).
“O canto está ligado à magia da vida humana”

MARCEL PROUST – Escritor francês, nascido em Alteil, subúrbio rual de Paris. O pai de Proust era professor da Escola de Medicina de Paris e figura proeminente do corpo médico francês. Proust, entretanto, não seguiu a carreira do pai. Estudou Ciências Políticas e Direito na Sorbonne. Sua obra-prima: A La Recherche du Temps Perdu (Em Busca do Tempo Perdido), embora seja uma obra contínua (um só livro) é composta de sete volumes. Em parte ficção e em parte autobiografia, é considerada uma epopeia e um dos melhores romances do século XX. (1871 - 1922).
“O livro tem uma tal magia, talvez não haja dias mais intensamente bem vividos, na nossa infância, do que aquele que passamos com um livro predileto”

GOETHE (Johann Wolfgang) – Escritor, pintor, músico e cientista alemão. Nasceu na cidade de Frankfurt. É considerado um dos homens mais versáteis do século XVIII. Dedicou-se às pesquisas biológicas e botânicas. Foi, também, administrador do ducado de Weimar, a convite do duque daquela cidade. Em Weimar concluiu o estudo (de longos anos) a que deu o nome de Teoria das Cores. Sua obra mais conhecida é Fausto. (1749 - 1832).
“O que quer que possa fazer, comece-o. Existe algo de genialidade, força e magia na intrepidez”





SANTO AGOSTINHO – Teólogo, filósofo, escritor e bispo da Igreja Católica, nasceu em Tagaste, Tunísia.
Descendente de pai pagão e mãe cristã, experimentou, desde cedo, as contradições de seu espírito. Prevalecendo os rogos de sua mãe, converteu-se ao cristianismo. Foi místico e sábio, consagrado pela Igreja Católica com o título de “doutor da graça”. Após sua conversão, levou uma vida de santidade. Seu dia é comemorado a 28 de agosto. Sua obra-prima: Cidade de Deus. (354 – 430 d.C.).
“O homem maravilha-se com a magia das estrelas, a vastidão do mar, a altura das montanhas e se esquece de que ele próprio é uma maravilha do universo”.

ALBERT EINSTEIN - Cientista, filósofo e humanista, nascido em Ulm, no Sul da Alemanha. Considerado um dos grandes gênios do século XX. Em 1915 apresentou a revolucionária descoberta da Teoria Geral da Relatividade. Em 1921 recebeu o prêmio Nobel de Física. Escreveu vários livros sobre ciência e filosofia. Viveu em Princeton (USA), onde foi professor. (1879 - 1955).
“Uma pessoa não pode deixar de sentir reverência pelos mistérios da eternidade”

SIGNO DO SOL (*)

Poema de Luiz Jorge Ferreira
Após arrumar o Fado, as Photos, e a Música de Chico Buarque,
Na estante ao lado.
Mamãe deita para morrer.
Eu fui buscar o mar, puxando-o pela janela apodrecida da sala.
E o coloquei ao seu lado. O cheiro de peixe pregou-se em nós.

Depois de cirandar entre Ursa Maior e Plutão.
Quero dizer Av Ernestino Borges e Odilardo Silva.
Mamãe finge que um dia afogou os igarapés na poça d’água do quintal.
Onde o cheiro dos cajus embriaga o sol. E lá criou os particípios passados para que ninguém a visse soletrar S.a.u.d.a.d.e.
Havia um barulho de flores no cio.E o mês de Abril partindo a galope.

Hoje durmo nu sob o Equador
Corro anão sob o céu de Macapá.
Onde ruminar com os potros, sorri minh’alma.

Quero juntar-me aos tuiras e tuins. Um mar tolo foge pelo ontem.
Ao longe a chuva chicoteia nos telhados.
Em mim o que chicoteia eu engulo, com saliva e afim.
À noite, a noite molha minha pele negra com coisas da noite, sob a luz vesga da lua.
Ela uma tola que se acocora com Cora Coralina.
E se intimida com o Português de Pessoa.
Sabe que o mar é um punhado de água com sal.
E conta para as gaivotas que contam para minha mãe que grita.
 -A bombordo com o sol.

