sábado, 14 de setembro de 2013

URDIDURA (ENIGMA AMAPÁ)



Para Alba Carvalho, com carinho, nesta aventura epistemológica no meio do mundo, este estudo de sociopoesia reflexiva.

            I

Des/vendar tua terra, teus sonhos, Amapá
Des/vendar teus olhos, teus textos não escritos
Des/velar tua alma circunscrita sobre um rio de prantos
Que se espraia para a foz e lava sortilégios no oceano

            II
Na terra o sol repuxa a sombra do arquipélago
E explode sobre o manto da tua dimensão aquática
Em festa de bailados sem fim

            III
O teu estado é o de ausente nas necessidades, Amapá
Essas que emergem quando o tempo lento das tuas tardes
Flanam no teu dorso como a vida descaindo à chuva nos barrancos
E re/velam teus segredos:
A construção de pedra ainda esmaecida na paisagem
E o ofício de viver uma inócua pedagogia da espera

            IV
Desgarrar das guelras, relatar os mistérios das entranhas
Desfibrar as teias, manusear teares
Para fabricar tecidos de ouro e aço e de cores rutilantes
Como as mãos habilidosas de Penélope
Até a volta do heroi na hora exata

            V
Quando és só tu és nada, Amapá
Nada te adianta se ao calor não refrigeres
E se ao frio não acenderes a teus filhos                                                                 
O fogo do amor e da paixão que de ti tantos esperam

            VI
Quando és só equinócio, Amapá
Parece não temeres
O jogo equidistante dos solstícios
Nem a força das vozes nos quadrantes
Onde estão os mitos, a fé e os gritos
Vindos lá do fundo da floresta
Em busca de respostas que as saciem

            VII
Só verás pulsar em ti a substância
Quando a enigmática estrutura do teu corpo
Abrir-se ao vento e à mansidão da tessitura
Espelhada ao sol do equador

            VIII
Tu só sentirás a ruptura
Ao ouvir a voz gestante das ciências
E o anseio ainda latente no clamor de homens e mulheres
Sem os receios dos silêncios obscuros
Sem o medo de arder velhas memórias
Sem a escória a deformar os teus caminhos
E os passos do teu povo em agonia

            IX
Terás, assim, a urdidura do algodão e da lã
Por aqueles que te tocam com ternura
Do meio-dia à meia-noite em tempo de contrários
Até que as sombras sejam luzes transparentes
Para que surjas radiante após a cerração

            X
Mas dobrarás, decerto, as pontas da Rosa dos Ventos
Para o coração, num círculo de luz:
Um gesto a agradecer eternamente

            XI
Verás, então, que desvendar-se é por o lume sobre a mente
É libertar-se já do que te oprime
É trazer o mar de volta para os Andes
É revolver a vida em ondas inquietas
De um novo rio que surge para sempre

 
Texto de Fernando Canto
Macapá, Campus Marco Zero do Equador, 09 de julho de 2013

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

CAMALEÕES URBANOS


Fernando Canto
Sociólogo

         Por morar próximo a mata da Infraero minha casa vive cheia de passarinhos e abelhas em busca de alimento e água. Vez por outra uns sapos dão as caras. Mas um dia desses apareceu um camaleão que ficou hospedado mais de três dias entre o jardim e um açaizeiro, vindo, talvez, por um terreno baldio atrás do meu quintal.
        O bicho parecia um dinossauro saído de um filme de Spilberg, com seu andar imponente. De repente corria rápido, fugindo ao olhar curioso dos habitantes da casa. Ficou dias no alto do açaizeiro, contemplado até pelas visitas que o admiravam sem incomodá-lo, ali, impressionantemente imóvel, olhando o tempo, aventando uma possibilidade de fugir pelo muro alto ou talvez do faro esperto dos cachorros da rua. Ao meio do quarto dia sumiu. Mas não sei se sobreviveu, pois a sua cauda de cerca de um metro e meio estava com a ponta quebrada e assim mesmo ele reagia aos que chegavam muito próximo para lhe fotografar, abanando-a com violência para se defender.

        O interessante é que veio logo à memória um “ladrão” de Marabaixo muito cantado e antigo, cujos versos dizem:

“Eu vim neste Marabaixo
             Você não me dá alimento

Eu não sou camaleão
            Que enche o papo de vento”

        A estrofe do cantador-compositor mostra logo o seu protesto contra o festeiro de alguma comunidade distante da sua, que deve ter lhe oferecido comida, bebida e todas as mordomias da festa para que ele fosse cantar, e não lhe deu o essencial na hora da fome, querendo dizer que vento não enche barriga.
        Mas quem é esse réptil que a televisão mostrou servindo de alimento a famílias flageladas na mais recente seca do Nordeste?  Quem é esse inofensivo animal, cujos ovos, chamados “ovas de camaleoa”, são tão apreciados na dieta alimentar de pessoas aqui na Amazônia? O Aurélio nos diz que se trata de um réptil lacertílio, da família dos iguanídeos. A maioria tem uma prega mento-faríngea capaz de se encher de vento, crista serrilhada no dorso, língua curta, grossa e não protrátil. É arborícola e muda de cor e também é conhecido por papa-vento, senembi, sinimbu, tijibu, etc. Por desconhecerem a sua importância para o equilíbrio ecológico das nossas florestas, caçam-no e lhes comem a carne impiedosamente. No sentido figurado é o indivíduo que assume o caráter conveniente aos seus interesses; o indivíduo que adapta sua opinião ao interesse do momento.

