quinta-feira, 29 de novembro de 2012

CRÍTICA


O INSTANTE DO BRUXO ALUMBRADO

Por Fernando Canto, escritor.

Bolero em Noite Cinza traz a emoção da dança e a virtude da luz pelas fretas das portas. São poemas ecléticos que pulverizam palavras, rebentam estruturas e reconstroem sentidos em fuga. Configura-se aqui momentos de tensão, medo, sátira anárquica, crítica social e até mesmo a pura despretensiosidade poética. São ainda trabalhos de grande generosidade estilística, pois o autor joga sua versatilidade nas entranhas do mundo através de figuras e expressões linguísticas variadas. É, sobretudo, uma forma nova de encarar o mundo e de desvirtuar a realidade que tanto sufoca. Este livro é, portanto, um instante de alumbramento.

UMA CICATRIZ INFAME NA MEMÓRIA

Por Menezes Y Moraes, poeta.

O poeta consegue penetrar no pathos da condição humana, para daí traduzi-lo em poesia marcadamente solidária, radicalmente terna. Do cotidiano mais chué ao dia mais sublime, nos fala o poeta. Quando ele retrata a sua própria alma, nos expondo sinceramente os subterrâneos de seu ser – como todo poeta digno desse nome -, é a alma do seu próximo que ele desenha, intui e sugere. A alma e o corpo (amados e sofridos) do seu próximo e a pintura da incrível existência humana são objetos poéticos deste Bolero. Aqui dança toda a existência humana. O poeta é um crítico implacável do mundo e da sociedade do seu tempo.

 O BERRO DO VELHO JOY

Por Ray Cunha, escritor.

Toda vez que em Brasília digo que sou de Macapá as pessoas prestam atenção em mim como se fosse de outro mundo. E têm razão. Macapá, que entrou na mídia nacional por causa de José Sarney, que pulou de paraquedas na cidade e foi aplaudido pela caboclada, é a capital do estado do Amapá, fronteira com o Caribe, extremo norte da costa brasileira. Portanto o resto do país ninguém sabe e nem quer saber o que se passa lá. Mas no final dos anos 60, um grupo de artistas se reunia diariamente na casa do poeta Isnard Lima Filho. Em 72, com o nome de Joy Edson, o velho Joy estreiava como poeta com Xarda Misturada. Mas tudo estava levando a breca mesmo. Ele não suportava mais a ditadura dos milicos. Quem mandava na cidade eram militares, a Polícia Federal e os filhos dos militares e dos policiais federais. Faziam o que bem entendiam. Aí o velho Joy resolveu escafeder-se daquela rotina enlouquecedora. Acabou com os costados em Brasília, onde tinha parentes e havia mais oxigênio.
Pois bem. O berro do Isnard Lima Filho era alto. Mas o velho Joy começou a berrar alto também e hoje, ao lado do pintor Olivar Cunha, que vive em Vitória, e do contista Fernado Canto, que vive em Belém, forma a trindade artística do Amapá. É um dos artistas mais importantes daquelas terras mergulhadas no torpor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por emitir sua opinião.