Amargo até o ultimo mel dou nó nos nós.
Corro para o por do sol cego como um pássaro cego em um vôo cego.
Minha mãe salga o olhar no mar simplesmente só.
Os olhos dos gatos que sobem sobre os escuros, a espiam.
Enquanto cansada, cheira o mar que eu trouxe, ainda sujo de areia.
Ela conversa com sereias, e outros, outros.
Eu sou para ela a canoa talhada em ossos que ela fala que deixou na orla das horas, lá atrás.
Fadigado por outros tantos anos tantos.
Ouço pisadas, espaçadas, do tempo, na areia de outrora.
São 18:45 e chove.
Como se fosse a única coisa tão próxima.

Réquiem... 2012, Osasco, tanto de tanto de 2008.
Sétimo Dia.
O rastro que o mar deixou espalhado atraiu as estrelas translúcidas.
E os cães abandonados.
Eu fechei as mãos com força e o sangue voltou ao coração como se de lá nunca houvesse saído.
  
(*) Publicado no Informativo da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, de São Paulo, em 28.08.2012.


NOVA SAFRA DOS RIOS (*)


(*) Poemas de jovens universitários publicados no livro homônimo pelo DCE/UFPA. Belém, 1997.

ESPELHO AGORA
Me vesti dos teus olhos e quis parecer deus
Eu dos rios insensatos
            Dos meses de estio

Outubro intenso
Mas o vento que desce chorando o golpe dos
Séculos
Não é meu
A relva multicolor não me fala palavras
E só de tua boca saem inúmeras cidades piscantes

Por ti cresci assustador
Penetrante em cada recôncavo inabitado
Horas e vozes caladas para o meu desfile

Agora mais veloz que exato
Ergo a taça em memória das coisas passageiras
Porque te vi pela segunda vez

(Yurgel Caldas)

HORA DO JANTAR
Eram as ruas sujas falantes
O sol-arquiteto das sombras
Reside e detona febres na adolescência

Eram as pedras em lenço sobre o chão
refletindo o sono dos deuses

Tocaia passeia na cheia do rosto
líquidos disparam eternos em confusas linhas

Eram mulheres que andavam nuas
sempre olhando vitrines
escolhendo abraços e olhares

ao sol-mestre das cores
desvela o perigo
em velocidade e cansaço

Queda a chuva batismo do beijo
breve incêndio de vozes

(Yurgel Caldas)

IMPRESSÕES DIGITAIS
Rasgo verbo
Mordo papel
Prefiro assim
Minha mão boba
Percorrendo todas as zonas
Do corpo da cada palavra

(Giselle Ribeiro)



MALADIE

E veio o outono
perpetuando seus dias
e meus temores.
No foco da minha lente
o pomar despido
e a luz pálida
acasalam-se.
Meu coração se inquieta
não quer mais cruzar montanhas
e vencer quimeras.
Arranco os botões
do meu colete de aço
e enlaço minha pele
nos fios do tempo
que me espera.
Sintam meu desarmamento:
da minha boca escorre poesia
sempre que meu coração
derrama dor.

(Giselle Ribeiro)



NÃO SABEM QUE LEVAS NAS COSTAS O PIANO

Bebo teu corpo Waldemar
Como quem bebe bálsamo de delírio
O ístmo
Todos hão de atravessar
Desassossegaste o tempo
No remo de tua montaria
Levas contigo eu sei o mito
O grito de espasmos
O gozo da morena embuchada
Foi o boto sinhá

Tuas mãos
Teu piano
Aeroplano
O céu aguarda tua chegada
Mas eles não sabem
Que levas na bagagem
O uirapuru o pitiú de igarapés
A samaumeira que desbancou
Pras bandas de lá
O assovio da matinta perreira
A cobra grande enrolada
No canto de tua boca
A sanha cabocla de tua gente

Não sabem que levas nas costas o piano

Há de sentar
A ao teu redor
Anjos e demônios te ouvirão
Boquiabertos

(Antônio Caxinauá Gualberto Junior)