        E neste justo momento que vivemos um processo de transição política é que surgem, sem dúvida, bandos de camaleões políticos infiltrados nas diversas campanhas. Oportunistas, traíras (coitado do peixe!) e cães (“coitado do melhor amigo do homem”!) subservientes, sem terem nada a contribuir, a não ser com fofocas e intrigas, enchem o papo de vento para dar a impressão que tudo sabem. Entretanto querem mesmo é a atenção dos líderes políticos para poderem viabilizar seus interesses econômicos, políticos e até familiares, posto o exemplo das oligarquias decadentes do Amapá.

        Já vi esse filme. Certamente não se chamava “O Camaleão Invisível” nem era algum documentário ecológico sobre mimetismo. Era, talvez, a arte de grudar dissimuladamente em qualquer campanha política, cujos protagonistas estejam viajando na penumbra sem que disso saibam.

        Então, rendo aqui minha homenagem ao camaleão visitador do meu quintal pelo seu porte aparentemente grotesco; louvo a forma crassa em que ele veio ao mundo e pelo seu grau na escala evolutiva dos animais, que desconheço. Ora, eu não o admiro apenas pelo papel que exerce no meio da floresta. Eu o tenho na memória como um extraordinário ser que, imóvel, acompanhava o sol na sua trajetória todos os dias aqui entre os perigos da cidade, sem que soubesse que homens inescrupulosos roubam-lhe o nome e suas características naturais para se darem bem na vida.

POETA LUIZ JORGE FERREIRA


Eis aí um poema memorial do grande Luís Jorge Ferreira, exilado por vontade própria na selva de cimento de São Paulo há muitos anos. Ferreira se caracteriza por dar lubricidade ao lúdico de sua infância, por estender o que recorda a uma atualidade fulminante, o que enleva sua generosidade poética, dando a ela um halo autenticamente pessoal.

 
       APELO 1

 
       O charme de Zaide, era sair debaixo, sem haver terminado.

       Longe:- Zumbando o Marabaixo.

       Sem perder o charme,sem zunir,sem zombar,sem dar um gemido.

       Isto ela fez com o primeiro - Pai de Coló.

       Repetiu com o segundo - Pai de Ângela.

       Bisou com o terceiro - Pai de Bebeçudo.Com o pai de Álvaro, Angélica, Avulu, Fernando, Biló ,

       Zé Maria, Paulo Rodolfo, Cecílio, Quele, Padoca, Lele, e os que mudaram com ela para rua da Olaria.

       Ali colocou a lua em tigela de barro, e os gemidos e assovios, os pôs a secar.

       Os de ninar os dependurou na crista do vento, os de beber retirou suas línguas,

       e as esticou entre o Equador e o Trópico de Câncer.

       Os de chorar, amarrou suas lágrimas com Puraquês e os acendeu as vésperas de lua.

       Os de ir. Para eles, varreu a porta da casa com sopros e sussurros.

       Os porquês dos quereres e maldizeres, deixou no escuro da memória.

       Os de escrever poemas e os de se apaixonar,estes,ela fez sinal com as digitais

       sobre os olhos sempre ávidos e avulsos.

       Os de voltar, para eles, ela limpou um quarto escuro, sem limites entre o passado e o presente.

       Espalhou, Duendes,encontro banais,espanto, canções,perfumes e lembranças, situações cotidianas,

       frases levianas, psius e silêncios, botou de repentes e alguns ...te amo.

        Os de subir a Av. Ernestino Borges, para eles ela confundiu o Norte Magnético,com telas de tv,

       teclas de computador, e a cicatriz de várias pegadas sem rumo.

       Os que gastaram pouco o tempo, os prematuros, os imaturos e quase mudos, os que subiram a ladeira,

       com as mãos no bolso, os de terno escuro, os amantes do muro, os que sentavam no tronco ao lado da Igreja,

       os de queixa, os de pranto, os de reza, os de pressa, os de bulir com pica paus e percevejos, os do retrato, os escoteiros,

       os de cerveja, os do Pacoval, os do Araxá, os do Curral das Éguas, as mulheres éguas. Os de eu, e os que foram tu,

       e as que foram, e os que foram, e os que são...

 
       O charme de Zaide, era sair do poema, antes do término como um Inverno, largando chuva na vidraça,

       barulho nas telhas e pausa para mexer no quarto escuro, com os gatos de porcelana e as bailarinas de louça.

       Tudo isso na primeira estrofe.

       - Que é esta na qual estou vivo,

       Para os vivos, ela preparou um aviso.

       Para os vivos !

SEPARAÇÃO

Affonso Romano de Sant’Anna
 
Desmontar a casa
E o amor. Despregar
Os sentimentos
Das paredes e lençóis.
Recolher as cortinas
Após a tempestade das conversas.

O amor não resistiu às balas, pragas, flores
E corpos de intermeio

Empilhar livros, quadros,
Discos e remorsos.
Esperar o infernal
Juízo final do desamor.

Vizinhos se assustam de manhã
Ante os destroços junto à porta:
Pareciam se amar tanto!

Houve um tempo:
Uma casa de campo,
Fotos em Veneza,
Um tempo em que sorridente
O amor aglutinava festas e jantares.

Amou-se um certo modo de despir-se,
De pentear-se.
Amou-se um sorriso e um certo
Modo de botar a mesa. Amou-se
Um certo modo de amar.

No entanto o amor bate em retirada
Com suas roupas amassadas, trocas de insultos
Malas desesperadas, soluços embargados.

Faltou amor no amor?
Gastou-se o amor no amor?
Fartou-se o amor?

No quarto dos filhos
Outra derrota à vista:
Bonecos e brinquedos pendem
Numa colagem de afetos natimortos.

O amor ruiu e tem pressa de ir embora
Envergonhado.

Erguerá outra casa o amor?
Escolherá objetos, morará na praia?
Viajará na neve e na neblina?

Tonto, perplexo, sem rumo
Um corpo sai porta afora
Com pedaços de passado na cabeça
E um impreciso futuro.
No peito o coração pesa
Mais que uma mala de chumbo.


