sábado, 10 de novembro de 2012

O GURIJUBICÍDIO

Leia abaixo o texto do saudoso jornalista oiapoquense Hélio Pennafort, publicado no dia 21 de dezembro de 1991, quando atuava em “A Província do Pará”, no caderno que escrevia sobre o Amapá aos domingos. Infelizmente, quase 21 anos depois, o cenário da vigilância costeira e das fronteiras continua o mesmo. Apenas os atores mudaram.

COSTA GERENCIADA

Por Hélio Pennafort

Que ninguém se atreva a penetrar nas águas territoriais da Guiana Francesa – a possessão europeia colada ao Estado do Amapá -, a fim de capturar peixes ou tramalhar camarão. Imediatamente a guarda costeira Gendarmerie é acionada e o barco é preso com a tripulação e tudo. A fiscalização é tão rigorosa na costa guianense que os brasileiros que viajam clandestinamente a Cayenne, em busca de trabalho, esperam a chegada da noite para a etapa MontgneBrurelle/Maroni justamente o trecho mais policiado. Evitam assim o contato visual com os helicópteros e a consequente detenção pelas lanchas-patrulha. O guianense defende com unhas e dentes o seu banco camaroneiro e a variedade enorme de peixes que existem no seu litoral.

Também há bancos camaroneiros e cardumes das mais variadas espécies nas águas que banham a costa amapaense. E muito, só que a fiscalização e o mecanismo de defesa atuam de maneira um tanto precária, oportunizando a presença quase que constante de embarcações estrangeiras, muitas das quais operando clandestinamente, inclusive oriundas da própria Guiana Francesa. Com os meios em que dispõe a Marinha de Guerra não pode efetuar um patrulhamento ostensivo no litoral amapaense. Mesmo assim, quando os corvetas aparecem há um recuo temporário por parte dos pescadores clandestinos. Mas depois voltam e abusam, causando inclusive mortandade de peixes. Não faz muito tempo houve um gurijubicídio no trecho Cabo Norte/Cabo Orange, causado, segundo se informou na ocasião, por um tipo de bomba de profundidade lançada por barco de pesca japonês para desalojar os camarões que procuram as profundezas em determinada época do ano. Tem ainda o desperdício da chamada fauna acompanhante, que são toneladas de peixes mortos devolvidos ao mar após a separação das espécies mais nobres.

Inúmeras vezes percorri de barco o litoral (Macapá/Oiapoque) em missão jornalística. E certa ocasião, quando fazia o documentário “As Favelas do Atlântico”, vi de perto os amontoados de peixe apodrecendo em diversos pontos da costa, e posso dizer para vocês que o espetáculo não é dos mais agradáveis. Acredito que nenhum outro país permite coisa parecida em suas águas.

Mas isto um dia pode acabar. Ou pelo menos melhorar. Vários sinais já foram dados de que as atenções começam a se voltar também para a Costa do Norte. Um deles é o Programa de Gerenciamento Costeiro que vai ser operacionalizado no Amapá, envolvendo vários órgãos da administração federal e do governo estadual. Segundo o Coordenador Estadual do Meio Ambiente, professor Antônio Carlos Farias, serão colocados em prática a curto prazo muitos planos de proteção e aproveitamento racional dos recursos do mar. A iniciativa é boa e deve favorecer um elenco de atividades ao longo do litoral, motivando inclusive o surgimento de pequenas comunidades à beira mar. Trata-se de um entreposto de pesca implantado num dos maiores pontos de concentração de gurijuba, um tipo de peixe dos mais saborosos e rentáveis. Fora Sucuriju, existem os povoados do Taperebá, Cocal, Montanha, Goiabal, Nazaré e uma ou outra feitoria de pescadores, armadas em pontas como a do Maiacaré, a do Ninhal e a da Cova da Onça: Tem ainda uma estação ecológica e vários moradores na Ilha do Maracá: todos esses lugares podem servir de bases operacionais para o programa.

Vamos acompanhar essa ideia do gerenciamento costeiro do Amapá e torcer para que ela dê certo.

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