PULMÃO

falo como se quisesse buscar das profundezas
um íntimo abutre
das almas molhadas

falo como u homem e digo de um beijo
a gloria das campanhas
contra gritos insentidos

a tua mão se aproxima
fraca e magra pelos flancos

são flores amarelas que são flores
os terrenos pisoteados

e falo ainda quando não estou aqui
na hora marcada

(Yurgel Caldas)

SOB VIRGÍLIA

 “Um caráter específico do ser
é a singularidade”
por isso me finjo anjo
moro numa rua longe,
bato asas pra quem me deseja.......
já falei pra você não se aproximar muito,
não preciso de cães de guarda,
exibo armaduras
e meu cavalo conhece meu caminho
do gosto lúdico da solidão.

(Giselle Ribeiro)


EU TE AMO E JÁ BASTA

Um “eu te amo” e já basta.
É aquele tanto de água até a margem do copo
(um sopro de transbordamento)
É o instante que se coloca entre o limiar
E o início da queda.
Essa coisa que nunca escapa da boca de gente forte
Mas que para nos – amantes – é tão corriqueira
Quando inédita a cada respiração.
E enquanto fazemos explodir infinitos átomos
Aquela gente não se contenta com a beleza do nascer do dia
E constrói bombas de nêutrons
Colhendo pela rua
Os restos dos nossos beijos.

(Yurgel Caldas)

CRÔNICAS DO INFORMATIVO GUARANY

Foto do acervo cedido por Mário Correa. 


Há 28 anos o meu amigo Mário Corrêa me convidou para escrever no informativo do Bugre do Laguinho, que então iniciava a divulgação de suas atividades esportivas e sociais e que também tinha a finalidade de angariar novos sócios para o clube. No periódico escreviam João Silva, Ana Bárbara Santos, Maurício Corrêa e Milton Filho ( presidente do Guarany nesse período), entre outros nomes. Aceitei o convite e eis aí duas crônicas que escrevi na época já falando das coisas do nosso bairro.

Eu, empinando pipa com meus netos Leonardo e Ana Clara na Praça Chico Noé, antigo campo do América.

LAGUINHO MORENO (*)
Texto de Fernando Canto

Antigamente o pessoal do Laguinho dividia seu coração em relação aos clubes de futebol do bairro. Aliás, muitas paixões emergiam e eram discutidas nas mercearias da esquina, botecos, barbearias e açougues. Porém, todos, com exceção de um ou outro, também se uniam quando um time do bairro tinha de jogar com algum clube do centro, ou principalmente do bairro do Trem. Essa doce rivalidade caracterizava o ambiente psicológico da vida social da cidade – então um pequeno núcleo que acabava ao norte no campo do América, e ao sul, no Elesbão. Era o final da década de 60.
Naquela época eram bem menores os atrativos da cidade. As pessoas iam ao Glicério Marques, ao cinema ou a fazendinha para se divertir e passear. Nos dias de semana dolentemente soava o apito das cinco horas da tarde, vindo da Olaria Territorial. Canoeiros da doca da Fortaleza contavam suas histórias e os trabalhadores caminhavam para suas casas. Aos sábados e domingos o Laguinho ficava movimentado quando a rapaziada vestia suas melhores roupas para ir às festas, na sede do Sete de Setembro, do América, dos Boêmios, ou no “Hully-Gully” do seu Pedro Dalino, para dançar boleros e as músicas do iê-iê-iê dos Beatles, além do calhambeque do Roberto Carlos. Tudo isso acontecia embaixo da parafernália de caixas dos sonoros “Caçula”, do seu Nascimento (pai do Bacabal) ou do “Vascão”, do seu Soldado (pai do Lelé).
Não obstante o ininterrupto clima de alegria que dominava as tardes e noites morenas do bairro, uma vez ou outra havia uma briga, causada pela ciumeira de algum namorado traído. Embora fazendo parte do ambiente, essas brigas sempre caracterizaram o pessoal do Laguinho, que não podiam cruzar com os “cabocos” do Igarapé das Mulheres senão “o pau comia”. Por outro lado a rapaziada do Laguinho ao ir para as festas no Igarapé sofria pesadas represálias, com sabor bem amargo. O Saci que o diga.
As tardes laguinhenses vivem no coração de qualquer adulto ou adolescente do lugar, que como eu, iniciava a estradeiragem pelas ruas do bairro, aprendendo histórias e dançando Marabaixo na casa de dona Biló. O poeta Odilardo Lima, ao cantar o nosso lugar, jamais se deixou de mencionar o GUARANY, clube onde seu irmão Abdon foi grande ponta direita, dizia ele. E o BUGRE fazia a festa da garotada quando treinava na Praça Azevedo Costa ou na Praça da Saudade.
Pela saudade ou pelo romper do sol novo nessas manhãs carentes de boas realizações, é que hoje, quando falamos de nosso chão, fica intrínseco nosso amor por ele e pelo que há de se estabelecer no futuro, na esperança do rio seguir para frente e desaguar no mar, natural e sereno.