 

ADEMAR AMARAL – CONTISTA

Republico neste espaço o conto fantástico “A Ilha” do escritor obidense Ademar Amaral, cuja narrativa tem como lugar a cidade de Belém-Pa e adjacências. Ademar é romancista e publicou “Catalinas & Casarões”, um texto impressionante sobre a saga de sua família, embalada pela sua lúcida memória. Recentemente publicou “Sementes do Sol”, a história do cultivo da juta no Pará, primeiramente pelos japoneses e depois pelos caboclos amazônicos. É o resultado de uma longa pesquisa, aliada ao desenvolvimento ficcional que consagra o autor como um dos melhores romancistas atuais da Amazônia.

A ILHA
Ademar Amaral.
Noite chuvosa de um dia difícil de esquecer: 13 de dezembro de 1968. O mais que arbitrário Ato Institucional No. 5 acabara de ser publicado, e Belém vivia um período de alvoroço com o movimento estudantil. Os órgãos de repressão tinham fortes indícios de que a clandestina UAP-União Acadêmica Paraense programava grandes manifestações em vários pontos da cidade. Armadas até os dentes, as tropas patrulhavam as ruas como se fossem enfrentar uma guerra, atentas a tudo que pudesse denunciar algum início de agitação. Exército, Marinha, Aeronáutica e Polícia Militar estavam em alerta máxima, com especial cuidado nos lugares estratégicos onde os estudantes mais costumavam se materializar em grandes passeatas e aos gritos de “abaixo a ditadura!”. A atenção maior era para  a área codificada de “Triângulo das Bermudas”, com vértices fincados nas faculdades de Engenharia, Direito e Medicina, os focos das mais importantes lideranças acadêmicas.

Naquela mesma noite, no outro lado da cidade e sem nenhuma ligação política ou ideológica com os acontecimentos de Brasília, um fazendeiro chega à sua casa sem avisar, esgotado após longa e cansativa viagem pela Belém-Brasília. A bela mansão ficava no centro de um grande terreno, no ainda distante bairro do Souza. Apreensivo por não ter encontrado o segurança no lugar de costume, larga a caminhonete na rua deserta, desliga o alarme do portão e retira da sacola uma arma de possante calibre. Descalça as botas de vaqueiro para não fazer barulho e dirige-se ao quarto do casal, onde depara com uma cena jamais imaginada: sua linda e jovem esposa, emitindo gemidos, se contorcia na plenitude do gozo, com o próprio segurança da casa. Tomado de total descontrole, o marido não pensa duas vezes: mira certeiro e descarrega nos dois quase todo o pente de balas.

AMANTES MORREM ENGALFINHADOS, foi a destacada manchete do dia seguinte, na primeira página do mais importante periódico da capital.

Após vencer breve hesitação diante da cena sangrenta, o fazendeiro sai correndo, retoma a direção da caminhonete e larga em disparada pela cidade. Mas ao cantar os pneus na terceira esquina, ouve a sirene de uma das patrulhas da Polícia Militar, alertada por moradores atordoados pelos disparos na calada da noite. Começa, então, uma das mais espetaculares perseguições de carro pelos arredores e ruas da mangueirosa Santa Maria de Belém do Grão Pará. O instinto de sobrevivência do marido assassino era alcançar a Tito Franco (atual Almirante Barroso), para tentar fugir pela BR-316, no rumo do Maranhão, ou quebrar em Santa Maria, a porta de entrada da Belém-Brasília, onde poderia facilmente se acoitar na fazenda de um dos seus amigos de Paragominas. Teve que mudar de plano porque o rádio da polícia já comunicara um alerta geral em toda a cidade, só lhe restando a opção de pegar a Augusto Montenegro para sumir em alguma viela de Icoaraci ou, quem sabe, atravessar o furo e se embrenhar na mata densa do Outeiro. Achou que essa era a rota menos pior e resolveu arriscar.

- Era uma vadia!, Uma vadia! – gritou pra ninguém.

 O som estridente das sirenes e o ajuntamento de outros carros fizeram sacudir aquela noite, depois de um dia muito tenso e de notícias desencontradas de todo o país. A polícia vinha-que-vinha, e o homem a toda velocidade, na direção da Vila Sorriso. Quando atinge a esquina do antigo Clube Pinheirense, usou da única alternativa que lhe restava e dobrou abruptamente à esquerda. Acelera de volta a Belém, coberto pelo túnel arborizado de mangueiras, até desembocar na orla sinuosa da rodovia Arthur Bernardes. A caminhonete voa e se aproxima da entrada da Base Aérea, onde haviam montado uma barreira para detê-lo. Passou como um bólido pela guarda da aeronáutica, lançando à distância os cavaletes, mas teve o veículo atingido por três tiros sem nenhum dano sério que o fizesse parar ou mudar sua intenção de fuga. Atravessou o resto da Base Aérea, a vila naval e terminou confundindo por um tempo os perseguidores ao entrar pelas brenhas e passagens da Sacramenta. Segue em frente favorecido pelo carro traçado e quase capota ao fazer uma curva mais ousada na direção do porto. Entra na Castilho França, percebe outra barreira da polícia perto do mercado de ferro e decide cortar por uma das estreitas travessas da zona comercial. Sobe pela Campos Sales até a Manoel Barata e dobra novamente à esquerda para ganhar a Presidente Vargas, na expectativa de diminuir caminho para a São Jerônimo e chegar novamente na Tito Franco. Não havia nenhum outro plano que não fosse romper a barreira da Federal e alcançar Paragominas. Depois, como sempre, era conseguir um bom advogado e apostar na impunidade.

