quinta-feira, 8 de novembro de 2012

NO TEMPO DA REVISTA “O CRUZEIRO”

Helena_araguarino_lenioUMA CIDADE DIVIDE O MUNDO (*)

“Atesto que o senhor Carlos Weik transpôs, no dia 13/08/71, a linha divisória do globo terrestre. (lat. 0º00’00’’. Long. 51º05’15’’.) Macapá 13 de agosto de 1971. (a) General Ivanhoé Martins, governador.”

O diploma é concedido a quem vai a Macapá única cidade do mundo plantada sobre a linha imaginária do equador. Os moradores da cidade – ao todo oitenta mil – podem, tranquilamente, colocar um pé no hemisfério norte e outro no hemisfério sul.

A capital do Amapá já tinha, há anos um marco comemorativo da linha imaginária, quando um navio hidrográfico da Marinha, pesquisando a área, descobriu, através de instrumentos atualizados, que a linha passava quilômetros além do ponto assinalado. O marco antigo foi abandonado e outro construído, sempre dentro de Macapá, que se orgulha de dar aos visitantes, diploma alusivo à sua situação geográfica.

Seus habitantes mantêm a esperança na vinda da TV, pois observam o crescimento das antenas parabólicas da Embratel. Alguns afirmam não se tratar de televisão, mas de telefone, o que não invalida a fé dos candidatos a telespectadores: José Maria atos, comerciante, por via das duvidas, já adquiriu um televisor, em Manaus.

Três cinemas, sem ar condicionado, mas sempre prestigiados com grandes filas e uma boate fazem a vida noturna da cidade. Há os que se divertem passeando pelo trapiche frente à praça do hotel principal.

Exportação de minério faz a vida econômica de Macapá: muitos dos habitantes trabalham na ICOMI. As obras públicas e as repartições garantem emprego aos que não são pequenos comerciantes. O alto custo de vida é explicado pela dificuldade de transportes: as estradas param em Belém, e Macapá não tem porto, a não ser o de minérios, em Santana.

A rede escolar é excelente, não havendo falta de vagas para os cursos primário e médio. Para curso superior, os pais mandam os filhos a Manaus ou Belém.

O povo de Macapá prefere a bicicleta a qualquer outro meio de transporte. Sobre duas rodas os habitante atravessam a linha imaginaria que divide o globo.

(*) Reportagem de Aldo Almeida, Revista O Cruzeiro, outubro de 1971.

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