Acabou o campo do América, acabou o Sete de setembro, acabou a escuridão da Praça Azevedo Costa. Acabou a Praça da Saudade (hoje nela está o Palácio do Setentrião), acabou-se muita coisa doce, mas ainda ficou - desafiando o tempo e conquistando novos corações (como o deste cronista) - o GUARANY, Fênix que renasce e voa cantando vitórias que hão de vir.
(*) Informativo Guarany ano I - nº 2 - fevereiro de 84
Foto disponível em www,portalamazonia.com.br 

UM DOMINGO DIFERENTE (*)
Texto de Fernando Canto
Tivemos a oportunidade de ver dia 27 de maio um dos mais bonitos aspectos da festa do Divino Espírito Santo e da Santíssima Trindade, no Laguinho e na Favela. É a procissão festiva do domingo do Mastro do Marabaixo, 34 dias após o seu início, na Páscoa.
Nossa tradição remota de séculos. Trata-se de ritual sincrético, cuja representação simbólica se baseia nos costumes do passado, onde os ancestrais escravos faziam do evento um misto de sagrado e do profano, já que não podiam praticar suas religiões africanas integralmente, nem a católica, por sofrerem um processo brusco de aculturação.
Desde aí surgiram várias características que ao longo do tempo foram se modificando e se reestruturando. Ora, à medida que uma cidade cresce ou estagna, toda a sua vida social tende a mudar, a corromper-se como fato, tanto, pelas condições históricas, como pelo “progresso” que no mínimo tende a afetar a memória e o desejo de mudança, levando ao esquecimento algumas características que jamais se recomporão. Entretanto aí está o valor da evolução, pois as características eu acabam, podem se renovar em outras, e delas surgir algo que beneficia o fato cultural como um todo.
No caso do Marabaixo, dá para notar o que ocorre com ele. Para quem acompanha a evolução da cidade, observando in loco o seu desenvolvimento, irá perceber fatores como a urbanização modificando a paisagem da cidade e consequentemente mudando o produto desse processo, que é o homem.
O Domingo do Mastro depende atualmente da floresta. Antes tudo era perto, hoje as distâncias para apanhar uma árvore para fazer o mastro são cada vez maiores. Os participantes do Marabaixo recompõem a tradição para a “Cortação do Mastro”, no sábado precedente. Só que atualmente vão buscá-lo nas matas do Curiaú ou do Coração e o deixam perto de onde ocorrerá a festa.
No domingo houve grande movimentação. O Marabaixo de rua saiu enfeitando a cidade, explodindo em alegria concomitantemente com a explosão dos foguetes e pistolas. A gengibirra foi consumida de gole em gole e as pessoas dançaram, desfraldando as bandeiras do Divino e da Santíssima com suas cores vermelha e branca e azul e branco, num colorido acentuado pelas saias longas e floridas das pretas velhas. O som das caixas retumbou e nas janelas brotaram os curiosos. Muitos passantes incontidos pela magia dos toques dos tambores acompanharam o cortejo maravilhoso do Marabaixo.
Foi um domingo diferente, o do Mastro, foi um dia de respeito, de amor, devoção e festa. Foi um dia em que fomos tangidos a preservar a tradição e acreditar que o seu não desaparecimento depende só da gente.