A chuva aumentava de modo assustador e isso reacendeu a esperança de despistar de vez a polícia, mas ele dá de cara com uma patrulha postada na esquina do Cine Palácio. Sem vacilar, dobra à esquerda e volta a acelerar com vontade, no estirão da grande avenida que dá acesso à escadinha do porto. Sitiado e num estado de estresse a mil, desmaiou com o pé fincado no acelerador, quando o carro pegou a rampa descendente ao lado da Receita Federal. Passa a mais de duzentos por hora rente à estátua de Pedro Teixeira, arrebenta a mureta da Doca e é arremessado com tudo para as águas barrentas da Baia do Guajará.

Acorda quando com o choque térmico da água lhe batendo nas canelas, mas o súbito despertar lhe injeta novo ânimo de continuar lutando pela vida. Tenta forçar o trinco da porta, mas este não cede devido à pressão externa que força a água penetrar com rapidez pelas frestas inferiores do carro. Aí, nesse momento, tem uma idéia que só vem de um ser humano em estado de total desespero: estoura o parabrisa com a última bala que sobrou no pente da sua arma. Mil pequenos estilhaços de vidro atingem seu corpo, mas, finalmente, ele encontra o vão que precisava para escapulir na escuridão gelada. A chuva virou um forte temporal, o bastante para impedir o facho da lanterna da polícia e para ele se deixar arrastar, de bubuia, na forte correnteza da maré vazante.

Naquela hora toda a cidade já sintonizava a Rádio Marajoara. Chamadas infalíveis do famoso repórter Paulo Ronaldo, “em edições sempre exclusivas e extraordinárias da Patrulha da Cidade”, davam alarde do acontecido. A mensagem era para que a população se mantivesse calma e em casa, porque a polícia caçava um perigoso comunista pelas ruas de Belém. Enquanto isso, o homem procurava se orientar na escuridão, mas era cada vez mais empurrado para fora do porto e impossibilitado de voltar. A canseira era tanta que estava quase a ponto de um novo e fatal desmaio, quando, milagrosamente, enxerga luzes de um barquinho peixeiro vindo em sua direção. Arrisca umas braçadas, o suficiente para segurar numa ponta de corda que havia se desprendido da embarcação e vinha de rasto à maneira de uma longa serpente das águas. A bendita seria sua salvação ou sua morte. Agarrou-se nela com mais fervor que um pagador de promessas do Círio, e foi sendo puxado. Diacho que ao  invés de atracar no emaranhado de mastros do Ver-o-Peso, o pequeno barco deu uma guinada de quarenta e cinco graus e penetrou num dos inúmeras furos do arquipélago que protege a frente de Belém.

A mão ardia e ele estava quase a ponto de desistir, não tivesse percebido a luz da lamparina que piscava acanhada, vinda de uma humilde barraca. Soltou-se e nadou até a vegetação que margeava o canal. Açodado, com o corpo dolorido e salpicado de ferimentos, conseguiu pisar em terra firme com extremo sacrifício, depois de quase ser tragado pela lama gulosa deixada pela maré. Tirou a camisa para enxugar as feridas e caminhou trôpego até próximo à barraca, onde se deitou para descansar sob a proteção de uma touceira de açaí. Próspero grileiro de terras, com mil capangas sempre à mão para qualquer serviço, ali era apenas um assassino fugidio feito animal acuado. Ele e aquela luz chamativa da lamparina, mais luminosa de esperança que as mil luzes que ele havia deixado para trás. O resto, era o estrondo infernal da chuva, a mata fechada e uma sufocante angústia a separá-lo de suas outras vidas. Imaginou que os da barraca haviam saído para pescar, ou fosse pousada de algum apanhador de açaí que tinha ido, com a família vender o produto no Ver-o-Peso.

Ficou um tempão encoberto pela vegetação, batido pelo açoite do vento e pelo frio do início da madrugada que começava lhe moer os ossos. Sem outra ideia melhor, com a voz capenga arriscou um desconfiado “oi de casa!”.

-Oi de casa! – tornou a falar.

Uma voz soturna responde do quarto e uma figura de mulher assoma à porta:

-Quem está aí ? Se é do bem pode chegar.

Ele surge molambento por detrás da toiça e caminha com cuidado.

-Aproxime, seu moço, o que lhe traz?

-Meu barco... o temporal me afundou ali na baía.

Afora a rede espaçosa, num dos cantos da pousada havia uma tosca mesinha com alguns santos de devoção, quase desaparecidos num emaranhado de fitas de promessas, um radinho de pilha ao lado da rede e a velha lamparina a querosene.

-Olhe, puxe aquele mocho, sente.

De aparência jovial, brincos baratos e cabelos sem trato caídos até a cintura, a mulher aproxima a lamparina e percebe os cortes sem conta provocados pelos cacos de vidro que voaram do parabrisa.

-Valha-me Deus! O senhor está sangrando... – e roçou os lábios carnudos enquanto seus olhos emitiam um misterioso brilho amarelado.

-Que foi? – perguntou o homem - tá sentindo alguma coisa? Tá de paquete?

-É o sangue, sabe, fico transtornada. Vá, deite na minha rede, é só o tempinho de preparar um chá.

Minutos depois o fugitivo toma o chá e logo cai em sono profundo. Acordou com o dia clareando e levou o maior susto ao abrir os olhos. A mulher estava quieta, sentada de cócoras e firme nele com aqueles olhos de intenso brilho amarelado. Fez esforço para levantar e as pernas ficaram presas, insensíveis como as de um paraplégico.

-Dormiu bem?

-E a senhora?

-Andei na mata, fui arranjar comida.

-Tem alguma coisa aí?

-Que nada, nem ao menos uma paca, tô quase uma semana no açaí com farinha.

Com passos felinos, ela buscou a lamparina pra ilharga da rede. A claridade, contra a roupa transparente, produziu o milagre de sobressair seu corpo bem talhado de prodigiosas pernas e ancas, contaminando a barraca com um perfume inebriante de flores silvestres.

