sábado, 18 de agosto de 2012

A LUCIDEZ EM LUZIA


Texto de Fernando Canto

PRÓLOGO
O texto abaixo foi escrito como prefácio do livro (A Luz em Luzia) sobre a história de Dona Luzia Lamarão que na ocasião fazia 90 anos de vida. Foi o meu saudoso amigo, o João, seu filho, que me convidou para isso, pois a obra era dele. Atendi de pronto.
Passado um tempo, o inesquecível engenheiro João Lamarão se foi para o Oriente Eterno e continua de lá fazendo o preito de gratidão a sua matriarca. Mas Luzia ainda trabalha em casa, e ontem recebeu novamente o carinho de seus familiares nas comemorações dos seus 94 anos.
Ainda hoje Sônia e eu fizemos uma visita a ela. E lá encontramos com seus filhos Domingos, Lu, Louse e  Djalma, além de alguns netos.
Por isso reproduzo aqui este prefácio de um trabalho praticamente inédito, pois àquela altura o João Lamarão mandou imprimir poucos exemplares de um trabalho digno de circular mais, para mostrar a saga e a coragem de Luzia, essa mulher admirável para o seu tempo. Parabéns Dona Luzia.
           
As histórias familiares sempre deixaram em mim um certo fascínio. Elas trazem à tona personagens reais com suas fraquezas e coragens; carregam em suas malas uma imensurável poesia e o clamor de inúmeros romances, como a solicitar que sejam escritos para se tornarem conhecidos e valorizados. Também trazem a presença de heróis e a ousadia dos vencedores. Não se trata apenas da junção de pequenos casos episódicos, mas de uma espécie de prestação de contas de vidas que realizaram o que tinha que ser realizado pela vida a fora.
            Esse foi o caso de Dona Luzia. Sua história tão bem escrita pelo João Lamarão mostra as dificuldades que as mulheres encontravam – e ainda encontram - pelos densos quadrantes da floresta amazônica em busca da sobrevivência e de luz. E sob esse saboroso título, a história de Luzia é verdadeiramente uma história de luz e de amor. Uma história amazônica de migração, de luta e de muita fé para suplantar, na cidade, o sonho de um mundo melhor no futuro, num tempo de incertezas do pós-guerra, num recém-criado Território Federal, onde tudo estava por fazer.
            E agora a família Lamarão faz uma festa para comemorar os noventa anos de Dona Luzia, a matriarca. Ela está ali contente, dizendo que nem precisava de tudo isso. Eventualmente vou até sua casa como amigo dos seus filhos e a vejo fazendo o almoço, oferecendo o café que acabou de fazer e até pegando no cabo da enxada para capinar o mato que teima em crescer no seu quintal. Sempre atenciosa e devota essa mulher vencedora de batalhas não se curva ao tempo. Passou por agruras e a todas superou como quem voa sobre as ondas do Amazonas em imensa baía. E ali está ela sob o sol equatorial, brilhante como seu nome e sua história. É lúcida, é luz, é Luzia.
       Vale a pena ler esta comovente e gloriosa biografia. Um exemplo para a valorização de nossa história recente, um exercício de resgate mnemônico. Parabéns à família Lamarão. Parabéns Dona Luzia (Macapá, Agosto de 2008).

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