(*) Publicado no Informativo Guarany – ano I – nº 5 – maio de 1984

DOIS POEMAS DE VICENTE CRUZ



CISÃO AO RISO                                                                        
Perdoa, amor, minha cisão ao riso,
Há uma guerra, um motim, um holocausto à vista,
Um barulho (pasmem!) silente e inciso
Recomendando um coração autista.

Andarei, assim, em trote firme,
Como corcel a empinar a crista,
É batalha insana há quem afirme
E o amor, guerreira, um pouco dista.

Estou em guerra, em batalha dura,
Coração de pedra e face austera
De lirismo ausente, em ruptura,
Alma em frangalhos.

(11.12.11)

AO MANO ISNARD
Vem, cafajeste, dizer que partiste,
E que irás com uma calça de linho
E uma gravata italiana doada pelo
Preto Jamil, a quem direcionaste um insulto afro.

Vende-me um livro imaginário
Por um preço vil, pois lerei tua poesia
Numa madrugada vagabunda.

Tua morte, como a de Manoel Maria,
Veio por uma espiral telefônica,
Deixando-me morto numa quinta vulgar.

Como pediste, tomei uma cerveja
E lembrei teus poemas.

Chorei atônito, e como é de praxe
Para os comuns
Lembrei tuas virtudes.

Como já não podias fumar,
Baforei em lembranças
Teu português parnasiano.

Pensei em vender teus livros,
E convidar o Fernando Canto,
Para lançá-los em sua perene itinerança
Ele – sempre debochado –
Disse-me que de um parecer
Fizeste um poema.

Retruquei em gozação,
Lembrando tua origem manauara,
Que um parecer só poderia ter vindo,
De um “pareceiro” pernóstico (mais risos)
Quando partiste, deixaste o “Boto Ximango”
Desolado,
O Osvaldo sofreu, como sofrem os poetas,
Preocupados com a fata de crítica.

Ó mano Isnard,
Os teus passos cadenciados e lindeiros,
Ainda ressoam em minha mente.
Quando - Delegado – vigiavas (perdoe-me Cordeiro Gomes),
A minha falta de estática como teu servil escrivão.

Mano Isnard,
Reservarei para ti uma madrugada,
Colherei flores,
Respingarei uma birita nos transeuntes
E emprestarei do Osvaldo
O chapéu de boto,
Tua metáfora inescondível.

Até um dia, Mano Velho!

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

É BIG! É BIG! Paulo Tarso Barros

Atrasado em 1 dia, mas aqui vão meus parabéns e desejo de muitas felicidades ao escritor maranhense quase amapaense Paulo Tarso Barros. É Big!

terça-feira, 28 de agosto de 2012

DOIS POEMAS DE VINÍCIUS DE MORAES



SAI, CÂNCER (*)

Sai,Câncer
Desaparece, parte, sai do mundo
Volta à galáxia onde fermentam
Os íncubos da vida, de que és
A forma inversa. Vai, foge do mundo
Monstruosa tarântula, hediondo
Caranguejo incolor. Fétida anêmona
Carnívora! Sai, Câncer
Furbo anão de unhas sujas e roídas
Monstrengo sub-reptício, glabro homúnculo
Que empestias as brancas madrugadas
Com teu suave ma-cheiro de necrose
Enquanto largas sob as portas
Teus imundos volantes genocidas.
Sai, get-out, va-t-en, hinaus mi inhen
Tu e tua capa de matéria plástica
Tu e tuas galochas
Tu e tua gravata carcomida
E torna abjeto, ao trópico
Cujo nome roubaste. Deixa os homens em sossego
Odioso mascate; fecha o zipe
De tua gorda pasta que amontoa
Caranguejos, baratas, sapos, lesmas
Movendo-se em seu visgo, em meio a amostras
De óleos, graxas, corantes, germicidas.

(*) Extraído de “Sob o Trópico de Câncer”, poema de Vinícius de Moraes.

ÚLTIMAS HORAS (**)

Lavem bem o morto
Com bastante álcool
Depois passem creme
Depois passem talco
E esfreguem extrato
Por todo o seu corpo
Porque ele urinou-se
No último esforço

(**) Poema de Vinícius de Moraes, publicado na Folha de São Paulo em 09.12.1992