-Então, foi o senhor?

-Eu? Que tem eu?

-O tal comunista que matou a mulher?

-Não sou comunista. Quem disse isso?

-Escutei na rádio, tão dizendo que o senhor morreu dentro da Baía.

-Melhor assim, eu estou mesmo meio morto.

-Meio morto? Morto e meio...

Ele levou um susto, a vontade era fugir, se mandar dali, cadê as pernas? Algum feitiço? O chá tinha lhe paralisado as forças e o poder de ação.

-Deixe eu ir, minha mulher era uma vagabunda...

- E precisava matar?

-Sei lá, mas esse negócio de comunista... Ah, não, isso não. Dizem que eles comem criancinhas.

Foi que o misterioso brilho amarelado dos olhos da mulher ficou intenso como duas bolas de fogo, e ela começou a se contorcer numa espécie de transe. Sentou-se à beira da rede, levou as mãos nas feridas e as esfregou com vontade, sem que o homem sentisse um pingo de dor. O sangue volta a brotar e ela avança sedenta para lamber os cortes. Estranhamente há um grande alívio ao ser tocado por aquela saliva anestésica, tão mágica como a dos morcegos hematófagos que tanto perseguiam seu rebanho. Ao mesmo tempo em que se esvaía, veio, repentinamente, uma forte e incontrolável ereção como nunca havia experimentado na vida. Ela se afasta um pouco, deixa cair o vestido de chita e exibe a maravilhosa nudez. O homem continua paralisado, mas logo sente um mar de prazer quando ela monta e cavalga sobre ele.

Com volúpia de fêmea no cio, acelera o ritmo e emite fortes rugidos, sem parar o agito frenético de continuar lambendo o jorro do sangue que já lambuzava o pano da rede. Não saciada, passou a mordê-lo com voracidade e abrir sua carne com unhas afiadas que mais pareciam garras de um bicho. Veio uma dentada mais violenta que lhe atingiu a jugular, e a sensação imediata de entrar num túnel escuro e sem saída. O mesmo que Dalcídio Jurandir descreve como “o escuro crescendo, crescendo até o limite em que tememos encontrar-nos unicamente conosco”, e que seu cérebro pressentiu menos de um milésimo de segundo antes da traqueia ser estraçalhada por poderosos caninos, num arrebatamento indescritível de orgasmo supremo. Fugaz e derradeiro instante de lucidez aquele, o bastante para fantasiar sobre a ilha das mulheres onças, sobre a lenda que corre séculos a respeito desse matagal fechado que demarca a orla da Baía do Guajará. Ilha das Onças, refúgio derradeiro da sua mente antes do desconhecido e da total ausência das preocupações e do sofrimento.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

A VOLTA DO BLOG CANTO DA AMAZÔNIA

            Depois de alguns dias realizando outras prioridades (das muitas que elegemos no decorrer dos acontecimentos particulares e de trabalho), estamos de volta com o Blog Canto da Amazônia, agora novamente com informações sobre a nossa vida cotidiana de Macapá. Pedimos desculpas aos nossos queridos leitores que nos acessam para se atualizar. Faremos o possível para continuar dando conta desse veículo que ainda tem muito a viajar por aí. Abs a todos.

DINHEIRO PERDIDO

Texto de Fernando Canto

 Um dia desses, quando eu passava na Avenida Santos Dumont vi um homem idoso com dificuldades para andar. Ele se apoiava em uma bengala esperando o ônibus que já se aproximava do ponto. Notei que caíra um papel do seu bolso. Pela cor parecia uma nota de vinte reais dobrada. Tentei avisá-lo antes que ele entrasse no ônibus, mas os vidros do meu carro estavam fechados, o sinal estava vermelho e havia uma grande tensão no trânsito, devido o horário. Acompanhei pelo retrovisor sua dificuldade para entrar no coletivo, e ninguém, nem sequer o ciclista que esperava para atravessar a rua, ali próximo, percebera o que eu havia visto. O sinal abriu e eu fiquei angustiado. Pensei: alguém terá a sorte de achar esse dinheiro por causa do azar do homem velho, que talvez só tivesse aquele dinheiro para almoçar ou para comprar remédio. Tive a ideia de retornar, “dando o balão” até o ponto, mas desisti em favor da minha pressa e por deduzir que àquela hora alguém já teria achado a cédula. E depois, o que eu faria com ela se a encontrasse? Como devolveria? A quem?

Muita gente já achou dinheiro na rua, pois muitos obviamente também já perderam. Um bolso furado, uma troca de objetos, esquecimento e tantas outras formas de perder já aborreceram milhares do mesmo jeito que fizeram o sorriso de outros. Para os que perdem só resta se lamentar, porque dificilmente o achador vai entregar o que achou a quem não sabe que perdeu. Para os que acham, resta dizer que a sorte lhes sorriu e gastar o dinheiro na primeira oportunidade. Claro que há casos de muito dinheiro achado, carteiras porta-cédulas recheadas que foram devolvidos por pessoas honestas na polícia ou diretamente a seus verdadeiros donos. Alguns achadores ganham notoriedade pelo papel cumprido como cidadãos, outros são obrigados a devolver o que acharam pressionados pela família ou por grupos ao qual pertencem. Mesmo assim são criticados por aqueles que sempre vão dizer que o achador que devolve é um “otário”, um “babaca”, uma “besta”, além de outras expressões que tentam por em dúvida o dever ético do cidadão, principalmente pelos exemplos corporativos de impunidade que a toda hora testemunhamos no Brasil.

