sábado, 30 de março de 2013

PASSAGEM DE UMA ALQUIMISTA

Poema de Fernando Canto

d euda_

 

 

Para Fernando Bedran

Foto extraída do blog http://eltonvaletavares.blogspot.com.br/2013/03/nosso-adeus-dona-euda.html 

“Felix qui potuit rerum cognoscere causas” (Virgílio) (*)

“Otium cum dignitate” (Cícero) (**)

 

I – Panegírico insuspeito: da morta que viajou

O Eu da Dona Euda deixou presságios no ar

Como se fosse um aziago destino posto no céu

Um voo de curto percurso bramindo as asas da dor

Talvez a voz do caminho no curso da fonte à foz

Talvez um nó desprendido da corda da existência

Talvez um trajeto oculto da noite definitiva

No tênue rio que se torce em busca de um mar de luz

II – Ritual e penitência: da aventura e desterro

Palavras clivam a matéria e um grito exorciza o mal

- Que ritos, que liturgias me trazem esses anjos loucos,

Essas estrelas caídas, sedentas de novos cosmos?

- São gestos que purificam a pena dos degredados

No ato de libação à borda dos precipícios.

III – Platônicas paixões: da intemperança dos deuses

Do útero da caverna a morte espreita silente

Por ser um caminho de almas de irreversível viagem

(-Falava o republicano nas ágoras helenistas.)

Mas arde um fogo e a esperança nas sombras que se projetam

Em busca de elevação e do libertar das correntes

Dos laços, dos elos duros aos quais chamamos paixões.

Evoca-se (de chofre) o sopro - a alma viva – o início

Uma energia circulante por dentro dos alimentos

Dos deuses desesperados, visto a falência do Olimpo.

IV – Herança de Cagliostro: da aprendiza aplicada

Onde a ambrosia – néctar imortal, bálsamo que cura?

Onde o alecrim, a hortelã e os elixires,

A Alquimia misteriosa - a erva/o aguardente/as mãos habilidosas?

Onde, onde? Insiste o vento-remoinho em sua estada no bar

- No âmbar que protege e liga

O fio da vida à Alma Universal

(- Dizem os querubins obesos nas notas de suas trombetas.)

V - Epifanias em curso: do amor e dos equinócios

Decerto, agora, não haverá mais o vazio - o abismo temerário.

E nem a angústia, mas uma luz acima acesa e envolvente

E o amor que nutre o instante e move o tempo - de passagem

Na retidão do equinócio mais perfeito da tua alma.

Macapá, 19.03.2013

__________________________________

(*) Feliz daquele que pode conhecer as causas das coisas.

(**) O descanso honrado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por emitir sua opinião.