Claro que ainda convém falar, neste momento, sobre os conceitos que rondam as cabeças da juventude brasileira, dos políticos e da população em geral que acompanhou ou não, nas ruas das principais cidades do país, os protestos indignados. Esses fatos foram amplamente debatidos, mas não exauridos, porque ainda falta muita pressão popular e mudanças oriundas dela. Lógico que não podemos nos apartar dos acontecimentos nem esquecer que votamos nos legisladores e governantes.                                   

A vigilância democrática não é um mero contrato de prestação de serviço terceirizado, que acaba num prazo determinado. Mesmo que o tempo passe é necessário orientar sistematicamente as novas gerações para que todos tenham seus direitos constitucionais garantidos. Se o Brasil desperta, certamente desvendará as incertezas do horizonte e procurará, pela insistência dos seus habitantes, aproximá-lo da realidade, com olhos mais argutos e mãos mais experientes, para evitar a corrupção que assola o país e deixa um grande contingente populacional sob a miséria inclemente.

Olhando o Brasil vejo que a gente quase nada faz para evitar que ele sofra prejuízo. Na verdade, ainda que não queiramos, deixamos que os oportunistas de plantão se aproveitem das coisas que não damos valor e os chamamos de sortudos e inteligentes. E quem garante que os que chamam os outros de “babacas” porque devolvem o “dinheiro achado” vão mudar seus conceitos sobre ética e moral? Talvez seja por isso que não conseguimos matar a fome de milhões de irmãozinhos brasileiros nem suprir a todos com remédios e serviços básicos de educação e saúde. Parece que nos apoiamos em bengalas, perdendo dinheiro, quando pegamos o ônibus da história que até agora ainda é visto pelo retrovisor.

MÁSCARAS DE MAZAGÃO VELHO (*)

Foto: Juvenal Canto

Texto de Fernando Canto (Uma velha homenagem à Festa de São Tiago de Mazagão Velho)

             Há alguns anos ministrei palestra para uma turma de Sociologia do Ceap sobre “Cultura e Poder”, enfocando aspectos da Festa de São Tiago de Mazagão Velho (cavalhada que relembra a lenda desse santo na guerra entre Mouros e Cristãos na África) a convite do professor Luís Alberto Guedes. Nesse dia levei uma caraça utilizada pelos “Máscaras” e pedi aos alunos que a experimentassem em seus rostos. As reações foram as mais diversas e a discussão bem participativa. Entretanto, se por trás da máscara há um mundo de significados, pela frente pode representar a face divina, a face do sol. Ela exterioriza às vezes tendências demoníacas (Teatro de Bali, máscaras carnavalescas), manifesta o aspecto satânico. Ás vezes não esconde, mas revela tendências inferiores que é preciso por a correr, porque não se utiliza uma máscara impunemente. Ela é um objeto de cerimônias rituais, como por exemplo, as máscaras funerárias, que são arquétipos imutáveis nas quais a morte se reintegra. Na China ela se destina a fixar a alma errante. Ela também preenche a função de agente regulador da circulação das energias espirituais espalhadas pelo mundo e visa controlar e dominar o mundo invisível.
            Na Festa de São Tiago ela é usada no “Baile de Máscaras” que ocorre no dia 24 de julho, e é um dos aspectos ritualísticos mais importantes, pois simboliza uma cena de regozijo à vitória que os mouros julgavam ter obtido sobre os cristãos O baile ocorre após terem oferecido comida envenenada aos cristãos, visando dar oportunidade aos que quisessem passar para seu lado. É um baile de homens onde todos estão fantasiados, mas às mulheres e crianças é proibida a participação. Eles dançam no sentido inverso ao do relógio até ao amanhecer. Ao meio-dia um personagem mascarado chamado “Bobo Velho” passa três vezes no território cristão e é apedrejado pela assistência, pois se trata de um espião mouro tentando obter informações. Na cena do “Rapto das Criancinhas Cristãs”, os “Máscaras”, dezenas de atores populares, surgem fantasiados, assustando e arrebatando olhares de medo das crianças que os assistem. 

           A máscara parece ser uma transferência de energia que tem o sentido de mutação e que transcende o drama. Já o “Baile” é uma festa dentro da festa. É uma cena de um drama em que paradoxalmente ocorre a oportunidade de se desregrar (pela ingestão do álcool). Mas é quando se subverte a realidade constituída, pois a organização social do drama tem seus apelos e sanções: se há notícia de uma outra festa na vila, os “Máscaras” vão até lá e acabam com ela. Fazem respeitar as normas da tradição e tecem críticas à realidade através de um grande boneco mascarado chamado “Judas”, que todo ano muda de nome, conforme o momento histórico e a decisão dos que o confeccionaram.
  
            O “Baile de Máscaras” é uma forma de representação do potencial subversivo das festas, não só pela crítica, mas pelo dançar constante na direção inversa ao do ponteiro do relógio, tratando-se de um embate contínuo com o tempo, quando os brincantes giram e vão se espiralando, afastando o tempo linear e vivendo a dimensão da memória, num tempo mítico, onde os acontecimentos heroicos se repetem pelos rituais.    
            Culturalmente as máscaras de Mazagão Velho podem ser vistas como um aspecto místico da festa porque traduzem o tempo, a memória e o ritual que organiza a memória, a história e a sobrevivência da sociedade. Assim a cultura da festa se efetiva porque suas crenças, gestos e valores são oriundos de um processo de criação de homens e mulheres e que são partilhados por todos, por meio de juízos de valor e símbolos.

            A utilização da máscara na Festa de São Tiago é de disfarce, de aparência e de jogo estratégico. E para entender melhor esse processo nada como pôr no rosto uma caraça, pois assim cada um assumirá também o papel que subverte e mete medo, e que também diverte, mas, sobretudo, que une e corporifica os valores culturais daquela sociedade.

(*) Do livro “Adoradores do Sol

Zunidor

Nada vem de graça/ Nem o pão nem a cachaça” (Zeca Baleiro)

 

PROPAGANDA ENGANOSA - Ainda fico pasmo com essas propagandas que passam na TV amapaense. O shopping center que vai inaugurar no dia 30 mostra que os futuros frequentadores serão só brancos, ricos e felizes. Pô, num Estado em que o percentual de negros e pardos chega a mais da metade da população... E aí, UNA, IMENA, Centro de Cultura Negra, Associações Quilombolas, Movimento Hip Hop, etc...???
OUT-DOOR – Enquanto isso os monstrengos de propaganda vivem a enfear a cidade nas estradas, nas vias principais e secundárias e em prédios públicos e particulares. Nos estados mais ricos e mais avançados nas suas gestões públicas esse tipo de poluição visual já foi banido há muito tempo. Tudo em nome da beleza das cidades. Mas por aqui em Macapá...
 
MAUS MACAPAENSES – Munícipes, se é que podemos chamá-los assim, continuam depositando porcarias nas lixeiras viciadas do Buritizal, próximo ao tal terreno do Zelito, onde deverão construir casas populares. O lado norte do estádio Milton Corrêa também é depósito de ossadas e carcaças de animais, vindos de açougues e matadouros clandestinos. Antes depositavam no lado oeste, que agora está interditado para carros. Olha aí, PMM, a fiscalização com aplicações de sanções bem pesadas para esses maus macapaenses.
 
PNEUS VELHOS – Começou de novo nas praças e logradouros a proliferação de uma “arte” de reciclagem de pneus velhos. Em nome da sustentabilidade e do meio ambiente fazem umas coisas de tão mau gosto que elas passam a ser “soluções ambientais” e “verdades estéticas” de grande criatividade.
 
ESPIGÕES – Da minha janela vejo crescerem os edifícios da nova Macapá. Há apenas quatro anos os prédios eram todos baixinhos e lineares. Um dia só vou ver o rio Amazonas se habitar ou passar pela orla.

DE VOLTA PRO SEU ACOCHEGO – Dominguinhos se foi. Quem será seu herdeiro musical agora? Instrumentista de primeira, assim como Sivuca, Hermeto Pascoal e o próprio Luiz Gongaza, o sanfoneiro pernambucano cumpriu sua missão musical com grande competência neste Brasil de diversidades rítmicas. Requiestat in pace.

ARTES VISUAIS – Estreia no dia 22 de agosto o programa de artes visuais a ser apresentado pelo professor da UNIFAP Rostan Martins e pelo jornalista Osvaldo Simões Filho na Rádio Universitária FM, 96,9. Rostan, que é mestre e doutor em Semiótica pela PUC-SP, objetiva fazer a diferença, iniciando logo pelo dia do Folclore.
JORNALISTAS – Transcorreu sem estresse a eleição para a escolha dos representantes do Amapá no Sindicato Nacional dos Jornalistas – SINDJOR. Dos 46 jornalistas aptos a votar, somente 22 compareceram às urnas. O resultado foi: 12 votos para Wolney Oliveira e 10 para Alcinéa Cavalcante. A ausência dos jornalistas prova a falta de compromisso da categoria para com ela mesma.

DESFILES ESCOLARES – Já começaram os preparativos das bandas marciais e musicais das escolas públicas da capital para os desfiles escolares de setembro. A tradição das bandas escolares remonta desde o tempo da Banda do Mestre Oscar que acompanhava os estudantes (na época, só masculinos) do Ginásio de Macapá, hoje chamado de Escola Estadual Antônio Pontes. Nesse tempo a frase rítmica dos tambores tinha até letra. Lembra, Tadeu Pelaes?

INDERÊ!

quarta-feira, 26 de junho de 2013

MONITORAMENTO INDEPENDENTE VÊ AUMENTO DE DESMATE NA AMAZÔNIA

Instituto Imazon detecta subida do corte raso de quase 90% nos últimos dez meses na região

 GIOVANA GIRARDI (o Estadão)

 Um levantamento independente do desmatamento da Amazônia aponta uma inversão da tendência de queda da perda florestal que vem se observando nos últimos anos. Em maio, o sistema de monitoramento de imagens de satélite SAD, do instituto de pesquisa Imazon, detectou 84 quilômetros quadrados de desmatamento na Amazônia Legal. Um aumento de 97% em relação a maio do ano passado, que registrou 42,5 km². Considerando o acumulado de agosto a maio, o desmatamento totalizou 1.654 km², 89% superior ao mesmo período do ano anterior, que somou 873 km².

Se esse ritmo se mantiver nos meses de junho e julho, tradicionalmente os de maior avanço do corte raso, por ser período de seca, o desmatamento total pode passar de 6 mil km², estima Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon. Segundo ele, esses dois meses costumam representar 30% do total. “Ao menos que nesses meses o desmate seja excepcionalmente baixo, vai ocorrer um aumento expressivo”, alerta.

A avaliação, apesar de obtida a partir da análise das mesmas imagens de satélite usadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), não é considerada pelo governo. São os dados do Inpe que compõem o cenário oficial de desmatamento. No início do mês, por exemplo, o órgão apontou que o desmatamento de agosto de 2011 a julho de 2012 (meses que marcam o início e o fim do calendário de monitoramento) foi o menor da história do monitoramento – caiu 29% em relação ao período anterior, chegando a 4.571 km².

O próprio Inpe, porém, tem mostrado algumas mudanças de lá para cá.  De agosto do ano passado a fevereiro deste ano o órgão informou que o desmatamento cresceu 26,6% (na comparação com o intervalo ago/2011 a fev/2012). O anúncio seguinte, sobre o bimestre março e abril deste ano, trouxe queda de 66%, sempre comparando com o mesmo período do ano anterior. Ainda não foram divulgados os dados de maio.

Fatores como nuvens impedindo a visualização (bastante comuns no período de chuvas, que vai até março) e a forma de análise das imagens, que difere entre os dois institutos, não raro resulta em diferenças entre os números obtidos. Mas, em geral, eles batem em relação à tendência sobre o que está acontecendo na região. O Imazon, no entanto, por atuar na região do Pará, também faz muitas parcerias em campo com o governo do Estado e com o Ibama, o que permite acompanhar de perto o que está acontecendo e também facilita a checagem de alguns dados in loco.

“Tem coisas que o SAD não detecta, mas em campo a gente vê. A região de Castelo dos Sonhos, por exemplo, estava completamente coberta de nuvens. Ninguém via nada, nem conseguia sobrevoar o local. Quando foi possível chegar lá, se encontrou um desmatamento de 6 mil hectares. Daqui para a frente, como a tendência é ter menos nuvens, vamos ter uma noção melhor do estrago”, diz Veríssimo.

Ele afirma, com base em pesquisas em campo sendo feitas pelo Imazon, que o maior gargalo no momento é o chamado desmatamento especulativo, principalmente nas regiões do oeste do Pará e sudeste do Amazonas. E que ocorre mesmo debaixo de chuva, justamente porque é mais difícil enxergar e também de a fiscalização chegar até lá.

“É gente que derruba com a expectativa de que uma hora vai conseguir regularizar a terra e vendê-la”, diz. “Praticamente, não se vê mais o desmate de quem está na cadeia produtiva e quer aumentar sua área para plantar ou pôr gado. Nesses casos, os mecanismos de comando e controle do governo têm funcionado. Mas o governo vai ter de mudar a estratégia, talvez deixar claro que essas áreas desmatadas para especulação não vão nunca ser regularizadas. Aí cria um prejuízo e pode ser que a prática estanque”, diz.

CONVITE DA CARLA NOBRE

QUERIDOS E QUERIDAS

Tenho a alegria imensa de compartilhar com todos meu aniversário
de 38 anos com o lançamento de meu mais novo livro EXAGEROS E DELICADEZAS
Espero você para tomar um gostoso mingau de milho e, claro, compartilhar dessa alegria.

DIA: 01.07.2013
HORA: 17:00
LOCAL: PRAÇA VEIGA CABRAL - no coreto

SOBRE O LIVRO: 

O Livro reune poemas curtos que venho juntando e agora compartilho.
Também traz o meu jeito de fazer sonetos, essa forma tradicional e sempre atual para falar das coisas que
queremos. E varias outras surpresas ao longo da sua leitura.
Diferente dos meus dois primeiros livros, esse traz temas variados
A editora escolhida foi a de um querido amigo, Cláudio Cardoso de Belém, a CROMOS
que demonstrou compromisso e responsabilidade com o trabalho, por isso eu recomendo.
E o livro terá também uma sessão de lançamento na OFFFLIP em Paraty agora em julho
para onde vou como escritora convidada do projeto Caravana de Escritores da Biblioteca Nacional.

 
CARLA NOBRE

ALUNOS DE COIMBRA FAZEM MARATONA A DIGITALIZAR DOCUMENTOS HISTÓRICOS

Uma equipa de alunos do Instituto Superior Miguel Torga, em Coimbra, inicia hoje às 17:00 uma maratona de 24 horas a digitalizar documentos históricos, encerrando um projeto que dura há meio ano, informou fonte da organização.

A iniciativa, intitulada “Projeto Coimbra D”, termina simbolicamente a fase de digitalização, catalogação e tratamento de milhares de documentos do Arquivo Distrital de Coimbra, que durou seis meses.

Os estudantes são finalistas da licenciatura em Comunicação Social do curso de 2010/2013 do instituto que assinala 75 anos de vida.

A disponibilização dos documentos na internet será feita ao longo dos próximos dois anos, sendo o acesso gratuito.

Para além da publicação de um blogue que vai funcionar como diretório, o “Projeto Coimbra D” marcará também presença em vários recursos das redes sociais, como o Slideshare, Facebook, Google+ e Twitter.

O projeto será dado a conhecer em conferência de imprensa marcada para as 17:00 na quinta-feira, no Instituto Superior Miguel Torga, em Coimbra.

Fonte: Noticias ao minuto


CÂMARA RETOMA DEBATE DA REFORMA POLÍTICA NO

Por Ivan Richard, da Agência Brasil 

O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), disse  hoje (25) que a Casa retomará o debate sobre a reforma política no segundo semestre. Segundo ele, deverá ser criado um grupo de trabalho para discutir sugestões da sociedade civil e do governo. Há mais de 15 anos, o Parlamento tenta fazer uma reforma política ampla.

Alves rechaçou a possibilidade de convocação de uma assembleia constituinte exclusiva para discutir a reforma política. Ontem (24), a presidenta Dilma Rousseff apesentou a proposta durante reunião com prefeitos e governadores para tratar da pauta das manifestações populares.

“Esse debate, esta Casa vai fazer, mas não quer reforma política via constituinte específica. Até porque, retardaria mais ainda uma proposta que a Casa tem o dever de decidir e debater, porque o país quer uma reforma política”, explicou Alves.

“Todas as propostas que forem apresentadas, pela presidenta, pela sociedade civil, serão bem-vindas. Faremos um grupo de trabalho para que, no segundo semestre,  uma reforma política possa ser aprovada por esta Casa”, acrescentou.

A última tentativa da Câmara de votar a reforma política foi em abril, mas o relatório apresentado pelo deputado Henrique Fontana (PT-RS) não conseguiu consenso e sequer chegou a ser discutido em plenário. Fontana, entre outros pontos, propôs o financiamento público exclusivo das campanhas eleitorais, coincidência das eleições em 2022 e fim das coligações proporcionais.